Cidades

Estado de Alagoas tem quase quatro mil autistas

Dados estatísticos são do Censo Estadual de Pessoas com Deficiência; levantamento foi concluído no último mês de fevereiro

Por Valdete Calheiros – colaboradora / Tribuna Independente 05/04/2025 08h55 - Atualizado em 05/04/2025 09h23
Estado de Alagoas tem quase quatro mil autistas
Laura Menezes foi diagnosticada quando tinha um ano e três meses e atualmente está com nove anos - Foto: Reprodução

Alagoas tem 3.866 pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), sendo 2.959 do sexo masculino e 904 do sexo feminino. Deste total, 3.356 pessoas têm de 0 a 17 anos, 309 estão na faixa etária de 18 a 29 anos, 176 têm entre 30 e 59 anos e 25 estão com mais de 60 anos.

Os dados são uma estimativa – inédita e a única oficial – e foram extraídos do Censo Estadual da Pessoa com Deficiência realizado pela Secretaria de Estado da Cidadania e da Pessoa com Deficiência (Secdef). O levantamento foi iniciado em 2023 e concluído no último mês de fevereiro.

Os números são importantes para nortear as ações governamentais em torno do tema. O assunto entra, ainda mais em evidência, durante o mês de abril, por conta do “Abril Azul”, campanha de conscientização sobre o TEA. A movimentação é realizada anualmente. Na última quarta-feira, dia 02, foi comemorado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo.

O “Abril Azul tem como objetivos, promover a informação e conscientização da população sobre o TEA, combater a discriminação, promover a inclusão e o respeito às pessoas com TEA, além de sensibilizar a sociedade para a importância da aceitação, empatia e entendimento das necessidades das pessoas com o Transtorno.

Uma das crianças com TEA alcançadas pelas estatísticas do governo de Alagoas é Laura Menezes, uma menininha de 9 anos, filha da Vanessa de Menezes Pinto, gerente de Políticas temáticas para pessoas com Transtorno do Espectro Autista da Secdef.

Diagnosticada quando tinha um ano e três meses, a garotinha tem TEA nível 3 de suporte, como explicou a mãe. Os níveis de autismo são definidos de acordo com a necessidade de apoio que cada pessoa tem. No nível 1, há necessidade de pouco apoio. No nível 2, existe a necessidade moderada de apoio e, por fim, no nível 3, acontece a necessidade de muito apoio substancial. A classificação por níveis é feita de acordo com o CID (Código Internacional de Doenças)-11.

O diagnóstico foi rápido, porque a mãe buscou uma equipe especializada em diagnóstico precoce, à época, e um médico especializado para a demanda do TEA.

Estudiosa do assunto e militante sobre os direitos das pessoas com TEA, Vanessa de Menezes Pinto se surpreende negativamente com o preconceito quando faz uso do transporte por aplicativo.

“Alguns motoristas pedem que eu desça do carro com ela e acabam não finalizando a corrida. Minha filha faz terapia de segunda a sexta e sempre vou de carro por aplicativo. É lamentável a falta de treinamento e falta de empatia de alguns motoristas. Eles pedem para que desçamos do carro, porque ela faz muitas estereotipias motoras [comportamentos repetitivos, um dos sintomas mais característicos do TEA] ou muita ecolalia [repetição de palavras, frases ou sons que já foram ouvidos, sendo um distúrbio do desenvolvimento da fala] e eles se incomodam”, lamentou.

Mãe acompanha filha com TEA e ao longo dos anos supera dificuldades

Vanessa de Menezes Pinto está presente em todas as tarefas cotidianas da filha. Seja trocar de roupa ou dar banho. A rotina é puxada e marcada por muito amor e dedicação. Pela manhã, a menina fica em casa (não frequenta escola), todas as tardes, de segunda a sexta-feira, é a vez das terapias com uma equipe multidisciplinar (psicóloga, fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, fisioterapia, educação física e analista do comportamento) ela faz terapia ABA, a mais indicada para pessoas com TEA.

A carga horaria atual com as atividades semanais é de 20 horas. “Mas ela tem indicação para mais horas. Estamos lutando na Justiça contra o plano de saúde para garantir esse direito”, atestou a mãe ao acrescentar que teve que se especializar no assunto para ajudar a filha.

“Ao longo desses anos vencemos muitas barreiras, por exemplo, acesso a terapia ABA [Análise do Comportamento Aplicada, ciência cujas intervenções derivam dos princípios do comportamento e possui como objetivo aprimorar comportamentos sociais e ensinar habilidades que façam diferença na vida dos atendidos], melhora da seletividade alimentar, melhora de atenção compartilhada. São nove anos já superando obstáculos, cada fase é um desafio diferente!” afirmou com toda dedicação que, especialmente, as mães atípicas têm.

Governo Estadual

A Secretaria de Estado da Cidadania e da Pessoa com Deficiência (Secdef) afirmou que tem intensificado suas ações em prol das pessoas com TEA em Alagoas, reafirmando seu compromisso com a construção de políticas públicas efetivas e a garantia de direitos.

“Dentro de sua estrutura, a Gerência de Políticas Temáticas para Pessoas com Transtorno do Espectro Autista tem como missão central a elaboração e implementação de políticas públicas direcionadas a este público”, destacou.

Ainda conforme a Secretaria, outra iniciativa crucial é a emissão da Carteira de Identificação para Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea). O documento assegura o acesso e uso prioritário a serviços públicos e privados, especialmente nas áreas de saúde, educação e assistência social, simplificando o acesso a consultas médicas, atendimento em filas preferenciais, vagas em escolas e creches, entre outros benefícios. Até o momento, já foram registradas 6.100 Cipteas.

Ainda conforme a Secdef, visando fornecer informação e apoio às famílias, foi lançado no ano passado, o guia “Compreendendo o TEA: Um Guia para Famílias”. O material tem como foco assegurar o respeito a todos os direitos das pessoas com TEA, desde o acesso à educação e saúde até a participação em atividades de lazer e o cuidado com a saúde mental. A publicação também oferece dicas práticas para minimizar os impactos comportamentais na vida dos autistas e seus familiares.