Ciência e Tecnologia

Praias brasileiras e alagoanas em risco com o avanço do mar

Engenheiro alagoano vem alertando para esse problema

Por Claudio Bulgarelli 12/12/2024 07h31
Praias brasileiras e alagoanas em risco com o avanço do mar
Avanço do mar prejudica a economia do mar - Foto: Divulgação

Nas últimas décadas, várias praias do litoral brasileiro têm sofrido com os danos causados pela erosão costeira. Em alguns casos, a ameaça é até mesmo de desaparecimento. Em Alagoas, em decorrência da intensificação dos efeitos do avanço do mar, as praias, nos últimos anos, têm sofrido mudanças em sua disposição. A principal diferença é a diminuição das faixas de areia, que afetam o litoral de todo o país.
Apesar da praia do Gunga ter ganho repercussão internacional depois de um estudo publicado pelo Centro Conjunto de Pesquisa da Comissão Europeia, de que a praia, no município de Roteiro, pode encolher 63,3 metros até o ano de 2100, existem outros balneários com maior risco e até em menos tempo. O alerta já vem sendo feito há algum tempo pelo engenheiro Marco Lyra, especialista em proteção costeira e recuperação de praias.
O engenheiro cita alguns casos bem conhecidos no litoral brasileiro. A Baía da Traição, no litoral norte da Paraíba, por exemplo, vem sofrendo os impactos do avanço do mar. A prefeitura chegou a decretar emergência pública em novembro após a destruição de mais de 20 casas. Com cerca de nove mil habitantes, majoritariamente indígenas, a Baía da Traição vem sofrendo com a erosão provocada pelo avanço do mar desde 2010. As projeções apontam que anualmente a cidade deve perder seis metros de faixa de areia e espaços urbano.
Outro caso interessante é a praia de Peroba, no município de Icapuí, no Ceará, que em janeiro de 2024, foi cenário de uma violenta ressaca do mar que causou imensa destruição. No município de Caucaia também tem registro do problema, assim como as praias de Jericoacoara e de Morro Branco, que são destinos turísticos importantes no Estado.
Olinda, em Pernambuco, é outra cidade que já recorreu à construção de espigões e quebra-mares para tentar controlar o avanço das águas. Mas estudos têm apontado efeito reverso, com piora da erosão nessas áreas.
A praia de Atafona, em São João da Barra, no Rio de Janeiro, registra um dos casos mais alarmantes da destruição causada pela erosão. O avanço do mar no balneário já chegou a mais de dez quarteirões e destruiu centenas de imóveis.
Segundo Marco Lyra, outros dois casos ganharam repercussão nacional. Em outubro de 2023, a prefeitura de Ilhéus, no sul da Bahia, decretou situação de emergência em áreas impactadas pela erosão costeira. A cidade baiana registra há décadas redução da faixa de areia e severas destruições provocadas pelo avanço do mar. E a erosão costeira na Praia do Saco, no município de Estância, no litoral sul de Sergipe, fez as águas do Rio Piauí avançarem 130 metros sobre a própria margem nos últimos 10 anos. Em setembro parte de uma casa foi engolida pela maré. Segundo relatos de moradores, há 10 anos, a faixa de areia ficava a cerca de 800 metros de distância, mas o avanço do mar tem comprometido cada vez mais casas.
Já no litoral sul de São Paulo, o temor com os impactos da erosão fez a prefeitura de São Vicente, isolar um trecho da orla em março de 2023 para estudos de pesquisadores do Serviço Geológico do Brasil.
Em Alagoas, como em todo o Brasil, áreas mais sujeitas à erosão costeira, com desequilíbrio na entrada e saída de sedimentos, podem ter o processo acelerado pela ocupação do solo próximo ao mar. Levantamento do Instituto MapBiomas apontou que a área de praias, dunas e areais do Brasil recuou 15% entre 1985 e 2021.
Para Marco Lyra, o avanço da infraestrutura urbana tem agravado o problema. ``O avanço da ocupação associado à elevação do nível do mar em decorrência do aquecimento global tem agravado o cenário. Além de ameaçar belas paisagens brasileiras, a erosão coloca em risco atividades econômicas vinculadas ao turismo nessas praias, a chamada economia do mar´´.
Para o engenheiro, algumas praias alagoanas precisam urgente de obras de contenção, como na divisa de Maragogi com São José da Coroa Grande, no litoral Norte; a praia do Francês, em Marechal Deodoro, e, sobretudo, a praia do Pontal do Peba, em Piaçabuçu.