Cidades

Duro cenário atual impõe cada vez mais desafios a jornalistas

Fake news, pandemia e ameaça ideológica são elementos lembrados pelos profissionais como mais nocivos ao ofício

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 07/04/2021 08h28
Duro cenário atual impõe cada vez mais desafios a jornalistas
Reprodução - Foto: Assessoria
7 de abril, Dia do Jornalista. Um dia marcado pelas lutas e resistência dos profissionais. Este ano, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) traz luz ao tema “Sem jornalismo não há democracia”. A Tribuna Independente ouviu relatos de jornalistas das mais diversas áreas de atuação que expuseram seus pontos de vistas sobre o duro cenário atual. Na avaliação do presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Alagoas (Sindjornal), Izaias Barbosa, o jornalismo é um dos tantos setores sociais que não pode parar. “Todos os dias precisamos sair das nossas casas para cumprir a missão de informar a sociedade sobre o que acontece. Noticiar a morte de alguém acometido por essa doença, fato que tem levado tantas vidas. O jornalismo não parou. Existem os profissionais que têm que ir à rua, ir ao local do fato. A gente tem lutado, cumprido com a nossa obrigação que é informar a sociedade. Lutamos contra a informação falsa, temos o dever de relatar o fato com a veracidade e ainda temos que provar que a nossa é a verdadeira notícia. Vivemos com muita perseguição, sendo agredidos pelo governo federal, que é onde temos sofrido agressões, além de incentivar a agressão a jornalistas. Vivemos uma luta constante, mas é nosso dever de lutar para que tenhamos uma democracia plena e vamos continuar lutando. Travamos lutas ao longo da história, perdemos vidas por isso e não será agora que a gente vai esmorecer, vamos lutar de cabeça erguida”, diz. Para o jornalista e diretor da Cooperativa dos Jornalistas e Gráficos do Estado de Alagoas (Jorgraf), Flávio Peixoto, o trabalho do jornalista se confunde com  o exercício da democracia. Ele avalia que apesar das dificuldades, o jornalismo profissional deve resistir e fará a “diferença”. “Vivemos um momento de ataque à democracia. O nosso trabalho se confunde com o exercício da democracia, ouvir todos os lados da notícia, publicar apuração, opiniões das mais diversas, enfim. É inaceitável que a gente conviva com censura, com perseguição. Defendemos a liberdade de expressão. Está no DNA do jornalista o compromisso de levar a informação correta, verdadeira, relatar o fato como aconteceu, com fidelidade. É a grande identidade nossa de jornalista e é o que faz a diferença. Com as redes sociais, temos um terreno propício, infelizmente, para a propagação da notícia falsa, e o trabalho do jornalismo sério, ético faz a diferença. Por isso ressaltamos o valor do jornalismo profissional. Eu costumo dizer que um veículo de comunicação tem CNPJ, endereço fixo, é diferente do aventureiro que propaga notícia falsa na internet”, aponta. O também jornalista Jean Albuquerque é enfático. Para ele a profissão está em constante ameaça. “Querendo ou não temos a crescente do militarismo no poder, o descrédito dos veículos tradicionais de comunicação e ao mesmo tempo, consegue reagir com alternativas inovadoras. Um grande desafio do jornalismo tem sido também o de nos colocar na posição de ser empreendedor, empreender as próprias ideias. Outro desafio é o futuro da profissão. O que se tem para o futuro? E uma profissão muito dinâmica e ao mesmo tempo muito incerta. E se não acompanharmos o que é a tendência, acabamos nos perdendo. Mesmo assim, temos um cenário de desvalorização da profissão. Temos que pensar para além do jornalismo tradicional, mídias alternativas, coletivos. A mídia independente também é viável, mas é preciso pensar em público, em estratégias de como se manter”, pontua. Profissionais relatam dificuldades diárias para apurar informação   Com quase vinte anos de ofício, o repórter fotográfico Edilson Omena relata em detalhes a intensidade do sacrifício que os profissionais do jornalismo têm feito diariamente. [caption id="attachment_438962" align="alignright" width="276"] Repórter fotográfico Edilson Omena dá detalhes do ofício na pandemia (Foto: Acervo pessoal)[/caption] “Tem sido muito difícil. Temos a preocupação em não expor a família, passamos o dia todo na rua, fotografando cemitério, hospitais. Todos nós temos arriscado as nossas vidas. Mesmo tomando todos os cuidados e as precauções para evitar que nossa família seja contaminada, é um sacrifício um ano nessa rotina. Graças a Deus não adoeci. Uma das piores memórias para mim, foi precisar fotografar. O pior ano de fotojornalismo para mim foi essa pandemia. Foi um ano muito difícil, muito marcante e muito perigoso, difícil. Mas graças a Deus seguimos na luta”, desabafa. A experiente jornalista Liara Nogueira reforça que o combate às notícias falsas tem sido exaustivo. Ela afirma que, principalmente em relação à pandemia, as fake news se tornam ainda mais perigosas e exigem que o profissional permaneça vigilante. “Nosso papel tem sido desafiador nessa pandemia.  Principalmente no combate às informações falsas (fake news) que tanto têm provocado insegurança e prejudicado as pessoas, e da forma como elas têm se espalhado com rapidez na internet, nas redes sociais. Nossa maior preocupação é que a população tenha acesso às informações apuradas e checadas diante de uma doença imprevisível e ainda misteriosa. Precisamos agir como fiscais com tantas desinformações e muitas vezes partindo das próprias autoridades. Não tem sido fácil lidar com a falta de unidade nas informações oficias de quem está no poder público. Portanto nosso melhor caminho foi ter como base a ciência e as orientações dos especialistas da saúde, apurando, checando, para informar com segurança. O jornalista precisou ficar mais atento a essa questão”, destaca. Liara aponta ainda outro fator de risco para o jornalista: a exposição ao vírus. A maior parte desses profissionais não teve o privilégio de parar, afinal de contas, a notícia não para. “Sem falar dos riscos que corremos lá fora. Assim como eu muitos colegas estão tendo que sair de casa todos os dias”, enfatiza.