Economia

Com futuro incerto da previdência social, cresce busca por seguro complementar

Valores mínimos de contribuição devem se adequar à capacidade financeira

Por Texto: Evellyn Pimentel e Lucas França com Tribuna Independente 27/10/2018 13h16
Com futuro incerto da previdência social, cresce busca por seguro complementar
Reprodução - Foto: Assessoria
Seguindo à risca o conhecido dito popular “o seguro morreu de velho”, muitos alagoanos têm investido em planos de previdência complementar. O motivo? As incertezas em relação ao futuro das aposentadorias públicas no Brasil. Para segurados e especialistas, apostar em um fundo de reserva é uma boa opção em um momento de tantas inseguranças. A instabilidade econômica do país tem motivado o jornalista Guilherme Carvalho a procurar um seguro previdenciário. Segundo o jornalista, as reformas trabalhistas e previdenciárias despertam muita preocupação e são fatores importantes para serem analisados. “Eu asseguro que farei a aposentadoria privada devido à instabilidade do nosso país. Não sei como estará a economia quando estiver mais velho, tampouco a questão relativa à aposentadoria, uma vez que os governos de ‘direita’ estão trabalhando com o objetivo de retirar os direitos dos trabalhadores. Diante disso, já estou me precavendo”, afirma. Para o jornalista a perspectiva é ainda mais delicada quando se considera a situação do trabalhador de camadas mais baixas. Instabilidade econômica do país motivou o jornalista Guilherme Carvalho a procurar um seguro previdenciário (Foto:: Itawi Albuquerque / Cortesia) “Repudio com veemência tanto a reforma da previdência quanto a trabalhista, uma vez que os menos favorecidos serão atingidos, enquanto as pessoas de classe A terão o futuro garantido, mesmo diante dessa problemática”, comenta Carvalho. Guilherme, que está com 22 anos, já começou a fazer pesquisas sobre operadoras que oferecem esse tipo de seguro e os valores da contribuição. “Acredito que seja um investimento bom, pensando no futuro, uma vez que, em minha opinião, é necessário que tenhamos uma terceira idade com mais tranquilidade. Ainda estou em fase de pesquisar as melhores empresas que ofereçam esses serviços, bem como seus valores”, ressalta. Renda extra e tranquilidade são motivações Para Guilherme Carvalho, no futuro ele terá tranquilidade quando não puder mais trabalhar. “Antes de fechar contrato, pretendo conversar com especialistas no assunto. Quero ter uma previsão de como será a valorização da moeda no futuro, bem qual o melhor plano de investimento. Acredito que seja de fundamental importância as pessoas pesquisarem antes de assinar o termo de compromisso com a empresa do ramo de previdência privado, porque caso não faça um bom negócio, há a possibilidade de sair no prejuízo”, explica o jornalista. ALTERNATIVA O comerciário Ezequiel Bittencourt contratou um plano de previdência há cerca de cinco anos. Ele conta que quando fez o seguro pensou em ter uma renda extra com duas aposentadorias. Atualmente, considera que fez uma boa escolha. “Eu pensava em ter duas aposentadorias. Por isso que comecei uma coisa mais certa, para ter uma renda extra quando ficar idoso, pois se for depender de INSS, é complicado. Cada vez mais vemos pessoas que precisam, tendo seus benefícios cortados, aí precisam entrar com processo para tentar reaver sua aposentadoria. Essas novas leis que estão querendo pôr em prática vão prejudicar. Para mim essas leis só prejudicam quem realmente precisa, sabemos que tem muita desigualdade”, aponta. Apesar disso, Ezequiel acredita que poucas pessoas se atentaram para a necessidade de pensar se poderão e como poderão se aposentar. “A maioria das pessoas que eu conheço não quer [previdência privada]. Elas têm medo, têm aquela incerteza de não conseguir pagar. Eu aconselho minha esposa a fazer para ela também. Porque trabalhamos para, no fim de nossas vidas, tentar usufruir, pois a doença vem, aí precisa comprar remédio, precisa de um sossego”, avalia. Compartilhando do mesmo pensamento, a advogada Elijanny Linny optou pelo OABPrev, um seguro que surgiu do anseio da categoria em oferecer um plano de previdência complementar desenvolvido exclusivamente para atender às necessidades dos advogados. “Pago R$ 200,00 mensal + R$ 90,00 seguro. Optei em fazer porque ele me dá garantias em tudo. Ele cobre seguro de vida, auxílio-doença, etc. O seguro me dá garantias para o futuro”, explica a advogada. No caso da advogada, esse tipo de seguro foi possível com a adoção da Lei Complementar nº 109, na qual o Ministério da Previdência Social autorizou a constituição dos fundos de pensão resultantes de vínculo associativo, o que antes só era admitido em relação aos profissionais com vínculo empregatício. Esse modelo fez com que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) implantasse seu plano de previdência fechado de forma mais segura e autônoma. Proteção para quem não tem trabalho fixo A previdência complementar acaba se tornando uma segurança para quem não tem trabalho fixo ou não contribui para o INSS. É o caso da jornalista Sidinéia Tavares que recorreu ao seguro previdenciário na tentativa de garantir o futuro. De acordo com ela, como nem sempre está com emprego fixo, essa foi uma boa opção. “Era fim de 2016, eu havia acabado de sair de um emprego, consequentemente iria ficar um período sem contribuir na previdência federal, foi nesse período que minha irmã conheceu e me apresentou ao plano de previdência privada. Contratei o serviço porque é uma forma de garantia para meu futuro, visto que nem sempre estou em emprego fixo, e pago minha contas com alguns freelas”, explica a jornalista. Sem emprego fixo, a jornalista Sidinéia Tavares investiu na previdência privada para segurança a longo prazo e em eventuais ocorrências (Foto: Arquivo pessoal) Sidinéia desembolsa todos os meses R$ 50,00 e considera o valor baixo. “É descontado automaticamente da minha conta poupança. Eu fico segurada para quando não puder mais trabalhar e ele ainda cobre eventuais riscos, caso eu morra (que com fé em Deus não vai acontecer tão cedo) minha família tem o direito de resgatar esse dinheiro investido”, comenta. Para a jornalista, o plano de previdência privada é uma alternativa para quem, assim como ela, não tem um emprego fixo e quer se sentir seguro em longo prazo e em eventuais ocorrências. “Caso me arrependa de ter iniciado a previdência privada, posso resgatar o valor pago”, ressalta Tavares. A psicóloga Claudemily Queiroz aderiu a um seguro complementar há cerca de oito anos. Ela conta que na época ponderou em contribuir com o INSS, mas avaliou que uma previdência privada traria mais segurança. Claudemily Queiroz aderiu ao seguro complementar há oito anos: “Contratei porque sou autônoma e não me sinto segura somente com a do INSS” (Foto: Arquivo pessoal) “Contratei há oito anos atrás porque sou autônoma e não me sinto segura somente com a do INSS. E com a previdência privada posso pagar o valor que eu quiser, inclusive dar lances. Além de servir como aposentadoria pode ser também um investimento ao final”, diz. COM A PALAVRA, O INSS De acordo com a assessoria de comunicação em Alagoas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), não há motivos para insegurança. A orientação é continuar contribuindo, por ser uma obrigatoriedade. “A orientação do INSS é que as pessoas devem continuar contribuindo com a previdência. “Na verdade, para o órgão não existe nenhuma incerteza. Está tudo certo. Deve continuar contribuindo. Primeiro a contribuição é obrigatória. Não é um favor. Deve ser feita porque o contribuinte tem a sua remuneração para contribuir, pois já é recolhida automaticamente. Ninguém contribui porque quer, e sim porque trabalha”, explica o órgão por meio de assessoria de comunicação. Em relação a uma possível Reforma da Previdência, o Instituto reforça que não há como prever o que mudará ou se ocorrerá alguma mudança severa no modelo atual. “A gente sabe que a previdência vai existir e o que pode mudar de regra é uma condição futura e uma possível reforma que a gente nem sabe se vai acontecer, pode ocorrer, mas ainda não é um fato concreto. O fator previdenciário não dá para prever porque não sabemos o que vem aí. Agora se houver uma reforma, o fator ficará desnecessário, pois terá uma idade mínima, se é que vai vir uma reforma com os mesmos moldes do ano passado”, diz o INSS. “Há insegurança jurídica”, diz advogado O advogado e presidente da Comissão de Estudos e Atuação Previdenciária da Ordem dos Advogados do Brasil seccional Alagoas (OAB-AL), Flávio Gilberto afirma que o momento vivido pelo país e as perspectivas para o futuro criaram uma situação de insegurança jurídica. “Há uma insegurança jurídica porque todo dia é um projeto novo, você não sabe o que pode acontecer. O pessoal migra exatamente para a previdência privada pela desconfiança do que vem pela frente na previdência pública. A questão da instabilidade, hoje é uma coisa, amanhã é outra, a instabilidade jurídica é tão grande neste país... E um detalhe relevante nisso tudo é que na previdência pública você recebe um valor hoje e amanhã não há correção do poder econômico, não acompanha. Quando olha a pessoa acaba recebendo metade do que era para receber de verdade, são várias inseguranças. O Governo não corrige o poder aquisitivo como deveria, é por isso que as pessoas hoje se aposentam com um valor x e daqui a dois, três anos, perdem 20%, 30% deste valor. A previdência privada serve como outra fonte de renda para minimizar isto. É uma roleta russa”, pondera. Outro ponto importante na questão da aposentadoria pública é que a partir do ano que vem a regra que dá direito a benefício integral, sem desconto do fator previdenciário, aumentará um ponto a cada dois anos. Na prática, o cálculo que era de 85 para mulheres, sendo 30 de contribuição e 55 de idade; e 95 para homens, sendo 35 de contribuição e 60 de idade, passará para a fórmula 86/96 aumentando progressivamente. Flávio Gilberto destaca que, além dos valores e condições de pagamento, é preciso avaliar a estabilidade da seguradora ao contratar um seguro (Foto: Ascom OAB/AL) “Neste caso exige mais tempo de contribuição. À medida que vai aumentando vai exigindo mais tempo de contribuição, mais idade. O brasileiro vai precisar trabalhar mais, contribuir mais, sem saber se pode se aposentar. Se quiser um pouco de segurança na velhice acaba tendo que pagar previdência privada”, explica o advogado. O especialista faz um alerta para que, ao contratar um seguro além dos valores e condições de pagamento, seja avaliada a estabilidade da seguradora, uma vez que o valor pago pode ser resgatado muitos anos depois. “A instituição precisa ter segurança econômica para que possa se manter durante este tempo. As pessoas têm que ter cuidado, ver a situação econômica da instituição para garantir o recebimento”, ressalta. Aumenta procura por previdência privada em Alagoas O diretor do Sindicato dos Corretores de Seguros em Alagoas (Sincor-AL), Djaildo Almeida, reforça que o aumento da procura tem sido impulsionado pelas dúvidas dos trabalhadores em relação às mudanças tanto no cenário econômico quanto no social. “A questão da previdência social que no momento não traz tanta segurança no quesito futuro. Hoje as pessoas recebem, mas com essa reforma prevista, a gente não sabe, provavelmente vamos ter um pouco mais de dificuldade para receber, até porque o Brasil, a pirâmide da população tem mudado, o brasileiro está ficando mais velho e isso vai ter uma consequência futura para a gente”, destaca o corretor. Ele explica que, apesar de optar por uma previdência complementar, alguns trabalhadores não podem se isentar da contribuição ao INSS. “Com relação à escolha, se comparando com o INSS, não influencia. Porque o INSS é obrigatório e, logicamente, se você pode ter uma contribuição complementar, é lógico que é uma boa escolha”. Diretor do Sincor-AL, Djaildo Almeida destaca que é preciso ter visão ampla e considerar todas as variáveis (Foto: Sandro Lima) Almeida ressalta que as escolhas dos planos dependem de uma análise do perfil do cliente e das condições de pagamento. É preciso, segundo ele, ter uma visão ampla e considerar todas as variáveis. “Na realidade a gente tem várias opções, temos produtos a partir de R$ 100. O segurado tem que pensar que isso é um investimento a longo prazo, o cliente tem que pensar nisso. Não adianta o cliente que só pode pagar R$ 200 querer pagar R$ 500, futuramente ele poderá sentir e deixar de pagar e não queremos isso. Então o cliente juntamente com o corretor monta uma análise de acordo com o perfil, com a situação e escolhe-se o melhor produto, de acordo com as condições do cliente. É preciso analisar e ter uma visão futura dessa renda fixa que ele poderá ter”, esclarece. POUPANÇA Para o economista Rômulo Sales a previdência privada pode ser uma boa opção desde que o contratante saiba exatamente do que precisa. “Pode ser uma boa opção, a depender do plano que for escolhido. No mercado há basicamente dois tipos, o PGBL e o PVBL. O consumidor deve optar pelo que se adeque melhor ao seu perfil de tributação de imposto de renda. Contudo, deve-se ressaltar que qualquer tipo de poupança, investimento que se faça, nos dias de hoje, é sempre uma boa opção, principalmente quando o objetivo é garantir uma renda adicional no futuro, permitindo assim mais tranquilidade e qualidade de vida na terceira idade”, diz o economista. Segundo Rômulo, iniciar um planejamento antecipado é a opção mais acertada e ajuda a considerar todas as circunstâncias. Ele alerta que os interessados devem pesquisar bem e checar as empresas para evitar problemas futuros. “Quanto mais cedo iniciar um planejamento de longo prazo pensando-se na velhice, na aposentadoria, melhor. O esforço financeiro que se faz para quem está iniciando agora é muito menor do que para quem já está numa idade mais avançada. Então, o conselho para quem está começando agora é pesquisar e estudar bastante as opções de planos de previdência disponíveis no mercado e, antes de fechar qualquer tipo de negócio, consultar um profissional com isenção na negociação, que seja imparcial, evitando assim que caia em algum tipo de ‘armadilha’ financeira”, afirma Sales. Para Sales, iniciar planejamento antecipado é decisão mais acertada (Foto: Reprodução / TV Gazeta) Para ele, o aumento na procura traz benefício para ambos os lados. “Os dois lados da negociação saem ganhando. Ganha o consumidor, que conseguiu fazer um planejamento financeiro de longo prazo que, lá na frente, vai lhe proporcionar uma reserva financeira extra à oficial do INSS, e ganham também as instituições privadas, com o aumento da procura por seus produtos financeiros”, destaca. Mas o economista salienta que, considerando a renda média do alagoano, é um pouco difícil falar em poupar ou planejar. A orientação é, caso possível, realizar um “esforço maior” para garantir que lá na frente a situação seja um pouco mais favorável. “É muito difícil para um trabalhador, aqui entendido como aquele profissional que recebe um salário mínimo, isto é, uma parcela considerável da população brasileira, conseguir reservar uma parcela da sua renda mensal para um plano de previdência privada. Apesar disso, é importante que se tente, o esforço pode valer a pena. Independente de quem está começando ou está no meio da trajetória profissional, o nível da renda é o fator determinante para se economizar. É preciso primeiro que o país retome o nível de empregabilidade, crescendo assim a massa salarial aos níveis verificados do início da década de 2000. Com a renda mais elevada é possível começar a pensar em poupar”, comenta.