Cidades
Museu de História Natural da Ufal espera solução estrutural de portas fechadas
Um laudo técnico mostra que manutenção predial não é mais eficaz para a situação em que chegou

O prédio é de 1817. Já abrigou o exército, a primeira Faculdade de Medicina de Alagoas, o antigo Centro de Ciências Biológicas e, desde 2016 é a sede do Museu de História Natural da Ufal (MHN), que foi transferido para o local com seu acervo científico e didático incluindo mais de 60 mil peças. Mas na semana em que comemora 35 anos de existência, fechou as portas para o público.
A falta de recursos para manutenções ao longo dos anos foi, aos poucos, deixando as marcas na estrutura do prédio que é tombado como Patrimônio Histórico de Alagoas, desde 2010. Após vistoria realizada no mês de abril, um relatório feito pelo engenheiro civil e de segurança do trabalho da Pró-reitoria de Infraestrutura da Ufal, Allan Vianna, pontuou uma série de problemas com riscos físicos e biológico, e recomendou a interdição de ambientes.

O diretor Filipe Nascimento explica que a decisão pelo fechamento ao público foi inevitável. “A situação do nosso prédio sempre foi bastante delicada. Pela sua antiguidade e também por estar situado numa região em que sofre a ação da maresia, a manutenção sempre foi complexa e cara. A gente procurava fazer manutenções pontuais, quando aparecia um problema ou outro, e às vezes essas tentativas não davam certo. De uns tempos para cá, a situação se agravou, de modo que a gente começou a temer pela segurança, principalmente do público. Então a gente decidiu solicitar um laudo técnico da estrutura do prédio. Após esse relatório a gente tomou a medida de fechar o museu para o público visando, em primeiro lugar, a segurança do público, porque a maioria é infanto-juvenil, principalmente público escolar”, enfatizou.

O documento relata problemas de afundamento de piso, rachaduras nas paredes, infiltração, portas, janelas e grades deterioradas, ambientes insalubres e até risco de contaminação na água. “Um fator bastante importante a ser relatado é quanto a periodicidade da limpeza dos reservatórios elevados e de abastecimento de água [caixas d’água], o que pode ensejar em contaminação. Essa limpeza, por norma técnica, precisa ser realizada dentro de uma periodicidade mínima. O que não vem ocorrendo, tendo em vista a situação que encontramos no local”, destacou Allan.

O relatório
A vistoria foi parcial, feita apenas na parte histórica que compõe o conjunto de prédios do MHN. Mas os problemas documentados mostram como a falta de recursos suficientes impactou na deterioração do lugar.

A Sala 15, onde funciona uma exposição de ossos de animais, apresenta um afundamento do piso cerâmico e algumas fissuras nas paredes. Na sala de aula 14, parte do reboco do teto caiu. Em outra sala, o forro em madeira está danificado pela ação de cupim e algumas peças do teto estão soltando, causando sério risco físico.

“Outro ponto bastante importante são os banheiros disponíveis para utilização do público, com rachaduras, falta de forro de teto, falta de equipamentos como porta papel higiênico, porta sabonete líquido, e equipamentos adaptados para uso de pessoas com algum tipo de deficiência. Sem falar no cuidado com a vegetação interna. Como a Ufal está sem o contrato de ajardinamento, devido ao contingenciamento do orçamento público, as áreas internas abertas estão com o crescimento de muitos arbustos, o que provoca a proliferação de vetores, como ratos, baratas, e até animais peçonhentos”, pontuou Allan.

O relatório está disponibilizado no processo Sipac e foi encaminhado para os gestores envolvidos e interessados em pleitear uma solução para problemas do Museu de História Natural da Ufal.

Recomendações e dificuldades
O laudo técnico também faz algumas recomendações, além da interdição, como recuperação do piso, de estruturas de concreto armado, de cobertas, pintura e impermeabilização, revitalização de fachadas, recuperação completa do auditório lateral, e retirada de bens inservíveis.

De acordo com o documento do engenheiro, junto ao relatório fotográfico que embasa todas as situações encontradas, se faz necessária uma intervenção de reforma na parte interna e externa da edificação para proporcionar melhores condições de uso à comunidade acadêmica.

“Estamos de mãos atadas, tendo em vista a situação atual orçamentária da Ufal, onde os contratos de manutenção 2025 já foram praticamente gastos com outras demandas de outros prédios, não restando recursos suficientes para execução de serviços de engenharia no Museu. Em caráter estimativo, os custos de recuperação da edificação importarão algo em torno de R$ 1,5 milhão. E nesses casos, não é mais possível fazer manutenção predial, sendo necessária uma licitação própria”, reforçou Allan.

O diretor Filipe também destaca que, por ser um prédio histórico, tombado desde 2010, a gestão encontra obstáculos para manter. “Ele foi tombado pelo Pró-Memória, é um tombamento estadual, então, na prática dificultou a realização de reformas, porque tudo tem que passar por uma avaliação e não pode modificar a estética e a estrutura original do prédio. Precisa passar por um processo de restauro, que é bem mais caro e mais complexo, então o prédio fica parado”, explicou.

História se perdendo
Mesmo de portas fechadas para o público, os servidores continuam o trabalho internamente na tentativa de salvar a história contada no MHN.

“A gente já tinha tomado algumas medidas de isolamento de algumas salas que armazenavam o acervo técnico. Tem umas duas ou três que estão completamente insalubres, porque às vezes são acervos de pele, acervos de animais conservados em álcool, que a situação da sala compromete a conservação desse material”, ressaltou o diretor Filipe Nascimento.

Mas ele conta que essas realocações dificultam o acesso da comunidade acadêmica para realizar pesquisa. Por isso, parte do acervo está indisponível para atividades científicas.

O MHN é ciência
As coleções científicas do museu sempre atraíram estudantes e pesquisadores de todo o país. Grande parte do acervo é proveniente de Alagoas, contudo, existem materiais de outras regiões do Brasil e até de outros países, como Uruguai, Argentina, Equador e Rússia.

Ao todo, o acervo conta com quase 60 mil peças, entre elas constam: minerais e rochas, fósseis, material arqueológico, anfíbios e répteis, mamíferos, aves, peixes, crustáceos, moluscos, insetos, aranhas e escorpiões, coleções etnobiológicas e herbários. Pesquisar, conservar e ampliar suas coleções são atividades básicas do Museu, dando suporte aos cursos de graduação e pós-graduação da Universidade, bem como aos diversos pesquisadores que o procuram para desenvolver seus trabalhos.
Abraço de apelo
Neste sábado, dia 17 de maio, às 10h, está sendo organizado um abraço simbólico ao MHN. A iniciativa partiu de um grupo de ex-alunos, e conta com o apoio da direção do Museu.

O convite à participação da população é para mostrar o apoio à ciência, à cultura e à memória de Alagoas. A concentração do ato será na Praça da Faculdade. “Nosso abraço é um chamado ao poder público: o MHN precisa de restauração urgente!”, cobram os organizadores.
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