Economia
Eletrobras declara aos EUA custo de R$ 300 milhões com corrupção
Empresa entregou documentos a agência reguladora norte-americana
A estatal Eletrobras entregou nesta terça-feira (11) nos Estados Unidos informações financeiras de 2014 e 2015, que estavam atrasadas devido a investigações internas que apontaram irregularidades em pelo menos quatro empreendimentos da companhia, disse a elétrica em comunicado ao mercado.
Nos documentos enviados à reguladora do mercado norte-americano de ações (Sec), a estatal estimou impactos financeiros de cerca de R$ 300 milhões devido às irregularidades. Alguns contratos teriam embutido o pagamento de propinas entre 1% e 6% do seu valor, além de 10% em uma contratação específica, alvo de cartel.
A estatal também disse que a investigação independente conduzida na companhia por escritórios de advocacia e consultorias "ainda possui procedimentos adicionais a serem executados" e que "novas informações relevantes podem ser reveladas no futuro".
As informações confirmam reportagem publicada na semana passada pela Reuters, afirmando que as investigações na Eletrobras continuariam, após descobertas de irregularidades além de Angra 3 e de Belo Monte, que já foram alvo da Operação Lava Jato-- que apura um enorme esquema de corrupção entre estatais, empresas privadas e partidos políticos no Brasil.
Segundo a Eletrobras, sua investigação interna encontrou cerca de R$ 141 milhões como custo de corrupção em Angra 3, além de R$ 67 milhões na termelétrica Mauá 3 e R$ 2,6 milhões na hidrelétrica de Simplício. Outro empreendimento no qual a elétrica é sócia, cujo nome não foi aberto, teve R$ 91,5 milhões em custos com irregularidades.
A companhia, no entanto, havia feito provisões de R$ 144 milhões para esses empreendimentos que foram revertidas, abatendo parte dos custos registrados.
Segundo a Eletrobras, a investigação descobriu "cartel e propinas que teriam sido pagas por certos empreiteiros e fornecedores" contratados por subsidiárias da companhia ou empreendimentos nos quais ela era acionista minoritária.
As apurações também encontraram "propinas utilizadas para financiar pagamentos indevidos a partidos políticos, funcionários eleitos ou outros funcionários públicos", a maior parte delas atribuída a "intermediários que agiam em nome dessas empreiteiras e fornecedores".
A Eletrobras disse ainda que não foram identificados superfaturamentos após o final de 2015 e destacou que pretende no futuro pedir reparação pelos danos sofridos.
Ações suspensas
Em maio, a negociação dos papéis da Eletrobras foi suspensa na bolsa de Nova York (Nyse), depois de a estatal comunicar um dia antes que não entregaria às autoridades dos Estados Unidos relatórios financeiros obrigatórios. Além do balanço auditado, ela deveria entregar um documento chamado Form 20-F, que é obrigatório para todas as empresas estrangeiras com ações negociadas nos EUA. Esse documento padroniza as informações de mercado e deve informar todos os riscos potenciais a um negócio, entre eles, eventuais investigações de corrupção em curso. A KPMG, empresa de auditoria que tem de aprovar os documentos antes de ele ser enviado, se recusou a assinar o relatório da Eletrobrás em maio, porque ele não mensurava o dano causado à estatal por irregularidades investigadas pela Operação Lava Jato.
As apurações internas da Eletrobras tiveram início em 2015, após notícias relacionarem a usina de Angra 3 como possível alvo de propinas por investigados na Lava Jato. Os trabalhos envolveram mais de 200 profissionais dos escritórios de advocacia Hogan Lovells, WFaria e Pinheiro Neto, além da consultoria em riscos e investigação Kroll e das auditorias KPMG e PwC.
Dívida
A dívida bruta da Eletrobras atingiu R$ 48,2 bilhões no final de 2015, segundo dados da Economatica. A estatal registrou no ano passado um prejuízo de R$ 14,44 bilhões – o maior prejuízo da história da empresa e o décimo maior da história das empresas de capital aberto brasileiras.
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