Cidades
Por que as crianças estão cada vez mais insatisfeitas e entediadas?

“A vida de insatisfação refere-se a uma dinâmica que estamos construindo, e que, muitas vezes, atrelada à ideia de que não pode haver crianças desconfortáveis, acabamos tentando fazer a criança ser feliz a todo custo, ou seja, ela não pode ser contrariada pelas circunstâncias da vida, não pode ser exigida, não pode viver as consequências de suas escolhas”, observou a Cristina Araújo, psicóloga clínica infantil, especialista em Psicologia jurídica e mestra em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
Ao TH Entrevista, a especialista explicou que é muito comum os pais caírem na lógica da satisfação imediata, do bem-estar a qualquer custo, na lógica da satisfação do desejo sem freios, que é facilmente dissipado.
“E nisso, o que estamos ensinando aos nossos filhos? Que a existência está pronta para ofertar prazer sem medida, mediado pela falta de enfrentamento da própria existência. Essa lógica de satisfação é muito primitiva no ser humano. No desenvolvimento infantil mencionam-se duas fases importantes que é dependência absoluta, em que não há separação entre corpo e meio no sujeito, e quando ainda não existe um self integrado, onde o sujeito é completamente dependente do ambiente, fase em que a mãe se dedica devotamente à criança; e a dependência relativa, para onde a criança vai caminhando e precisa alcançar certa autonomia à medida que seu cérebro vai amadurecendo”, salientou.
No entanto, segundo a psicóloga, essas fases são bem iniciais, e por isso é importante que papais e mamães se perguntem: “Que lugar estou ocupando na construção do meu filho? Eu permito que ele viva os desconfortos que são naturais na vida ou eu tento poupá-lo ao menor sinal de choro, de insatisfação? Qual o meu propósito como mãe, pai, educador? Meu filho precisa me ver como uma pessoa legal, me amar e para isso eu jamais irei frustrá-lo ou impedir que ele viva uma frustração?”, deixou a indagação.
A especialista ressaltou que nessa tentativa de manutenção da satisfação a todo o momento e da estrutura do desejo, o que aparece nessa criança são constantes reclamações, porque ela está sendo treinada numa lógica de que pode ter o que quiser, no momento que quiser, sem esperar o tempo do outro, o tempo dela e o tempo certo.
Para Cristina Araújo, isso sem considerar a dinâmica do imediatismo, do sucesso sem esforço, da satisfação voraz e fluida, que não tem propósito, a não ser o prazer pelo prazer, que logo se esvai e dá lugar a outro, e outro e outro desejo, numa lógica viciante.
“A educação dedicada às nossas crianças precisa estar alicerçada em valores que as levem à construção da autorresponsabilidade, do respeito ao espaço do outro, à dedicação, ao plantio, porque isso é vida real, e ainda, que se valorize o processo de construção. O imediatismo está num clique, está nas telas, mas isso é virtual. A vida real é bem diferente”, frisou.
“O dinheiro fácil, a boa nota sem esforço ou esforço mínimo, o querer ganhar sempre, sabendo que a vida requer de nós a humildade e a sabedoria proveniente das experiências de aprender com perdas, erros, acertos, disciplina. Nossa função como pais é fazer crescer e nos tornarmos desnecessários”, completou.
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