Cidades

Evento discute futuro dos moradores da região dos Flexais

Comunidade se encontra em ilhamento socioeconômico e a condição não está inclusa no acordo para realocação

Por Texto: Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 16/02/2022 11h33
Evento discute futuro dos moradores da região dos Flexais
“Não podemos ser abandonados num bairro fantasma”, afirma a moradora Joseane Hilário durante reunião - Foto: Edilson Omena

Um encontro entre moradores dos Flexais, em Bebedouro, Prefeitura de Maceió e Defensoria Pública do Estado (DPE) discutiu ontem (15) o futuro da comunidade. A região sofre os efeitos sociais do afundamento de solo que atinge cinco bairros da capital alagoana.

O líder comunitário Maurício Sarmento explica que o encontro foi uma oportunidade dos moradores serem ouvidos. Atualmente, 800 moradores continuam residindo no Flexal e a comunidade tem lutado para deixar o local a exemplo dos moradores dos demais bairros afetados pelo afundamento.

Moradora há 20 anos do Flexal, Joseane Hilário, detalha o sofrimento que vem enfrentando na região. Ela pede que as autoridades olhem para o problema que eles vêm passando.

2ª Rodada de Conversa discutiu mais uma vez futuro dos moradores dos Flexais, que lutam para deixar local


“O bairro foi totalmente esvaziado. Não temos comércio, não temos onde comprar pão, nada. Violência, abandono, tudo que você possa imaginar nós estamos vivendo. Fomos abandonados num bairro fantasma. Estamos lutando para que a gente saia e recomece nossas vidas num bairro que tenha dignidade”, desabafou.

A Tribuna Independente vem acompanhando a luta dos moradores pela saída do bairro de Bebedouro. A comunidade se encontra em situação de ilhamento socioeconômico e a condição não está incluída no acordo para realocação.
“Esse acordo diz que só pode sair as áreas com subsidência, risco de afundamento e segundo eles nessa rua não tem risco. Que não temos o direito, ninguém pode fazer nada por nós. Nossa luta é para mostrar que nós temos risco de subsidência porque as casas estão rachando também e queremos que reconheçam essa área urgentemente. Fizeram um acordo sem consultar a população para saber o que se preferia. Não queremos revitalização. Nos disseram que vai ser apresentado um plano de revitalização de pagar 25 mil a cada morador pra ficar calado e continua aqui, pintar meio-fio, pintar escada e a gente ficar abandonado e calado. Não aceitamos, nossas casas não valem isso, nossa dignidade não vale isso. Estamos aqui para ouvir e dar um não bem grande”, argumenta.

Comunidade recusa proposta da Braskem para revitalização da área

Esta é a segunda vez que os órgãos – DPE e Prefeitura – organizam um encontro entre a comunidade e as instituições. Intitulado “2ª Rodada de Conversa” o objetivo é “ouvir os moradores dessas comunidades, quais são os seus desejos, considerando que eles foram afetados indiretamente pelo afundamento do solo, uma vez que os moradores ficaram ilhados.”

Desde o ano passado, um estudo contratado pela Braskem visa revitalização da área. A ideia vem sendo combatida pelos moradores.

“Defendemos o que os moradores têm direito, e o que eles querem tem previsão no Estatuto da Cidade, que em seu art. 43, diz que para garantir a gestão democrática da cidade, deverão ser utilizados, entre outros, os seguintes instrumentos: debates, audiências e consultas públicas. Ora, se nessa região existem alternativas, inclusive realocação com indenizações, o mínimo que se espera é que os moradores saibam previamente de todas as alternativas e participem da decisão que impactará diretamente em seus destinos. Não é porque se trata de uma comunidade humilde, carente, que seus moradores não sabem o que é melhor para suas vidas”, disse o coordenador do Núcleo de Proteção Coletiva da Defensoria Pública, Ricardo Melro.

NOTA

Em nota, a Braskem informou que, desde a divulgação do diagnóstico da Defesa Civil, vem empreendendo esforços e mantendo debates técnicos com a participação não só da Defesa Civil Municipal, como também dos Ministérios Públicos Federal e Estadual, Defensoria Pública da União e Município de Maceió para encontrar as melhores soluções para a região dos Flexais.

“A empresa foi convidada para a audiência pública, mas não pôde participar. A escuta da população é medida de grande importância e faz parte do processo de construção das ações em discussão com as autoridades públicas. A prioridade da Braskem é a segurança das pessoas, propondo e executando as ações necessárias para isso”, diz a nota.