O Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contabilizou em Alagoas 820 pessoas com 100 anos ou mais, dos quais 560 mulheres e 260 homens. Do total de idosos centenários, 165 pessoas foram encontradas em Maceió. Na capital, as mulheres centenárias ou com mais de 100 anos também são maioria em relação aos homens, sendo 130 mulheres e 35 homens. O Censo foi de 2022.

Conforme a interpretação dos números feita pelo IBGE, o Brasil está envelhecendo rapidamente e em Alagoas de forma ainda mais acentuada.

Um dos idosos centenários é José Francisco da Silva, nascido no dia 04 de agosto de 1917. Na verdade, lá se vão 108 anos. Nascido e criado no Distrito Munguba, no município de Santana do Mundaú, é casado com Grinauria Figueiredo da Silva, 78 anos.

Juntos, o casal teve seis filhos. Ele não é o único centenário da família. Inspirado no avô, busca fôlego para contar suas histórias de mais de 100 anos.

Bem de saúde, “seu Juruti”, como é conhecido em todo o município, não acompanha a tecnologia. Tem na televisão uma grande aliada para a distração.

Um “vizinho” do “seu Juruti”, Antônio de Holanda Cavalcante aguarda ansioso a chegada do mês de novembro. Com muita expectativa quer apagar sua 102ª velinha.

Nascido no dia 19 de novembro de 1923, não teve muitos filhos nem netos. São dois filhos, um deles adotivo, e dois netos. O cardápio das três refeições é escolhido a dedo por ele, apenas alimentos saudáveis.

Super consciente, lúcido, não toma nenhum remédio sequer. não é dependente de nenhum medicamento. Ele mesmo prepara suas coisas. Faz a feira, lava roupa, faz a comida. Nas horas vagas, até brinca com a “Alexia” para saber a hora e escutar suas músicas preferidas.

Os números também revelaram que a população alagoana envelheceu 2% nos últimos dez anos. A comparação se dá entre os anos de 2022, quando aconteceu o censo mais recente e 2012.

Conforme as estatísticas do IBGE, Alagoas tem atualmente 8,3% da população total acima de 65 anos. Ou seja, dos 3.127.511 habitantes, 259.583 são idosos. Há uma década, os idosos representavam 6,3%.

O Estado segue a tendência nacional e soma mais idosas do que idosos na população. Entre as mulheres alagoanas, 9,2% do total tem 65 ou mais. Entre os homens esse percentual gira em torno de 7,4%.

A população de idosos também aumentou na capital. Em 2012, Maceió ocupava a 17° colocação no país, com 5,9% da população com 65 ou mais. Em 2022, a capital se mantém na mesma posição, mas agora com 8,6%. Dos 957.916 maceioenses, 82.380 são idosos. Em ambos os períodos, as mulheres representaram o maior percentual do que os homens.

O envelhecimento da população brasileira é uma tendência que já vem sendo registrada pelo IBGE há décadas e, segundo os últimos números, deverá estar consolidada nacionalmente em vinte anos.

O fato evidencia a tendência do fim do chamado bônus demográfico (quando a proporção de jovens, a população economicamente ativa, é maior do que a de idosos e crianças, elevando as chances de o país elevar o seu Produto Interno Bruto).

O período de bônus demográfico começou há cerca de 50 anos e já começa a perder seus efeitos antes mesmo de 2030, quando a maior parcela da população já será de idosos, aumentando a pressão sobre os gastos em saúde e previdência social.

Os números são resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). Isso significa que ela não percorre todos os lares, como o recenseamento. Ela pega uma amostra deles e faz uma estimativa a partir de alguns cálculos.

Em Maceió, casado pela segunda vez, Manoel Antônio dos Santos completou seu século de vida no dia 17 de janeiro deste ano. São 18 filhos para chamá-lo de pai. A família perdeu a conta de quantos netos e bisnetos. Bem de saúde, ele atribui sua longevidade ao fato de não fumar, não beber e ter uma alimentação regrada.

Em seus planos para o futuro, está ter mais intimidade com as tecnologias. E que ninguém duvide! Ele é pura lucidez.

Wild Silva, nasceu no dia 13 de abril, há exatos 100 anos. É o “caçula” dos idosos centenários entrevistados pela reportagem da Tribuna Independente.

Na família, segue fazendo história por ser a primeira pessoa a completar um século de vida. Viúvo, tem três filhos, cinco netos, nove bisnetos.

A idosa Neuza Barreto tem 102 anos e seis filhas. Nascida no dia 09 de agosto de 1923, está muito bem de saúde e se alimenta de forma saudável. Ela mesma faz suas refeições, cozinha sua comida.

Bastante lúcida cuida das tarefas de casa. Ela é a primeira da família a alcançar mais de um século de vida. Todos os irmãos chegaram pelo menos a mais de 90 anos.

Antenada nas redes sociais, Neuza Barreto manda seus recados e mensagens quando quer acionar alguém da família.

Bem de saúde, acredita que o segredo da vida longa é saber viver. Conhecedor da tecnologia, mantem-se lúcido e com alimentação saudável.

O médico geriatra Denis Melo explicou que é possível atingir 100 anos com saúde e que, cada vez mais, este acontecimento está comum. “Atualmente, sabemos que longevidade não depende só de genética. O estilo de vida conta muito. É claro que envelhecer traz mudanças naturais, mas é possível chegar aos 90, 100 anos com autonomia, mente ativa e qualidade de vida. Temos exemplos em Alagoas de pessoas centenárias que ainda cozinham, conversam com lucidez e participam da vida social. O segredo está em cuidar do corpo, da mente e do coração ao longo de toda a vida, não só na velhice”, esclareceu.

A medicina tem, então, a fórmula mágica para envelhecer com saúde? Não! Denis Melo deixou claro que não existe uma única fórmula mágica, mas, completou, a ciência já identificou alguns pontos comuns entre pessoas que vivem mais.

Manter-se ativo fisicamente, fazer caminhadas, realizar trabalhos no quintal, dançar, cuidar da casa. Ter uma alimentação equilibrada, com mais comida natural e caseira e menos produtos industrializados. Buscar uma vida social, conviver com família, amigos e comunidade. Ter um propósito de vida, algo que dê sentido aos dias, além de ter um sono de qualidade e baixo estresse.

“E, claro, acesso a cuidados médicos preventivos. Em regiões conhecidas pela longevidade, como as “zonas azuis” no mundo, o que vemos é justamente essa combinação de hábitos simples e consistentes”.

Entre as pessoas centenárias em todo o mundo, as mulheres são maioria. O médico geriatra explicou que em Alagoas não é diferente. E acredita que uma série de fatores ajuda a contribuir com essa proporção.

“Fatores biológicos como, por exemplo, os hormônios femininos, como o estrogênio, protegem o coração e os vasos sanguíneos por muitos anos. Os genéticos, há genes ligados à longevidade que parecem ser mais comuns entre mulheres. Aspectos comportamentais, historicamente, as mulheres cuidam mais da saúde, procuram mais o médico e mantêm redes sociais mais ativas, o que também protege a mente e o corpo. Isso não significa que os homens não possam chegar lá, apenas que, estatisticamente, as mulheres têm mais vantagem”, frisou o médico.

Alagoas tem um Observatório do Idoso, um coletivo de coletivo de militantes, ativistas, estudiosos, pesquisadores independentes. Na avaliação do Observatório, os idosos são paternalizados, infantilizados, invisíveis, são tutelados. A maioria dos idosos é carente de serviços gerontológicos. Estão muito longe do ideal do processo do envelhecimento biopsicossocial.

“Os idoso são carentes nas esferas judiciais, no legislativo, na gestão, na sociedade e na família. A gente pode até dizer que Alagoas é o estado inimigo da pessoa idosa. O segredo da longevidade é um Estado amigo da pessoa idosa para garantir políticas públicas pontuais” salientou o jornalista Francisco Silvestre, coordenador técnico do Observatório do Idoso.