Cidades

Conta de água triplica e revolta moradores do Santo Amaro

Comunidade questiona valor cobrado pelo abastecimento e saneamento fornecidos pela empresa BRK Ambiental

Por Gabriely Castelo com Tribuna Independente 24/01/2023 06h32 - Atualizado em 24/01/2023 13h10
Conta de água triplica e revolta moradores do Santo Amaro
Moradores do bairro Santo Amaro relatam que conta de água dobrou e em alguns casos até triplicou - Foto: Adailson Calheiros

Os moradores de Santo Amaro tiveram uma surpresa neste mês ao receber a conta de água. Após aumento significativo, a comunidade questiona o valor cobrado pelo abastecimento e saneamento, serviços realizados pela empresa BRK Ambiental. O preço a ser pago dobrou, em alguns casos, até triplicou.

A maioria da população da Rua Santo Antônio, no bairro do Santo Amaro, sobrevive de salário mínimo ou é autônoma. Alguns teriam de parar de fazer a feira alimentícia para pagar a conta cobrada pela empresa, como é o caso de Fátima Silva, 61, manicure.

“Antes, a conta aqui vinha no valor de R$ 110, R$ 130 no máximo. Esse mês veio R$ 700. Alegam que foi a taxa de esgoto, mas aqui não existe esgotamento. Continuo com o mesmo consumo, não há desperdício nenhum na minha casa. Fora o consumo que estão cobrando com reajuste e alegam que tudo está de acordo com a Arsal [Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de Alagoas]” disse.

De acordo com a BRK Ambiental, o valor da conta é calculado sobre a quantidade de metros cúbicos (m³) consumidos. Cada 1m³ equivale a 1.000 litros de água. A cobrança varia de acordo com as faixas de consumo. Quem se encaixa nas primeiras faixas, consome menos água e paga um valor menor.

Além da conta de água mais cara que o normal, os moradores alegam que a BRK está cobrando a taxa de esgoto em 100% do valor, mesmo sem eles usarem a rede coletora que foi construída.

Jorge Luiz, 52, comerciante, conta que em sua residência vai pagar R$ 400 e no ponto comercial R$ 240.

“A taxa normalmente era R$ 61 em casa. Esse mês veio R$ 400. Quando ligamos para perguntar o porquê do aumento, eles dizem que é taxa de esgotamento, mas aqui nós não usamos isso. Daqui do início da rua [Rua Santo Antônio] até o final não tem esgoto, mas estão cobrando. Fica a céu aberto, como podem ver”, explica o morador.

Maria José, 70 anos, aposentada, acabou de se operar da coluna e vive com uma pessoa deficiente visual em casa. Ela alega que a conta não é compatível com o consumo da residência.

“Antes eram R$ 116. Agora vieram R$ 342. Eles dizem que é por causa do esgotamento. Vieram aqui, olharam o contador e disseram que estava tudo certo. Depois disso, foi que aumentou, de repente chegou essa conta. Não tenho criança em casa, não lavo calçada, as meninas que vivem aqui passam o dia no colégio. Essa é a primeira vez que vem um total desse número“, relata.

A Tribuna Independente solicitou posicionamento da BRK Ambiental, que informou que "vistorias estão em curso para verificar as condições da disponibilidade da rede pública de esgoto em localidades específicas de Santo Amaro, região que foi beneficiada recentemente com a infraestrutura de esgoto construída pela Sanema."

A empresa também reforçou que, "nas regiões onde há rede coletora de esgoto disponível, a interligação dos imóveis é um dever legal de cada cidadão, conforme previsto na Lei 11.445/2007. Nesses casos, a taxa de esgoto é devidamente cobrada pela disponibilidade do serviço, que assegura a destinação correta dos efluentes para a estação de tratamento."

Conforme dados do SNIS, Maceió tem quarta tarifa mais cara do país

Segundo dados do Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS), Maceió é a 4º capital brasileira com o custo de água mais caro do país, com a tarifa de água em R$ 6,78 por m³, ficando atrás apenas de Salvador com 6,99 R$/m³, seguido por Fortaleza com 7,95 R$/m³ e Porto Alegre com a maior taxa, 8,16 R$/m³.

O serviço na capital é fornecido pela BRK Ambiental, empresa que venceu o leilão da Companhia de Água e Saneamento de Alagoas (Casal), que assumiu a gestão dos serviços de tratamento de água e esgoto na Região Metropolitana de Maceió em 2021, por meio de uma concessão de 35 anos.

REAJUSTE

Maceió teve um reajuste que começou a ser cobrado em dezembro do ano passado e foi visto na conta dos consumidores já no primeiro mês do ano. O aumento calculado é duas vezes maior que a inflação.

O acréscimo das tarifas dos serviços de água e esgoto foram anunciados pela empresa em 8 de dezembro de 2022. A resolução foi publicada pela Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de Alagoas (Arsal) no diário oficial do estado em 7 de dezembro.

Antes, o preço residencial cobrado pela BRK na Região Metropolitana era de R$ 5,372 por metro cúbico até 10m³ (sem impostos). Com o aumento, a tarifa foi reajustada para R$ 6,140. O acréscimo de 0,77 por metro cúbico configura um reajuste de 14,3%.

Em Alagoas, a faixa mínima de consumo cobrada pela BRK e Casal é de 10m³. Dessa forma, a tarifa mínima aumentará R$ 7,70 para o consumidor. Se a propriedade residencial tiver ligação de esgoto, o valor dobra e o aumento mínimo será de R$ 15,40.