Cidades
Eliana Cavalcanti desabafa sobre destruição de sede histórica da primeira escola de balé de Alagoas
Bailarina e empresária lamenta perdas causadas pela Braskem e relembra memórias afetivas da antiga sede, demolida mesmo sem apresentar riscos estruturais

A bailarina e empresária Eliane Cavalcanti, fundadora da primeira escola de balé do estado de Alagoas, fez um desabafo comovente sobre a perda da sede histórica da instituição, localizada em um dos bairros afetados pela tragédia ambiental provocada pela Braskem, em Maceió.
O imóvel foi demolido mesmo sem apresentar rachaduras ou risco de afundamento de solo. Em um testemunho carregado de emoção, Eliane relembra com dor o processo de abandono forçado e a destruição de um espaço que, por quase quatro décadas, abrigou sonhos, arte e vida.
“Na tristeza de ser obrigada a deixá-lo (o que me abalou bastante), e sem forças para reagir, não lhe escrevi uma carta a fim de deixar registrada a minha indignação com a tragédia que a Braskem lhe causou. Nunca derramei uma lágrima até os dias de hoje, mas bem sei do estrago que todo aquele sofrimento e aquela angústia me causaram. Talvez tivesse sido melhor que a minha face se orvalhasse sempre, todos os dias; ao contrário, fiquei seca, obstruída pela dor da perda.”
A escola foi desativada em janeiro de 2019, meses após o primeiro grande abalo sísmico registrado na região, em 2018. Segundo Eliane, a pressão para evacuar foi crescente, apesar de seu prédio não apresentar os mesmos danos dos imóveis vizinhos. A sede foi gradativamente sendo cercada pelo abandono, até ser selada com tijolos e, mais tarde, completamente demolida.
“Você ficou só, abandonado, descaracterizado, com o mato crescendo ao seu redor e sem a alegria efervescente do entra e sai de alunos, sem o som da música ecoando durante os três turnos de aulas e ensaios [...] Foram quase quarenta anos respirando arte.”
Eliane também falou sobre a vida pessoal que se entrelaçava à trajetória da escola: seus filhos cresceram no andar superior do prédio, que servia de residência. “Festas de aniversário, Natais, Réveillons e quadrilhas de São João” faziam parte da memória afetiva que ela e sua família carregam do lugar.
“Primeiro lhe fecharam as portas e janelas com tijolos. [...] Depois, destruíram-lhe totalmente. Não restou um tijolo sequer, mas ainda tenho as madeiras de ipê-roxo que cobriam o piso das salas de aula e da nossa residência, que hoje se encontram (uma boa parte) no piso da nova sede da escola.”
Hoje, parte da estrutura de madeira foi reaproveitada na nova sede da escola de dança. Outra parte foi vendida e reaproveitada por um fazendeiro, como símbolo de resistência e memória.
A bailarina finaliza com gratidão, mas também com indignação diante da insensibilidade da empresa responsável pelos danos:
“Bem que podiam tê-lo preservado, afinal era a sede da primeira escola de balé do estado de Alagoas. Porém a frieza dos homens da Braskem preferiu tombá-lo, mesmo sem você ter fissuras, rachões ou afundamento de solo.”
“Agradeço a Deus por termos, meu esposo e eu, construído um verdadeiro monumento à cultura alagoana e, através dele, termos sido tão felizes.”
A destruição causada pela mineração da Braskem em Maceió afetou milhares de famílias e também instituições culturais. O relato de Eliane é mais do que um desabafo: é o registro histórico de uma perda irreparável para a memória cultural de Alagoas.
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