Cidades

Pandemia afeta saúde mental dos alagoanos, segundo pesquisa

Estudo indica que intolerância à incerteza desempenha papel relevante no processo de adoecimento da mente

Por Ana Paula Omena com Tribuna Independente 23/02/2022 09h57 - Atualizado em 23/02/2022 10h37
Pandemia afeta saúde mental dos alagoanos, segundo pesquisa
Pandemia desencadeou série de sintomas relacionados a transtornos psiquiátricos em pacientes de Alagoas - Foto: Imagem ilustrativa

Estudos pelo mundo indicam que as sequelas da Covid têm gerado problemas emocionais nos pacientes associadas muito mais a distúrbios psicológicos ou neurológicos que respiratórios. Esta realidade também foi observada em uma pesquisa realizada no ano passado pela professora Dra. Vanina Papini, coordenadora Adjunta do curso de Psicologia do Centro Universitário em Maceió (Cesmac) e seus alunos.

A análise, feita por meio de formulário digital para a população, identificou, que diante da gravidade da situação pandêmica, com a orientação em relação ao uso de máscaras, higienização frequente das mãos, isolamento e distanciamento social como medida de contenção da propagação do vírus, desencadeou o surgimento de uma série de sintomas relacionados a transtornos psiquiátricos, tais como ansiedade, distúrbios do sono, depressão, estresse pós-traumático, compulsão alimentar, além de diminuição na prática de atividades físicas e aumento na percepção de dor em pessoas das mais variadas atividades ocupacionais e acadêmicas.
Conforme a pesquisa, evidências científicas, com estudos realizados ao redor do mundo, corroboram os mesmos resultados. 

Vanina Papini destaca que emoções devem ser consideradas e observadas (Foto: Arquivo Pessoal)

“O aparecimento de uma doença súbita com risco elevado de morte, a incerteza quanto às consequências de curto e longo prazo, e o prolongado período de isolamento, leva a um grande aumento de pressão psicológica na população, impactando diretamente e negativamente na saúde mental. Situações tais como o medo, frustração, tédio, sentimentos de vulnerabilidade, a perda da rotina e sensação de solidão afetaram, e ainda afetam, as pessoas nestes quase dois anos de pandemia”, salientou a professora Vanina Papini.

“Ao avaliar diversas pesquisas, observa-se que a intolerância à incerteza desempenha um papel relevante no processo de adoecimento mental durante a pandemia”, frisou a docente.

Para ela, é imprescindível manter os hábitos de vida saudáveis ativos, voltados para a saúde, assim como ter um comportamento preventivo que promova a qualidade de vida e bem-estar.

A Síndrome Pós-Covid 19 (SPC) consiste na persistência dos sintomas por semanas ou meses após a infecção pelo SARS-CoV-2, sendo considerada como uma condição multissistêmica e podendo estar associada a alterações no Sistema Nervoso Central, no Sistema Musculoesquelético, bem como a alterações psicológicas.

Ainda segundo a pesquisa, as evidências clínicas e científicas sobre os efeitos a longo prazo da SPC estão evoluindo, com relatos de sintomas multivariadas que incluem dor crônica, fraqueza muscular, dificuldade para respirar e déficits cognitivos (alterações de concentração e memória e fadiga mental), fadiga intensa, transtornos de ansiedade, transtornos depressivos, distúrbios do sono e estresse pós-traumático e sintomas neurológicos (perda do olfato, tonturas e dores de cabeça) que podem persistir por semanas ou meses, impactando diretamente na qualidade de vida.

Implicações psicológicas e psiquiátricas secundárias tendem a ser subestimadas

A pesquisa também faz uma observação sobre as implicações psicológicas e psiquiátricas secundárias ao fenômeno pandêmico, que tendem a ser subestimadas e/ou negligenciadas, gerando lacunas nas estratégias de enfrentamento e aumentando a carga de doenças associadas.
“Durante as pandemias, é comum que os gestores, profissionais de saúde, e pesquisadores voltem a atenção ao patógeno e ao risco biológico, numa tentativa de entender os mecanismos fisiopatológicos envolvidos e propor medidas para prevenir, conter e tratar a doença”, salientou Vanina Papini.

“Para entender as repercussões psicológicas e psiquiátricas de uma pandemia, as emoções envolvidas, como medo e raiva, devem ser consideradas e observadas. Pode-se afirmar que, em tempos de pandemia, o medo (de contrair a doença e sofrer as consequências provocadas por ela), contribui para a elevação dos níveis de ansiedade e estresse em indivíduos saudáveis, além de intensificar os sintomas daqueles com transtornos psiquiátricos preexistentes”, explicou a análise.
Estudos de tragédias anteriores mostraram que as implicações para a saúde mental podem durar mais tempo e ter maior prevalência que a própria epidemia e que os impactos psicossociais e econômicos podem ser incalculáveis se for considerada sua ressonância em diferentes contextos.

“Portanto, é imprescindível que as pessoas estejam atentas a alguns sinais que possam surgir e que possam indicar sofrimento mental, tais como sintomas de tristeza persistente, ansiedade, alterações no sono, alta irritabilidade, comportamentos físicos e verbais agressivos, medo desproporcional, disforia, sentimentos de desamparo ou rejeição, entre outros. Como também, buscar ajuda especializada – psiquiatria e psicologia – quando esses sintomas forem identificados”, pontuou Vanina Papini.

CLÍNICA-ESCOLA DE PSICOLOGIA

O Cesmac disponibiliza atendimento psicológico à população em geral sem que seja necessário agendamento. Oferece o serviço de Plantão Psicológico, que, caso necessário, o paciente é encaminhado para o atendimento psicoterápico. Mais informações 3215-5178. A Clínica-Escola de Psicologia fica localizada na Rua Íris Alagoense, número 472, no bairro do Farol, em Maceió.

Atendimento em neurologia cresce 344% em unidade pós-Covid de Maceió

Assessoria
Centro de Especialidades pós-Covid atendeu em 2021 mil pacientes com sequelas da Covid contra 225 em 2020


A busca pela especialidade em neurologia aumentou consideravelmente no Centro de Especialidades Eliane Machado, que tem como finalidade acompanhar e tratar os pacientes pós-Covid-19 na capital alagoana. Em 2020 foram feitos na unidade 225 atendimentos nesta especialidade. Já em 2021, foram cerca de 1.000 atendimentos no ano. Os números são da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

As sequelas físicas da Covid têm gerado depressão, ansiedade e estresse pós-traumático nos pacientes, entre eles, a perda de memória. De acordo com a SMS, com base no sistema de análise de dados (TabWin), observou-se, na comparação entre 2020 e 2021, que a procura pelo atendimento em psiquiatria aumentou em 9% e em psicologia aumentou 35%, o que demonstra que a população tem buscado o apoio psicológico para superar problemas na saúde mental.

A pasta ressaltou que o quantitativo de atendimentos vem reduzindo de 2020 para cá. Naquele ano, houve uma média de 830 atendimentos por mês, já em 2021 foram registrados, em média, 760 atendimentos por mês. Conforme a secretaria, essa redução pode ser justificada pela queda no número de casos de Covid no decorrer do ano passado.

“Para ser atendido no Centro, o paciente precisa ser encaminhado de hospitais de referência para internação de pacientes com Covid-19, unidades básicas e especializadas da rede municipal, unidades de atendimento da síndrome gripal e outros postos de atendimento médico no município, como Consultório na Rua e Unidades de Pronto Atendimento do município, por meio de agendamento no sistema do Centro de Gestão Integrada da Saúde (Cegis), conforme a disponibilidade da vaga para atendimento”, explicou a SMS por meio da assessoria de comunicação.

O Centro de Especialidades Eliane Machado funciona dentro do PAM Salgadinho, no Poço, e conta com o atendimento de nutricionista e sete médicos com especialidade em alergologia, pneumologia, neurologia, otorrinolaringologia e cardiologia. A unidade funciona de segunda a sexta-feira, das 7 às 19 horas.

O Centro de Especialidades Eliane Machado é a primeira unidade criada para tratamento de pacientes com sequelas da Covid-19 em Maceió e recebeu esse nome em homenagem à primeira médica que faleceu vítima da Covid-19 no estado.