Economia

Pedidos de recuperação judicial dobram em julho e atingem recorde histórico

Micro e pequenas empresas lideram a lista de solicitações no período

Por Assessoria 10/09/2024 11h29
Pedidos de recuperação judicial dobram em julho e atingem recorde histórico
Advogado especialista em recuperação judicial, Victor Lages - Foto: Assessoria

Os pedidos de recuperação judicial têm crescido nos últimos tempos, chegando a dobrar no mês de julho e chegar a um recorde histórico. Um total de 228 empresas registraram pedidos de recuperação judicial em julho, 29% a mais do que no mês anterior e mais do que o dobro (123,5%) dos registros de um ano atrás, segundo informações do Indicador de Falências e Recuperação Judicial da Serasa Experian.

Este é o maior número de 2024 e o mais alto registrado na série histórica, que teve início em 2005. Segundo o advogado especialista em recuperação judicial, Victor Lages, os números refletem os desafios que empresas estão enfrentando no âmbito da reorganização financeira em um cenário econômico incerto.

“O aumento dos pedidos de recuperação judicial em julho reflete diretamente o cenário econômico atual: juros altos, dificuldade de acesso ao crédito e inadimplência crescente. Nesse momento, muitas empresas, especialmente as pequenas, sentem os efeitos acumulados da falta de liquidez, experimentando a chamada "ressaca" da pandemia, na qual foram concedidos créditos, a exemplo do Pronampe. Assim, elas acabam recorrendo à recuperação judicial como uma saída estratégica para reorganizar suas finanças”, ressalta.

A realidade atual é de empresas que enfrentam desafios como a gestão de fluxo de caixa, renegociação de dívidas e o difícil acesso a crédito com juros elevados. Além disso, a inadimplência dos clientes agrava a situação financeira, exigindo um planejamento mais rigoroso e uma governança eficiente para garantir a continuidade das operações, além de ter de lidar com a variação cambial, uma vez que o real vem perdendo valor frente as moedas estrangeiras.

A persistência de altos índices de inadimplência indica que esses números devem crescer ainda mais. “Quando o caixa é comprometido por falta de pagamento dos clientes, isso gera um efeito cascata que impede a empresa de honrar suas próprias obrigações, criando a necessidade de reestruturação”, explica o advogado.

As micro e pequenas empresas também bateram número recorde de pedidos de recuperação judicial, apresentando 166 solicitações, 72,8% do total de 228 por companhias de todos os portes. Um total de 879 microempresas e empresas de pequeno porte pediram tutela do Judiciário para renegociação de dívidas, ou seja, 25% maior do que os acumulados até julho de 2022 e 2023 somados e maior que o acumulado de 2016, quando houve o maior pico de pedidos já visto no Brasil.

Esses tipos de empresas são consideradas as mais vulneráveis em tempos de crise, devido à menor capacidade financeira e acesso limitado a crédito. “Embora exista na Lei n.º 11.101/05 um plano especial para Micro e Pequenas empresas, elas vem se utilizando do procedimento comum de recuperação judicial, demonstrando que o sucesso do processo depende da gestão eficiente e de um plano de recuperação bem elaborado. Micro e pequenas empresas podem ter o mesmo sucesso que as grandes, mas precisam de um acompanhamento especializado para aumentar suas chances”, salientou Victor Lages.

Por fim, o advogado especialista em recuperação judicial, pontuou sobre o processo e para que tipo de empresas ele serve. “A recuperação judicial é uma solução viável para empresas de todos os portes que enfrentam dificuldades financeiras, desde que haja uma expectativa real de viabilidade econômica. No entanto, antes de recorrer à RJ, é importante avaliar alternativas extrajudiciais, que podem ser menos custosas e mais ágeis, a exemplo da medida cautelar de mediação com credores pontuais ou até mesmo uma recuperação extrajudicial. A RJ é indicada quando a empresa precisa de uma reestruturação profunda para se manter competitiva no mercado, em virtude de uma crise com a maioria de seus credores”, finalizou.