Cidades
Pesquisa arqueológica aprofundará vestígios de antigos quilombos em Alagoas
Com financiamento de R$ 300 mil, Fundação Palmares e Ufal assinaram termo de pesquisa
A história do povo negro terá um importante aliado para redescobrir e reforçar a importância da cultura afro no Estado. Pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e de outras instituições parceiras darão início, a partir de janeiro de 2026, às atividades arqueológicas de campo para identificar os mais antigos Quilombos dos Palmares, entre municípios de Alagoas e de Pernambuco. O trabalho será financiado pela Fundação Cultural Palmares (FCP), por meio de Termo de Execução Descentralizado (TED).
O documento foi assinado pelo presidente da FCP, João Jorge Rodrigues, e pelo reitor da Ufal, Josealdo Tonholo, no último dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, em ato solene, na Serra da Barriga, em União dos Palmares e para o qual serão investidos R$ 300 mil nas pesquisas.
O professor e arqueólogo Flávio Moraes, do curso de História da Ufal Campus Sertão, informou que a pesquisa tem por objetivo identificar os quilombos mencionados pelos cronistas holandeses, especialmente Blaer e Marggraf. Tais descrições foram feitas durante as excursões realizadas para destruir esses aglomerados populacionais de resistência e busca pela liberdade.
Um mapa inédito da ocupação holandesa no Nordeste brasileiro (século 17), encontrado em arquivo digital de uma universidade dos Estados Unidos, também auxiliará os pesquisadores nessa tarefa. De acordo com o professor, as informações contidas no documento corroboram os dados colhidos nos textos dos cronistas.
“Sabemos que os cronistas holandeses mencionam três quilombos, a que chamam de Velho Palmares, Outro Palmares e Palmares Grande. O mapa indica pontos-chave que estávamos buscando. Trabalhamos com a sobreposição cartográfica para identificar esses locais nos mapas atuais, além de identificar pontos de referência nas informações relatadas pelos cronistas, e traçarmos o percurso feito”, diz o professor.
Ainda segundo Flávio Moraes, dois desses quilombos estariam localizados nos municípios de Correntes e Lagoa do Ouro, no Agreste de Pernambuco. Já o terceiro, situado entre Chã Preta e União dos Palmares, em Alagoas, justamente no mesmo local onde a Tribuna revelou em reportagem, no dia 27 de setembro deste ano.
Conforme informações do Diário de Pernambuco, o mapa, encontrado pelo cartógrafo histórico Levy Pereira na biblioteca da Universidade de Harvard, é uma versão manuscrita do Brasilia Qua Parte Paret Belgis (A parte do Brasil que pertence aos Neerlandeses), do matemático e naturalista George Marggraf, composta por nove mapas das Capitanias e Câmaras do Brasil Neerlandês.
O professor revela que os trabalhos burocráticos já tiveram início, assim como o levantamento e o tratamento dos dados, a partir das informações cartográficas. Os pesquisadores elaboraram hipóteses a serem testadas. Já as atividades de campo terão início em janeiro do próximo ano.
Utilizaremos métodos da própria arqueologia, de prospecção de superfície e abertura de sondagens, sempre que identificarmos potencialidade. Também utilizaremos o método da fotogrametria aérea, com a utilização de drone”, detalha o professor.
Fotogrametria é a ciência que utiliza fotografias para extrair informações tridimensionais de um objeto ou área. Ao capturar imagens de diferentes ângulos e sobrepostas, softwares especializados processam essas fotos para criar modelos digitais 2D ou 3D precisos, permitindo a medição de distâncias, dimensões e a geração de mapas e modelos de relevo.
Além de Flávio Moraes, integram ainda a equipe de pesquisadores o arqueólogo Onésimo Santos; os historiadores Bruno Miranda, Danilo Marques e Zezito Araújo; o geógrafo e arqueólogo Daniel Kim, e o antropólogo Vagner Bijagó.
Moraes revela que a expectativa é grande para encontrar evidências materiais da ocupação no território que sabidamente pertenceu aos palmarinos.
“Historiograficamente, temos muitas informações, mas, arqueologicamente, ainda não foram identificados materiais que faziam parte desse cotidiano. Encontrar esses materiais e ampliar o conhecimento do modo de vida dos palmarinos nesse espaço de luta, resistência e busca pela liberdade vai ampliar o conhecimento acerca desse momento histórico que tanto nos serve de inspiração e de exemplo”, conclui o professor.
OSENGA, EM CHÃ PRETA, INICIA
PROCESSO PARA TOMBAMENTO
A reportagem “Chã Preta na história dos escravos da Palmares de Zumbi — entre a Serra do Cavaleiro e a Mata Limpa está um pedaço esquecido da história negra do Brasil e que começa a ganhar voz publicada no dia 27 de setembro de 2025 no portal tribunahoje.com, potencializou iniciativas para iniciar o processo de reconhecimento e tombamento do lugar, localizado no município de Chã Preta, a 103 km da capital Maceió.
Diversos representantes de entidades privadas do Município de Chã Preta estiveram reunidos, no último dia 18 de novembro, para o evento de assinatura de requerimento endereçado à Fundação Palmares e ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), [ambos em Brasília], com objetivo de o Governo Federal reconhecer oficialmente a importância histórica do antigo mocambo de Osenga, aldeamento de negros africanos, que existiu em terras deste município no século XVII (1645), há 380 anos.

Com o possível reconhecimento federal, o município de Chã Preta poderá receber turistas de todo o País para visitações à serra onde existiu o mocambo.
Antes, um movimento semelhante promovido pela Câmara de Vereadores de Chã Preta aprovou, por unanimidade, o Projeto de Lei n° 08/2025, que declara o antigo mocambo de Osenga patrimônio histórico material do Município.
O projeto de lei foi apresentado pelo vereador Ari Vasconcelos e teve a adesão de todo poder Legislativo.
Segundo o escritor, advogado e folclorista Olegário Venceslau de Oliveira, que participou da reportagem inicial da Tribuna, a partir de agora a história dos povos negros que viveram em Chã Preta no século XVII está sendo recontada e tendo uma visibilidade merecida. “Osenga representou não apenas um reduto palmarino de africanos nesta localidade, mas um ideal de resistência, luta e ancestralidade”, destacou o escritor.
Todo esse movimento em torno de Osenga ocorre antes do lançamento do livro “Mocambo de Osenga: um reinado africano em Chã Preta no século XVII”, resultado de anos de intensa pesquisa de Olegário em arquivos públicos, jornais da antiga província das Alagoas e relatos orais de moradores, que deve ser lançado na segunda quinzena de dezembro em Chã Preta.
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