Cidades
Jorgraf e GQTech: economia do mar contra pobreza e pela renda
Seminário debateu estratégias de desenvolvimento sustentado na Região Metropolitana de Maceió

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) o futuro da erradicação da pobreza e da miséria virá do mar, porque os recursos marítimos são muito maiores que os recursos terrestres. Cerca de 60% do planeta é água. Esse assunto foi o tema central do seminário Impacto da Convergência na Região Metropolitana de Maceió (RMM), que aconteceu na sexta-feira (26), no hotel Jatiúca, O evento foi uma realização da Cooperativa de Jornalistas e Gráficos de Alagoas (Jorgraf), em parceria com a empresa alagoana GQTech Tecnologia e Gestão.
A conferência reuniu lideranças ambientais, especialistas e debatedores, que fizeram um alerta para as condições críticas da RMM, que passa hoje por níveis extremamente preocupantes, principalmente quanto à degradação ambiental e social da região. Por outro lado, os conferencistas apontaram também soluções e saídas para a geração de emprego e renda, o aumento da segurança hídrica, a qualidade da água, segurança jurídica para investimentos, projetos sustentáveis para a economia no setor informal e a convergência de conhecimentos, para conectar as pessoas e dar novas oportunidades.
“A abordagem estratégica desse seminário pela convergência setorial é o nosso foco fundamental. Nosso propósito foi evidenciar soluções para problemas cruciais de nossa região metropolitana, resultantes da fragmentação de políticas e planos que não convergem para um resultado sustentável. Este seminário é um alerta para iniciar a reversão dos indicadores inadequados de sustentabilidade”, assinalou o coordenador do evento, Antonio Pinaud, diretor da GQTECH, especialista em Gestão Estratégica pela Escola de Economia da FGV/RJ.
Entre os conferencistas que fizeram suas exposições no seminário está o convidado especial, Renato Regazzi (leia entrevista nessa página), do Rio de Janeiro, que falou sobre o principal assunto dos debates: a economia do mar.
Grandes nomes
Mas o seminário também trouxe grandes nomes de nosso estado, como os professores e especialistas Manoel Maia Nobre, que defendeu a gestão sistêmica das bacias hidrográficas e dos recursos hídricos; Antônio Santiago, que falou sobre agricultura e modelos urbanos sustentáveis e Pablo Viana, que indicou problemas e soluções para assegurar a convergência tecnológica da Região Metropolitana.
Outras “cabeças pensantes” também marcaram presença com palestras que trouxeram à tona assuntos urgentes para a RMM. O economista Fábio Leão chamou a atenção para os números da pobreza em Alagoas, que está no terceiro do ranking no país. Ele defendeu um planejamento em conjunto dos municípios que formam a RMM e soluções como o ICMS Verde. A advogada e mestre em gestão ambiental Renata Lelis alertou pela falta de sintonia entre os municípios na questão do ordenamento jurídico para os planos de bacia e a segurança jurídica para investidores. Ela defende uma revisão dos planos de bacia.
Já a design e arquiteta Rosa Piati expos sobre o potencial do design e do trabalho artesanal junto às comunidades pobres da RMM, dando exemplo de como essas comunidades ganharam oportunidade com sua vocação e habilidade. Ela falou também como o conhecimento popular trabalhado por artesãos, bordadeiras, escultores - com o aperfeiçoamento pelo design - está transformando cidades inteiras na RMM.

Regazi: “Economia do mar é feita por um tripé, desenvolvimento econômico e ambiental, inclusão social e erradicação da pobreza”
Tribuna Independente – O que significa a Economia do Mar ou Economia Azul, como a população pode entender essa forma de desenvolvimento social?
Renato Regazzi – É a atividade que usa o mar e o oceano como meio, e como recurso, e envolve setores como a pesca, o turismo, a náutica, a agricultura, a partir da organização desses setores para gerar emprego e renda na região. A economia do mar é constituída por um tripé: o desenvolvimento econômico, o desenvolvimento ambiental; a inclusão social e a erradicação da pobreza. No caso da RMM devemos incluir também as lagoas e os rios. Mas, se não cuidarmos da qualidade da água, do saneamento, da balneabilidade não chegaremos a nenhum lugar. Tudo isso é fundamental para desenvolvermos esse modelo.
Tribuna Independente – Aqui, na Região Metropolitana, no entorno do Complexo Laguna Mundaú-Manguaba, temos sete dos 13 municípios que formam a RMM. O molusco sururu é a base de sustentação das famílias ribeirinhas. A economia do mar tem alguma alternativa para melhorar a produção e venda por exemplo?
Renato Regazzi – O sururu é um exemplo de ativo vivo, que pode ser transformado em um produto iconográfico nas áreas de gastronomia e por isso o público pode pagar um preço premium. Para isso temos que qualificar o processo de extração e também olhar para a maricultura, porque a gente não pode usar a ciência e a tecnologia também para o sururu? Que não seja só uma atividade extrativa, mas fazer com que sejam criados para gerar emprego o ano inteiro, que favoreça os pescadores e suas famílias. Mas temos que desenvolver uma indicação geográfica para o sururu como produto, único e singular e que só existe naquela região.
Tribuna Independente – E o turismo? Como fica nesse contexto da economia do mar?
Renato Regazzi – Pela sustentabilidade. O turismo é um dos mais importantes vetores. Se você pegar o turismo europeu, por exemplo, ele está na frente de todos os outros setores. No caso do Brasil temos um potencial gigantesco de energia, cujo percentual chega a 89,46% da economia. Além disso o setor tem grande capacidade de gerar emprego e renda. No caso da RMM, temos que vender um turismo sustentável, que vai usar a região que tenha boa balneabilidade, onde a água e o saneamento são fundamentais nesse processo.
Tribuna Independente – Um forte viés desse salto da economia do mar está em levar esse modelo para as escolas. É isso mesmo.
Renato Regazzi – Em 2017, Portugal criou a Escola Azul, quando passou a desenvolver um modelo de levar para os alunos quais são as potencialidades dos oceanos e como devemos explorá-lo de forma sustentável.AI ideia é criar no imaginário dos alunos conhecimento para sua vida de adulto, mostrando profissões ligadas ao mar, que vão dar dignidade às pessoas.
Tribuna Independente – O senhor acaba de chegar de Portugal, onde houve um encontro mundial para discutir exatamente o futuro da economia do mar. Como isso pode ser aplicado aqui no Brasil, no Nordeste ou em Alagoas?
Renato Regazzi – Portugal é referência em economia do mar e eu trouxe novidades para vocês. Como a criação da bluetec em tecnologia do mar, com a criação de startups. E em primeira mão trazer o Plano de Desenvolvimento da Economia Azul de Portugal, que pode ser adaptado e replicado nas regiões brasileiras. Esse plano se enquadra perfeitamente na nossa realidade.
Tribuna Independente – Mas as adaptações seriam regionais, não é?
Renato Regazzi – Claro que sim, e vocês do Nordeste levariam vantagem, porque, pela logística, ficam mais perto da Europa. Outros fatores são as energias renováveis da região, que é forte no Nordeste, como a eólica, a solar. O que é extremamente proveitoso para o futuro e a prosperidade de todos.
Tribuna Independente – Então como começar para chegar nesse estágio?
Renato Regazzi – A Região Metropolitana der Maceió, por exemplo, é um polo da economia do mar de projeção nacional, e até internacional. O começo é a integração e convergência de todos, exatamente como vocês estão fazendo aqui nesse seminário. Acho que pode se partir de um planejamento técnico inicial.
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