Cidades

Laudo indica despejo de produtos proibidos na Lagoa Mundaú

Análise da Ufal aponta que mortandade de peixes foi provocada pela presença de substâncias químicas como agrotóxicos e fertilizantes

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 18/03/2022 06h15 - Atualizado em 18/03/2022 06h20
Laudo indica despejo de produtos proibidos na Lagoa Mundaú
Análise indica alto nível de poluição e presença de metais pesados e nocivos ao meio ambiente e aos seres humanos - Foto: Edilson Omena

Pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) identificaram as causas da mortandade de peixes registrada no último domingo (13). Conforme laudo divulgado ontem (17) foi o lançamento de compostos químicos proibidos e fertilizantes conhecidos como NPK que provocaram o episódio. Além disso, as análises indicaram um alto nível de poluição com presença de metais pesados e extremamente nocivos ao meio ambiente e aos seres humanos.

O coordenador das análises, professor Emerson Soares classifica o caso como um “crime contra a saúde pública”. “Esse laudo traz um problema gravíssimo. Isso é grave. Do ponto de vista legal isso é criminoso. Usar um produto, um pesticida, que é proibido pela OMS inclusive. O outro composto, o NPK é de fertilizante e agroquímicos também. Por isso tem que ser analisado. Quem é que trabalha com isso? Cana, plantação às margens? Não é numa área tão longe, porque o peixe não morreu em toda a área, foi em uma certa área. Além de tudo isso tem a presença de metais pesados que pode estar em algum produto químico que vem sendo acumulado também”, detalha.

Emerson esclarece que as análises identificaram a ocorrência de duas situações distintas: o lançamento de produtos químicos que ocasionaram a morte dos peixes e o alto nível de poluição na Lagoa Mundaú, resultado de uma contaminação que vem se acumulando. Ainda segundo o pesquisador não é possível determinar a origem desse lançamento ilegal.

“Há problemas graves pra o meio ambiente e problemas graves pra saúde humana. Para o meio ambiente, os peixes. É o pesticida que foi lançado, alguém lançou e a gente não sabe quem. Não tem como dizer quem. Alguém lançou esse produto e matou os peixes. O produto é altamente tóxico, volátil e ao mesmo tempo inodoro. Então é perigoso tanto pra os animais como para as pessoas. Além do NPK, que é nitrogênio e potássio e estava em níveis altíssimos, e isso produz potássio e o manganês. Então esses aí são os que têm causa na mortalidade direta no peixe. Agora para os humano o que é perigoso é o mercúrio. O que também é perigoso para o peixe. Então isso tem que estar atento, porque esse dado de mercúrio não é da noite pro dia, isso vem sendo lançado há muito tempo no ambiente. Isso já vem ocorrendo há muito tempo pra ter esses níveis aí. E os níveis de manganês, de mercúrio e esse pesticida mata. Isso mata, isso é um crime de saúde pública”, argumenta.

Resultados são encaminhados ao MPF para adoção de medidas

Os resultados foram encaminhados ao Ministério Público Federal (MPF) para adoção de providências.
“Se o poder público, o Ministério Público botar pra frente, como eles já receberam o documento, já enviei pro Ministério Público Federal. Eles me pediram eu já enviei. Então eles vão começar a trabalhar nisso aí. E a gente pode ajudar”, defende.

PEIXES MORTOS

No último domingo (13), pescadores da região do Flexal, em Bebedouro, registraram mortandade de peixes na Lagoa Mundaú. Ainda no fim de semana, pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) fizeram coleta de amostras. Já na segunda (14) o Instituto do Meio Ambiente (IMA) também recolheu material para análises.
O pescador e líder comunitário Antônio Domingos, detalhou a reportagem que é comum o aparecimento de peixes mortos às margens da Lagoa Mundaú, no entanto, o que chamou a atenção desta vez foi o surgimento de uma mancha escura na água.

“De 5h pras 6h da manhã os peixes começaram a sair da lama e isso sempre acontece, mas algo que chamou nossa atenção foi a mancha de óleo. Eles estavam cobertos pelo óleo e isso nos deixou preocupados. Os próprios moradores colheram o óleo e estamos aguardando, deram o prazo de uma semana para determinar o que aconteceu. A morte dos peixes, isso vem acontecendo frequentemente, mas a mancha de óleo é a primeira vez. Eu não posso afirmar o que é essa mancha de óleo, de onde vem, não temos fontes de seguras, é algo que é novo pra gente”, lembra o pescador.