Cidades

Alagoano armazena grande acervo sobre a 2ª Guerra Mundial

Apaixonado pelo estudo do conflito, Claudevan Melo realizou sonho de percorrer caminho feito por pracinhas na Itália

Por Valdete Calheiros – colaboradora / Tribuna Independente 17/05/2025 08h23 - Atualizado em 17/05/2025 09h44
Alagoano armazena grande acervo sobre a 2ª Guerra Mundial
Claudevan Melo tem em seu acervo enorme quantidade de publicações da época da 2ª Guerra Mundial - Foto: Adailson Calheiros

O 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial na Europa foi comemorado no último dia 08 de maio, quando, naquela data, a Alemanha se rendeu incondicionalmente. A data histórica é lembrada com uma atenção mais que especial do colecionista e memorialista Claudevan Melo, um alagoano, de Rio Largo, dono do maior acervo particular, que se tem notícias no Brasil, sobre a Segunda Guerra Mundial.

Claudevan Melo, 73 anos, dedicou mais de meio século de vida a garimpar verdadeiros tesouros históricos adquiridos em sebo, leilões e compras em internet. Sem ouro, nem pedras preciosas, talvez, nem o próprio alagoano tenha noção da riqueza que guarda em poucos metros quadrados. Tudo devidamente identificado. Dezenas de exemplares do Cruzeiro do Sul, onde semanalmente era publicado o Diário da Guerra, escrito na Itália.

Os nomes, rostos e histórias dos brasileiros e brasileiras destacados para a Guerra têm um lugar especial na privilegiada memória do colecionista. Os heróis e heroínas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) não passaram despercebidos dos aplausos do “contador de histórias” que, com muito carisma, envolve qualquer interlocutor no enredo, dando-lhe a sensação de testemunha viva dos fatos. Foram à Segunda Guerra Mundial, 148 alagoanos.

Claudevan mostra detalhe de publicação sobre a enfermeira alagoana Jacyra de Souza Góes, que atuou como enfermeira na Itália durante o conflito (Foto: Adailson Calheiros)

Para contar a derrocada do Nazifascismo, na Europa, ele tem mais de mil itens cuidadosamente guardados em uma casa de quatro cômodos no bairro do Prado, em Maceió. Entre as relíquias, punhados de terra do cemitério onde foi enterrado o soldado alagoano Eduardo dos Santos, morto na Guerra. Dezenas de cartas escritas pelos “pracinhas” aos seus familiares também recheiam o acervo. Depoimentos emocionados de pais que por estarem na Guerra não viram seus filhos nascerem ou filhos que por estarem em combate não enterraram seus pais.

Em 2007, Claudevan Melo realizou um grande sonho ao conhecer os “caminhos da guerra”. Fiz todo o trajeto que os soldados brasileiros fizeram, inclusive, o Cemitério Militar Brasileiro de Pistoia, onde foram sepultados os corpos dos membros da FEB e também do 1º Grupo de Aviação de Caça mortos em ação durante a Segunda Guerra Mundial. Atualmente, o monumento serve para homenagear os combatentes brasileiros que libertaram diversas cidades ao redor da Itália.

Conforme as pesquisas de Claudevan Melo, ao retornarem ao Brasil, alguns “praças” foram entregues à própria sorte, viveram na miséria e os mutilados tiveram que pedir esmolas nas ruas.

Com especial atenção, Claudevan Melo guarda também revistas, periódicos, publicações e jornais sobre a participação feminina na guerra. Sim, as mulheres estavam lá. E, pela ótica, do alagoano, desempenharam um importante papel, sempre na área de saúde.

Acervo particular sobre o conflito chega a pesar quatro toneladas

O acervo particular de Claudevan Melo conta com quatro toneladas. Cada um dos itens enche os olhos do ex-operário, cuja formação escolar interrompida ao final do ensino médio.

Entre todas as relíquias colecionadas, são as sonoras, com raridades da música alagoana, que fazem o memorialista suspirar de nostalgia. A coleção – das mais ricas que se tem notícia, tanto em termos quantitativos, quanto em aspectos qualitativos – chegou à Maceió há pouco mais de três anos, quando ele saiu de São Paulo, onde estava desde os 18 anos para cuidar da mãe que está com 98 anos.

Desde que retornou a Alagoas, o colecionista tem buscado, sem sucesso, apoio para proteger o patrimônio histórico. Além das inúmeras fotografias, jornais e revistas relacionados ao período da participação efetiva do Brasil nos anos de 1944 e 1945, o acervo de Claudevan Melo tem aparelhos sonoros que fizerem muito sucesso como os gramofones.

Sua queixa sobre a ausência de políticas públicas direcionadas ao patrimônio histórico e cultural é antiga. Embora, a cada dia esteja ganhando mais voz, mesmo que silenciada na sua luta particular.

“Não sou eterno. O que será feito dessa longa parte da história alagoana e mundial quando eu partir”, indagou. Esperançoso, ele ainda alimenta o desejo de salvaguardar as raridades e compartilhar seu conteúdo.

Uma das grandes tristezas da vida de Claudevan Melo é não ter visto ainda aberta um dia sequer, desde que retornou ao estado, há três anos e meio, a Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, secção de Alagoas.

Sede da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, secção de Alagoas, em Maceió (Foto: Adailson Calheiros)

“Sempre de portas fechadas!”. A sede alagoana fica no bairro do Centro, nas imediações do Quartel Geral da Polícia Militar. O local está sempre fechado. Durante a semana passada, nos dias em que a reportagem estava sendo produzida, a equipe passou pelo local, diversas vezes e em horários diferentes. A única coisa encontrada era o cadeado, fechando o gradeado.

Na época do ex-presidente Floriano Ivo, a sede estava sempre aberta e a entidade participava e promovia eventos. Certamente, a idade avançada dos ex-pracinhas é um motivo justificável. No entanto, ninguém assumiu o comando local, nem mesmo o poder público. Fazendo-se as contas não é difícil deduzir que o “pracinha” mais novo seja uma pessoa centenária, ou no mínimo, muito próxima a isso.

Mulheres tiveram papel destacado; cinco alagoanos morreram

Entre as mulheres que foram à Guerra, está a alagoana Olímpia de Araújo Camerino, 2ª tenente-enfermeira. Era ela a responsável pelos exames de raio-X, o que de mais moderno havia à época. Na tropa brasileira, estava também a enfermeira Jacira de Souza Góes. E a também enfermeira Elza Cansanção Medeiros, nascida no Rio de Janeiro, mas filha de pais alagoanos. Seu afeto pelo estado a fez doar todo seu acervo sobre a FEB. O material ocupa uma sala na 20ª Circunscrição do Serviço Militar – Exército em Alagoas.

Claudevan Melo é um entusiasta da história dos soldados alagoanos que foram ao campo de batalha. Cinco morreram em combate e um foi dado como desaparecido. Como quem fala sobre um parente querido que se foi, o colecionista contou detalhes da vida bélica de cada um deles.

Mulheres ganham destaque no material guardado por Claudevan Melo sobre a 2ª Guerra Mundial (Foto: Adailson Calheiros)

“Alberto Mello da Costa, natural de Viçosa, faleceu em consequência de acidente de mina. Benevides Valente Monte, nascido em Maceió, foi morto em ação, no Batalha Monte Castelo. Eduardo Gomes dos Santos, meu conterrâneo de Rio Largo, foi morto em ação. José Guilherme da Silva, de Maceió, foi morto em virtude de acidente com granada. Olivaldo Barbosa Vila Nova, natural da capital, foi morto também na Batalha de Monte Castelo. E por fim, Rodolfo Gomes de Campos, nascido em União dos Palmares, foi considerado desaparecido.

Entre os que serviram às Força Aérea Brasileira (FAB), o 2° tenente-aviador Correia Netto, detalhou o memorialista, nascido em Maceió, atuou como piloto de combate. “Ao regressar para o Brasil continuou na Força Aérea, tanto na Aviação de Caça, como a de Transportes e de Patrulha, tendo acumulado mais de sete mil horas de voo. E Álvaro Eustórgio de Oliveira e Silva, 2° tenente-aviador, também de Maceió, atuou como piloto de combate. Faleceu aos 30 anos. Como militar profissional ao regressar da Itália, assumiu a função de piloto e de chefias diversas exercidas na Base Aérea de Santa Cruz, no 1° Grupo de Caça”, relatou, com uma impressionante riqueza de detalhes.

O jornalista Ricardo Rodrigues recordou que seu pai, Arlindo Rodrigues da Rocha, nascido no dia 10 de dezembro de 1924, estava no Rio de Janeiro, com vinte anos de idade, quando entrou na fila para a Segunda Guerra Mundial e foi servir na Ilha de Fernando Noronha, até quando terminou a hecatombe.

O ex-combatente faleceu no dia 13 de junho de 1996, aos 71 anos, quando integrava a Associação dos Ex-Combatentes de Alagoas, a convite do então presidente Floriano Ivo.

DISCOS

História é contada por meio da música

Claudevan Melo consegue “musicar” a história da Segunda Guerra Mundial contada através dos mais de 200 discos e partituras. Para detalhar tudo, leu mais de 100 livros apenas sobre a II Guerra Mundial.

Com um gramofone, ele gosta de ouvir e coloca para os visitantes ouvirem a Canção do Expedicionário, título de uma música composta por Spartaco Rossi com letra de Guilherme de Almeida. Originalmente interpretada pelo cantor Francisco Alves, se tornou mais conhecida que o próprio hino oficial da FEB.

O lançamento da gravação se deu no dia 08 de setembro de 1944, sendo executada pela Orquestra Odeon (da gravadora) sob o maestro Fon-Fon. Vencedora de um concurso feito por um jornal, tornou-se um dos maiores sucessos daquele ano e passou a fazer parte obrigatória dos repertórios de bandas de música e de canto orfeônico do Brasil.

O refrão da “Canção do Expedicionário” diz o seguinte: 

  • "Por mais terras que eu percorra
  • Não permita Deus que eu morra
  • Sem que volte para lá
  • Sem que leve por divisa
  • Esse “V” que simboliza
  • A vitória que virá
  • Nossa vitória final
  • Que é a mira do meu fuzil
  • A ração do meu bornal
  • A água do meu cantil
  • As asas do meu ideal
  • A glória do meu Brasil."

RETORNO

Milhares de documentos na bagagem

Claudevan Melo morou 50 anos em São Paulo, onde se casou, teve um casal de filhos, ganhou três netos. Aconteceu o divórcio. Ao arrumar a bagagem – nada convencional –, milhares de documentos, cinco mil discos de cera, além de outros de acetato e 78 rotações. Pedacinhos da história que constituem o maior acervo histórico da música alagoana de todos os tempos e um dos mais preciosos do país.

O material chegou ao estado em um caminhão, após cerca de dois anos de preparação. Tempo necessário para o dono organizar e embalar o acervo praticamente sozinho. Durante esse intervalo, ele tentou trazer o material “de maneira oficial”, com ajuda dos governos estadual e municipal, mas não obteve respostas.

Em um esforço hercúleo, solitário e que lhe custa R$ 1 mil mensais da sua aposentadoria, ele dorme e acorda querendo achar em seus documentos a realização do sonho de o poder público se interessar em preservar o acervo.

Guardado com amor, mas de forma “amadora” o acervo luta contra as intempéries e segue eternizado pela boa vontade de um único homem que ainda sonha em abrir o acervo ao público alagoano como forma de fazê-las felizes ao compartilhar histórias tão ricas e detalhes tão preciosos.

Ainda na juventude, ele se apaixonou, por acaso, pela música. O que chegara aos ouvidos, logo conquistava o coração. De um disco comprado, acordou com centenas dias depois que logo passaram a ocupar infinitas casas decimais.

Apesar de colecionar preciosidades há décadas, ele ainda se espanta ao saber que muitos artistas grandiosos de Alagoas são completamente desconhecidos pelos alagoanos. Jararaca, Fon Fon, Misael Domingues, Peterpan, Thelma Soares, nomes que soam com familiaridade ao colecionador são desconhecidos dos conterrâneos.

O acervo tem todas as partituras de compositores alagoanos fundamentais e que são muito importantes para a música alagoana e brasileira. A maioria é do século 19.

Música na II Guerra e na vida – Na coleção, discos, gramofones, radiolas, livros, gibis, revistas, fotografias, filmes e artigos pessoais. “Tudo ligado ao universo musical alagoano e brasileiro”, resumiu, diante da grandiosidade do acervo.

Exemplares únicos como todas as partituras dos compositores alagoanos do século XIX, como Misael Domingues, Alfredo Leahy, Tertuliano, Sizino Barreiros, Tavares de Figueiredo, Misael Domingues e Hekel Tavares estão sob a guarda do memorialista.

Claudevan Melo pode se dar ao luxo de passar suas horas vagas – se é que elas existem – ouvindo gravações raras e preciosas como, por exemplo, a de maestro Fon Fon realizada na Inglaterra e na França entre 1948 e 1951.

“Entre muitos outros, adquiri todos os discos gravados no Brasil e nos EUA pela cantora Thelma Soares, de Atalaia, que foi revelada por Vinicius de Moraes e Baden Powell quando ela se apresentava no famoso João Sebastião Bar, na Praça Roosevelt, no Centro de São Paulo, em 1962”.

Claudevan Melo tem um extenso conhecimento musical de profundidade marcante para quem, ao sair de Maceió rumo a São Paulo, conhecia “apenas” Luiz Gonzaga e Trio Nordestino.

“Eu achava que isso era o mundo. E ponto final. Até o filho de um colega de trabalho, ao saber que eu era de Alagoas, perguntou se eu conhecia Hekel Tavares. Eu disse que não. Quando ele me apresentou a obra dele, fiquei indignado e me perguntando como eu não o conhecia!”.

Do lendário maestro alagoano Hekel Tavares, nascido em Satuba, na época um distrito de Rio Largo, em 1896, Claudevan Melo possui toda a obra conhecida, são mais de 100 discos em acetato e cera, além de objetos pessoais adquiridos em sebos e leilões e doados pela família do maestro, reverenciado na música erudita do Brasil e do mundo.

Hekel Tavares é o compositor, maestro, arranjador mais importante nascido em Alagoas, é um dos ícones da música brasileira, com amplo reconhecimento internacional.

Do compositor Jararaca, nascido José Luís Rodrigues Calazans, em Maceió, em 1896, o colecionador diz orgulhoso que também possui todas as gravações já conhecidas e explica que elas são peças únicas. “Antes, isso era comum, porque o disco era uma música apenas, o disco de cera”, detalhou.

Jararaca foi violonista, cantor de emboladas, compositor e emérito letrista brasileiro. Morreu com 81 anos. O Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira registra que “teve sua primeira viola aos oito anos de idade. Desde criança mostrava tendências à criação musical e humorística. Por volta de 1915, criou um grupo teatral na cidade de Piranhas, em Alagoas”.

Em 1921, o grupo “Os Boêmios” apresentou-se para completar o show dos “Oito Batutas”, no Cassino Moderno, interpretando a embolada “Espingarda pá”, de José Luís Rodrigues, que ainda não era o Jararaca.

A música agradou a Pixinguinha, que passou a incluí-la no seu repertório. O conjunto “Os Boêmios” transformou-se em “Os Turunas Pernambucanos”. Cada componente adotou o nome de um bicho como nome artístico.

Jararaca declarou ao MIS (Museu da Imagem e do Som) do Rio de Janeiro que aqueles tipos de apelidos baseados em nomes da fauna brasileira eram comuns no Nordeste.

Toda a obra conhecida de Jararaca faz parte do monumental acervo organizado pelo colecionista.
“Não posso afirmar que tenho toda as obras dos compositores e cantores, maestros alagoanos, mas posso assegurar que tenho tudo que é conhecido e grande parte do que nunca ninguém pode ter, por um motivo aparentemente simples: essas obras foram peças únicas gravadas. Isso era comum acontecer no início do século XX”, contou Claudevan Melo.

Foto: Adailson Calheiros

Como um grande mestre, Claudevan Melo, sem o diploma acadêmico, domina as palavras. Segundo ele, os alagoanos não são culpados por não conhecerem seu passado.

Logo ele recorre ao nome do pianista Misael, um dos mais importantes da música brasileira. “Em um dado momento, em 1959, um maestro soube que a Casa Prealle e Cia estava realizando a venda de seu acervo, em Recife. Ele adquiriu um lote e viu que lá tinha uma série de partituras com a escrita muito bem feita, criteriosa e afrancesada. Era assim que os músicos do passado redigiram as partituras de suas valsas e polcas. Ele levou para o Rio de Janeiro. Eram as partituras de Misael, o alagoano”, recordou Claudevan Melo.

O memorialista contou que tempos depois, em 1978, Sonia Maria Vieira gravou Misael pela primeira vez. E não parou mais de gravá-lo. “Não acho necessário que gostem de Misael. Mas acho que as pessoas têm o direito de saber que tivemos um pianista dessa magnitude. E toda a sua obra está no acervo”, defendeu.

“Foram gerações e gerações consumindo apenas o que tocava no momento, sem terem acesso à própria história. Eu penso que o maior gênio nasceu sabendo absolutamente nada”, teorizou o colecionista.

Entre as peças do acervo estão as composições de Benedito Silva, um dos compositores do Hino de Alagoas. “Só se sabe que ele fez o Hino e olhe lá. Mas ele escreveu muitas músicas. Bandas do Rio de Janeiro gravaram muitas músicas dele. Eu tenho isso”, contou.

Preservação do acervo – Claudevan Melo afirmou estar aberto a propostas que garantam um lugar adequado para o acerve ser guardado. “Desde catalogar, digitalizar o acervo até difundir seu conteúdo”, resumiu. Doação, no entanto, está fora de cogitação. “Dediquei minha vida aqui”.

Ele próprio acredita que, sem conhecer o passado e dar a devida importância à história, não dá para ser um povo evoluído. “É preciso um projeto de educação a longo prazo”, completou.

Segundo ele, há muito pouco ou nenhum espaço nos projetos de governo para patrimônio histórico. “São muitos shows, festas, milhões de seguidores, mas as palavras arquivo, patrimônio, acervo, tudo isso é relegado”, afirmou ao completar que o São João de Maceió está prestes a acontecer e com patrocínio de milhões. “Com uma visão política distorcida, sempre tudo é mais importante do que o patrimônio histórico”. De acordo com Claudevan Melo, é preciso que os governos incluam o patrimônio histórico em seus planos de trabalho.

Com orgulho, ele contou que já ajudou muitos músicos com fotocópias de partituras raras. “Muitos compositores e pianistas de Alagoas são gravados e reconhecidos lá foram tanto no Brasil quanto no exterior. Eu assessoro pianistas de diversas localidades. Um deles, inclusive, se apresentou em Moscou, com músicas raríssimas de Misael”, completou.

O acervo de Claudevan Melo é de uma preciosidade inimaginável. Entre os itens, gravações únicas de músicas feitas a partir das poesias de poetas alagoanos Jorge de Lima e Judas Isgorogota, pseudônimo do poeta e jornalista Agnelo Rodrigues de Melo. Nascido em Lagoa da Canoa, o poeta alagoano é reconhecido no mundo inteiro e pouco conhecido nas Terras dos Marechais.

Nos anos 60, ele estudou no seminário metropolitano de Maceió. Após desistir de ser padre, migrou para São Paulo, como era comum entre os nordestinos, e foi trabalhar como metalúrgico na montadora de automóveis Ford.

O operário logo sentiu a vibração da música e passou a colecionar tudo o que dissesse respeito à música, em especial a alagoana, nos mais variados aspectos e gêneros. Alguns itens eram comprados, outros achados em ambientes que pareciam lixões.

Claudevan Melo é daqueles personagens que merece um livro sobre sua incrível e ininterrupta batalha pela identificação, localização e aquisição de toda e qualquer obra de arte (musical, preferencialmente) produzida por artista das Alagoas.

Ele começou a caçar peças da memória cultural e musical alagoana pelas feiras, antiquários e leilões, incialmente, nos mercados de velharias em solo paulistano e carioca.

São inúmeras tentativas para viabilizar uma parceria, pública e/ou privada, para um projeto capaz de abrigar de forma segura seu monumental patrimônio cultural. Sem nenhum avanço significativo, ele segue sonhando.

Brasil na Segunda Guerra – Inicialmente, na Segunda Guerra, o Brasil adotou uma postura de neutralidade, mas a sucessão de ataques de submarinos alemães aos navios mercantes brasileiros, entre fevereiro e agosto de 1942, resultando em mortes de civis e violação da soberania nacional, teria levado o governo de Getúlio Vargas a declarar guerra ao Eixo.

Nascia, então, a Força Expedicionária Brasileira, formada por cerca de 25 mil homens que combateram ao lado dos Aliados na Itália. Entre as vitórias mais simbólicas, estão a conquista de Montese, Zocca e outras localidades estratégicas. A tropa brasileira foi enviada aos poucos, divididos em cinco grupos. No total, foram enviados à Europa para guerriar o equivalente a lotação de quase dois Estádio Rei Pelé, o Trapichão.

Há 80 anos, o Dia da Vitória – O fim da Segunda Guerra Mundial na Europa é comemorado como Dia da Vitória na Europa, em vários países. A Marinha do Brasil atuou ativamente para manter a segurança de rotas marítimas do Atlântico.

Quase seis anos de destruição e sofrimento causados pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945) tiveram fim com a rendição incondicional da Alemanha, após o cerco a sua capital, Berlim, e a morte do líder do governo nazista.

A assinatura do documento que determinava o cessar das operações militares, navais e aéreas alemães a partir do dia 08 de maio tornava esta data um marco na história da humanidade. O Dia da Vitória, como é conhecido até hoje.

Naquela ocasião, o Comandante da Força Expedicionária Aliada, General Eisenhower, que também havia liderado a decisiva invasão à Normandia, na França, cerca de um ano antes, escreveu à tropa:

“Vós levastes a efeito tarefas militares tão árduas e difíceis que chegaram a ser classificadas de impossíveis. A cruzada que iniciamos nos primeiros dias do verão de 1944 chegou ao seu glorioso término. Constitui meu especial privilégio, em nome de todas as nações representadas neste teatro da guerra, saudar cada um de vós pelo valoroso cumprimento do dever”.

Dentre as nações a que se referia, estava o Brasil, que apesar de adotar uma posição neutra no início do conflito, declarou estado de beligerância contra a Alemanha nazista e a Itália fascista, em 1942.

A decisão era uma resposta ao torpedeamento de navios mercantes brasileiros por submarinos alemães e italianos. Comunicado oficial do governo, em agosto daquele ano, definia os ataques como “inominável atentado contra indefesas unidades da Marinha Mercante de um país pacífico, cuja vida se desenrola à margem e distante do teatro da guerra”.

O Brasil foi o único país da América do Sul a enviar soldados para lutar no campo de batalha europeu. Foram cerca de 25 mil militares da Força Expedicionária Brasileira (FEB) direcionados ao norte da Itália para lutar junto ao Exército americano. Do total, eram alagoanos. Quase 500 deles tombaram em combate. 

Também foi 500 o número de militares da Marinha do Brasil perdeu suas vidas em missões de escolta a navios de guerra e mercantes sob ameaça no Atlântico ‒ de um contingente de 7 mil militares mobilizados. A guerra vitimou, no total, mais de mil brasileiros no mar, entre ataques do Eixo e acidentes.

Foto: Adailson Calheiros

Nos esforços para defender os interesses nacionais e evitar o escalonamento da tragédia, os navios da Marinha escoltaram mais de 3 mil embarcações nacionais e estrangeiras. “Todos os navios devem se conservar prontos para entrarem em ação a qualquer momento, quer em viagem, quer nos portos, de forma a ser repelido, com eficiência e rapidez, qualquer ataque, sempre possível, que estas nações intentem contra nossa Pátria”, determinou o Comandante em Chefe da Esquadra à época, Contra-Almirante Durval de Oliveira Teixeira.

Os ataques aos navios mercantes tinham a intenção de reprimir a cadeia logística de abastecimento dos países aliados, cujos membros principais eram Reino Unido, França, União Soviética e Estados Unidos. Era a partir das rotas marítimas que as tropas eram transportadas, municiadas e equipadas. A economia brasileira também dependia do mar, já que Estados Unidos e Europa eram os principais compradores de commodities do País (produtos de origem agropecuária ou de extração mineral, em estado bruto) e fornecedores de produtos industrializados.

O Dia da Vitória representou, para o Brasil, a almejada “paz no futuro” expressada em seu hino nacional. Nesta data, há 80 anos, o então presidente do país, Getúlio Vargas, assim definiu, em seu discurso, a participação do País no conflito:

“Esse ato de brutalidade do nazifascismo despertou a cólera sagrada do povo brasileiro (...). Foi feita a vontade do povo! Sabeis o que nos custou de sacrifícios e privações e, afinal, organizamos nossa Força Expedicionária, que se cobriu de glórias nos campos de batalha (…)”.
II Guerra Mundial na Câmara de Maceió – A data foi lembrada pela Câmara Municipal de Maceió que celebrou, no início do mês, os 80 anos das vitórias das Forças Expedicionárias Brasileiras (FEB).
Proposta pelo vereador Eduardo Canuto e, aprovada por unanimidade pelos parlamentares, a sessão solene homenageou os “pracinhas brasileiros” que combateram na Itália entre os anos de 1944 e 1945.

Na avaliação do legislador municipal, a coragem dos pracinhas que foram lutar na Segunda Guerra jamais deve ser esquecida. “Foram mais de 25 mil homens e mulheres que cruzaram o Oceano Atlântico contra o ódio e totalitarismo que estavam ocorrendo na Itália. Os nossos ‘pracinhas’ venceram batalhas memoráveis e o Brasil não se omitiu diante do que estava acontecendo contra a humanidade. Foram heróis, simples, nordestinos, destemidos que deixaram as suas famílias e nunca abandonaram a sua missão. Esta sessão é um gesto de memória e compromisso com a história, a verdade e a soberania de um país. Os feitos da Força Expedicionária Brasileira não devem, jamais, ser esquecidos. Que a bravura dos nossos ‘pracinhas’ inspire a todos”, discursou na ocasião o vereador.

Ainda durante a sessão, o presidente da Associação dos ex-combatentes do Brasil e Amigo do Museu da Segunda Guerra Mundial, Romani Cansanção homenageou o vereador Eduardo Canuto com a entrega do Certificado de Reconhecimento Público pelos serviços prestados pelo parlamentar ao município de Maceió.

O comandante do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Maceió, Leandro Soriano Evangelista, comentou que a data 08 de maio precisa ser valorizada devido aos seus feitos históricos.

“Precisamos valorizar as pessoas que deram as suas vidas pelos valores de liberdade e democracia. Quem lutou, não foi em vão. Foi um marco na história mundial, em que o Brasil efetivamente participou e realmente defendeu os valores que nós defendemos até hoje. A Força Aérea teve um papel fundamental nessa guerra, atuando tanto na Europa, como no Brasil”, recordou.

Já o capitão de fragata, Rodrigo Garcia, comandante da Capitania dos Portos de Alagoas, também fez questão de ressaltar que a Marinha do Brasil teve um papel de relevância na escolta dos navios mercantes, que realizavam apoio de pessoal e de material para o norte da Itália.

O tenente-coronel Márcio Robério de Oliveira Lima, comandante do 59º Batalhão de Infantaria Motorizado, reforçou que a Força Expedicionária Brasileira escreveu com sangue, suor e valentia algumas das páginas da história do combate ao nazifascismo.

“Temos que permanentemente relembrar esses heróis que foram lutar, defender a nossa soberania com bravura e competência de nossas forças. Nossos soldados enfrentaram condições adversas e um inimigo aguerrido, e mesmo assim, saímos vitoriosos e precisamos sempre lembrar e prestar homenagens aos feitos conseguidos por quem foi lutar na Segunda Guerra Mundial”, pontuou.