Economia
Parte da carne enviada à China continua em portos após 7 semanas de suspensão do comércio
Alguns importadores já pagaram pela mercadoria, mas alfândega chinesa não libera entrada. Para especialista, país asiático tem intenção de renegociar preços e estimular consumo de carne suína.
As exportações de carne bovina do Brasil para a China estão paralisadas desde o dia 4 de setembro, após dois casos atípicos de vaca louca terem sido notificados em Minas Gerais e Mato Grosso.
A suspensão atendeu a um protocolo sanitário entre os dois países e a decisão de retomada depende da China, que ainda mantém o veto.
Oficialmente, o Brasil deixou de vender carne bovina para o país asiático no dia 4 de setembro. Apesar disso, frigoríficos nacionais chegaram a embarcar o produto para o país depois desta data.
Estima-se que o Brasil tenha enviado cerca de 112 mil toneladas de carne para a China, que, ou estão a caminho, ou já chegaram no país, mas que estão paradas nos portos chineses, à espera de liberação.
"Esses primeiros lotes que chegaram lá eles [os exportadores] receberam até o restante do pagamento. Então o importador quer receber a mercadoria. Os estoques chineses estão baixos, a gente sabe que já falta mercadoria nos distribuidores", diz Lygia Pimentel, economista da Agrifatto.
"A alfândega não autorizou o despacho e recomendou que se retire essas cargas dos portos e que elas sejam realocadas ou retornem para o Brasil", acrescenta.Marcel Mendes, por exemplo, embarcou 22 contêineres de carne para a China. Ele achava que valia a data de certificação da carga e não a do embarque. Mas os chineses tinham outro entendimento.
"Só que, quando me foi dito isso, já tinha tudo sido embarcado. Então já não tinha opção do que fazer", afirma. Parte da carga já chegou e foi recusada, mas Marcel prefere manter o produto na China e aguardar.
Por outro lado, alguns exportadores estão tentando redirecionar a mercadoria para outros países asiáticos. Motivações da ChinaPara Thiago Bernardino de Carvalho, economista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a demora da China em retomar o comércio é uma tentativa de renegociar contratos a valores mais atrativos e incentivar consumo de carne suína.
"O chinês aprendeu a comer carne bovina, só que ele vem pagando, sequencialmente, nos últimos meses, cada vez mais caro pela carne bovina brasileira. A China está em um momento de renegociar preço pensando na economia local. Realmente simular a volta do consumo de carne suína", afirma. Preço da exportaçãoDiante desse cenário, o preço da carne para a exportação já caiu.
"Os números parciais de exportação de outubro já estão mostrando uma queda de 9% em dólares no preço da carne, em relação ao mês anterior, justamente porque a confusão está grande no mercado doméstico", conta César de Castro Alves, agrônomo e especialista em proteína animal.
Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil embarca, em média, 8 mil toneladas de carne bovina por dia. Com o embargo chinês, a exportação diária caiu quase pela metade (4,5 mil toneladas).
Por causa do veto à carne brasileira, o Ministério da Agricultura publicou um ofício para orientar os frigoríficos que estão com o produto estocado. O documento autoriza, por 60 dias, o estoque de produtos fabricados antes do embargo, em contêineres refrigerados, nos pátios internos dos frigoríficos.
Até então, a carne só podia ser armazenada em câmaras frias.Mais lidas
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