Cidades

Mães denunciam falta de transparência em seleção na Fundação Bradesco

Defensoria Pública entra no caso após reclamação de que a escola teria apresentado resistência em aceitar inscrição de criança com TEA

Por Valdete Calheiros – colaboradora / Tribuna Independente 05/04/2025 15h10 - Atualizado em 05/04/2025 16h40
Mães denunciam falta de transparência em seleção na Fundação Bradesco
Nickaelly Vieira, mãe de uma das crianças, afirma que falta transparência da Fundação Bradesco - Foto: Arquivo pessoal

Um grupo de mães apresentou denúncia na Defensoria Pública Estadual contra a Fundação Bradesco. Elas alegam falta de transparência na prova seletiva de admissão de alunos.

A Fundação Bradesco é uma instituição ligada ao banco Bradesco. Serve para abater imposto de renda do banco mediante prestação de serviços à comunidade. O principal serviço que presta é oferecer formação educacional de primeiro e segundo graus.

A denúncia teve grande repercussão devido ao fato de a Fundação Bradesco ter razoável conceito na qualidade de ensino. Sempre que tem seleção, as vagas são bem disputadas.

A Defensoria Pública do Estado de Alagoas (DP/AL), por meio do Núcleo da Criança e do Adolescente, confirmou que atendeu, nos últimos dias, o relato da mãe de uma criança com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), para acompanhamento de um processo judicial contra a Fundação Bradesco.

“Segundo relato da mãe, a Fundação teria apresentado resistência em aceitar a ficha de inscrição da criança e não teria garantido isonomia na aplicação da prova”, explicou a Defensoria Pública.

O processo judicial foi ingressado pelo Núcleo de Causas Atípicas da Defensoria Pública e está sendo acompanhado pelo Núcleo da Infância e Juventude. O pedido liminar foi negado e a Defensoria Pública recorreu.

Conforme o grupo de mães, a dúvida acerca da lisura do processo de seleção recai sobre o resultado, mais precisamente, sobre a forma como o resultado é anunciado.

Uma das mães, Nickaelly de Souza Vieira alegou que os dirigentes da Fundação não mostram as notas dos alunos candidatos à vaga. Nem mesmo comunicam se foi aprovado ou não. “Cada responsável deve procurar a secretaria para saber sobre o resultado. E somos apenas comunicados se nossos filhos foram aprovados ou não. Não recebemos detalhe algum sobre nota, rendimento, percentual de acertos e erros. Nada. Absolutamente nada”.

Entre os responsáveis pela denúncia, há rumores de que filhos de funcionários e seus parentes são beneficiados ao tentar vaga na instituição.

Nickaelly de Souza Vieira acredita que é uma das mais prejudicadas pelo fato de ser mãe de uma criança que tem TEA (Transtorno do Espectro Autista). Segundo ela, o filho, de seis anos de idade não recebeu dos dirigentes da Fundação Bradesco a acolhida pedagógica indicada para o caso. De acordo com sua opinião, o filho foi vítima de discriminação.

A nutricionista Taciana Mendes é também uma das mães que questiona, em grupo, a forma como o resultado é apresentado. Ela garantiu que seu filho fez uma boa prova. “O problema é que por mais que a gente pede a nota dos candidatos, requisita a lista de classificação e questiona a possibilidade de revisão da prova, não somos sequer ouvidos".

Para Nickaelly de Souza Vieira, o fato de ser uma mãe atípica lhe confere ainda mais forças para lutar pela transparência no processo seletivo. “Crianças atípicas precisam de um edital que atendam às suas especificidades, às suas peculiaridades. É uma situação muito triste. Quem tem filho atípico entende que nossa luta é diária. É solitária para que nossos filhos sejam tratados como merecem”, justificou.

Ela é mãe de dois filhos. O caçula, além de TEA, tem também TDAH.

“Meu filho foi completamente prejudicado no processo de seleção”

Conforme Nickaelly de Souza Vieira, no dia marcado para sair o resultado, dia 20 de dezembro do ano passado, ao ir até a Fundação para saber se o filho havia sido aprovado ou não, a instituição não permitiu sua entrada, sob a alegação de que a família do candidato aprovado receberia um telefonema confirmando a aprovação.

“Meu filho foi completamente prejudicado. No formulário de inscrição eu afirmei que ele precisava de uma pessoa para acompanhá-lo durante a prova. O que não aconteceu.”

Para Nickaelly de Souza Vieira, também há dúvidas sobre a quantidade de vagas para alunos atípicos. Segundo ela, a Fundação Bradesco afirmou que existiam mais duas crianças com TEA, além do seu filho.

A Fundação Bradesco, por meio de nota, afirmou que o processo seletivo para ingresso na Fundação Bradesco acontece na Educação Infantil e a condução é feita com total transparência, seguindo rigorosamente os critérios definidos em edital público, amplamente divulgado.

“A Fundação Bradesco é o maior projeto de investimento social privado do país, com atuação reconhecida, e adota critérios objetivos para a seleção dos candidatos, baseados na idade e na renda familiar, conforme metodologia prevista no próprio edital. Reiteramos nosso compromisso com a equidade no acesso à educação gratuita e de qualidade e reforçamos que todas as etapas do processo foram conduzidas com responsabilidade, ética e em conformidade com as normas legais e institucionais”, finalizou.

Inaugurada em 1956 pelo Sr. Amador Aguiar, como um dos primeiros projetos de investimento social privado do Brasil, institui-se a Fundação, com o objetivo de proporcionar educação gratuita e de qualidade para crianças, jovens e adultos, prioritariamente em regiões de vulnerabilidade socioeconômica.