Cidades
Transporte clandestino cresce na pandemia e prejudica ainda mais setor oficial
Segundo órgão de fiscalização, crescimento foi de mais de 47%, enquanto queda de passageiros no transporte coletivo foi superior a 50%
10/09/2020 08h10

Tabela com o número de redução de passageiros nos últimos anos (Fonte: Sinturb)
Borges acrescenta que com o aumento dos transportes irregulares, os prejuízos são diversos para as empresas. "Queda de receita e consequentemente o impedimento de realizar nossos investimentos como renovação de frota, as empresas desde 2014 trabalham com uma ordem de serviço sem levar em consideração a queda de passageiros'', alerta. Em Maceió, condutores irregulares criam grupos no WhatsApp para burlar fiscalização Na capital alagoana não é incomum se deparar com motoristas de táxis, carros de passeios e até de aplicativos fazendo o transporte irregular. No Centro de Maceió por exemplo, há motoristas fazendo o tráfego de passageiros para várias localidades. O esquema funciona da seguinte forma: Uma espécie de cobrador/auxiliar vai nos pontos de ônibus e fica chamando as pessoas informando do itinerário e valor da corrida. Ponta Verde, Vergel, Pajuçara, Farol, Santa Lúcia, Salvador Lyra e Benedito Bentes são alguns locais em que é comum encontrar o transporte irregular. A reportagem confirmou o esquema. Um dos repórteres se passou por passageiro e pegou um dos carros, começou a conversar sobre as fiscalizações e sem saber que estava conversando com um jornalista, o condutor (Gabriel Inocêncio - nome fictício) disse que os motoristas que fazem o transporte para determinados bairros se conhecem na maioria das vezes e criam grupos no aplicativo WhatsApp para irem se falando. "Assim, quando há fiscalização, a gente fica sabendo no grupo e desviamos por outro local para evitar de ser parado''. A imagem mostra o momento exato que o repórter do portal Tribuna Hoje entra em um desses táxi-lotação que fazia a linha Centro/Santa Lúcia/Benedito Bentes de forma irregular.Repórter do portal Tribuna Hoje entra em lotação para tentar confirmar esquema (Foto: Edilson Omena)
A reportagem também conseguiu gravar um áudio que mostra o condutor chamando os passageiros e falando o valor da corrida. Já dentro do veículo, o repórter pergunta se a corrida seguia o mesmo itinerário do transporte regular, e o motorista afirma que sim. [audio mp3="https://tribunahoje.com/wp-content/uploads/2020/09/WhatsApp-Audio-2020-09-09-at-14.59.39-online-audio-converter.com_.mp3"][/audio] Um outro esquema feito por esses condutores e constatado pela reportagem é que muitos desses deles deixam seus veículos parados em um estacionamento privativo - quando os cobradores conseguem o número de passageiros para um determinado bairro, eles levam esses passageiros até o estacionamento, lá dão uma gorjeta ao vigia e saem já com a lotação.Em Maceió, não é incomum se deparar com motoristas de táxis, carros de passeios e até de aplicativos fazendo o transporte irregular (Foto: Edilson Omena)
LEVANTAMENTO O aumento no número de transporte clandestino na capital alagoana é confirmado de acordo com um levantamento feito pela Federação das Empresas de Alagoas e Sergipe (Fetralse). No início de agosto, segundo o presidente do Sinturb, Guilherme Borges, o Ministério Público Estadual (MPE) também recebeu os dados de motoristas fazendo o transporte clandestino, com tipo de veículo, placa e bairro onde estavam atuando de forma irregular. De acordo com levantamento realizado pela Federação, veículos são flagrados diariamente na função ilegal de transporte de passageiros, o transporte clandestino é uma concorrência predatória, realizada por automóveis particulares, vans, táxis e taxis-lotação, linhas intermunicipais do serviço complementar e mototáxis. ''Tais veículos competem diariamente com as linhas regulares do sistema de transporte de Maceió, o que impacta diretamente no número de passageiros transportados pelas empresas. Além do aumento desses veículos foi possível constatar a não obrigatoriedade de máscara e muito menos a regularidade da higienização desses veículos, o que difere totalmente do serviço prestado pelas empresas de transporte, que reforçaram a limpeza, adquiriram pulverizadores, geradores de ozônio e são frequentemente fiscalizadas sobre a higienização e esterilização dos veículos. As empresas passaram a transportar apenas passageiros de máscara, além de iniciativas pra melhorar o serviço, os rodoviários passaram a se capacitar no Sest Senat sobre o atendimento ao cliente e transporte de passageiros em meio à pandemia. Campanhas foram feitas nos terminais para informar sobre os cuidados contra o Covid-19 e também dentro das empresas, estimulando os cuidados pessoais, uso de máscara durante e fora do trabalho, além da distribuição massiva de máscara, álcool e luvas para os rodoviários'', ressalta Borges. Para a Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati) e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o transporte clandestino é um problema antigo que prejudica toda a cadeia do transporte regular no país e, com a pandemia, se tornou um risco à saúde pública. O crescimento do transporte informal leva ao fechamento de empresas formais e ao desemprego de trabalhadores que antes estavam protegidos pelas leis trabalhistas. Transporte irregular oferece mais riscos, avaliam especialistas Para o presidente da Sociedade Alagoana de Infectologia, Fernando Maia, o transporte clandestino oferece mais riscos relacionados ao contágio pelo coronavírus. ''Na maioria das vezes não obedece às medidas de segurança, como redução de passageiros, higienização como acontece nos regulares, que inclusive passam por fiscalização. Ou seja, são mais seguros que os clandestinos'', ressalta Maia, orientando que a população opte pelo transporte regular. "Estes passam por todo um processo para rodar nas ruas da cidade''. O especialista em trânsito Fábio Barbosa também reconhece que os veículos irregulares podem trazer alguns transtornos. Mas, para ele, o aumento na pandemia não foi significativo.Fernando Maia, infectologista (Foto: Sandro Lima)
''Não creio que houve um aumento significativo devido à pandemia. O problema é antigo e de difícil solução, pois os clandestinos suprem a necessidade da população, já que o transporte coletivo regular é falho em atender requisitos de segurança, conforto e, principalmente, pontualidade. Numa análise fria, creio que, aos olhos da população, deslocar-se num veículo pouco seguro, mas que passa primeiro no ponto, supre esperar mais tempo por um veículo lotado. Enquanto houver essa estagnação no sistema ofertado e regulado pelo poder público, haverá espaço para clandestinos'', pontua Fábio. INFRAÇÃO De acordo com o artigo 231, inciso VIII, do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), realizar o transporte clandestino é uma infração de natureza gravíssima. O condutor flagrado recebe multa no valor de R$ 293,47 e perde sete pontos na CNH. Além disso, os veículos removidos são encaminhados ao pátio da empresa Transguard, de onde só são liberados após os seus proprietários se regularizarem junto ao município. DENÚNCIA A população também pode auxiliar nas fiscalizações e denunciar o transporte clandestino em Maceió. Caso seja identificada esta prática irregular, o cidadão deve ligar para o número 3312-5340. O serviço funciona 24 horas, todos os dias da semana. Outro canal disponível para o maceioense denunciar o transporte clandestino é o Disque SMTT, no número 118. Esse serviço funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h. "Me sinto mais segura no transporte regular'' É fato que o transporte clandestino não investe em saúde e pode trazer alguns transtornos aos passageiros como pontua a SMTT. "O transporte irregular não proporciona nenhum tipo de segurança aos cidadãos que se arriscam a utilizar esses veículos, pois eles não passam por nenhum tipo de vistoria junto ao município''.Transporte regular é mais seguro, diz especialistas (Foto: Edilson Omena)
A SMTT conta que durante as fiscalizações, que são realizadas diariamente, é muito comum encontrar carros com cintos de segurança inoperantes, automóveis com pneus em péssimas condições, para-brisas danificados e condutores trafegando sem possuir a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Para saber o que a população acha deste assunto a reportagem do Tribuna Hoje foi até o terminal do Benedito Bentes, um dos mais movimentados, ouvir se os usuários do transporte regular já se arriscaram nos clandestinos. Pensando nos riscos pontuados pelos órgãos de fiscalizações, a babá Thaís Maria da Silva disse preferir não utilizar o transporte clandestino. "Eu me sinto mais segura no transporte público (ônibus coletivo). Antigamente o medo que tinha em pegar ônibus era relacionado aos assaltos, mas realmente houve uma diminuição dessas ocorrências''. Thaís acrescenta que mesmo com a redução na frota ela não utilizou o transporte clandestino. "Eu tenho medo desse tipo de transportadores, então sempre aguardo, no terminal ou no ponto de ônibus por um. Principalmente nesse momento de pandemia. Sei que nos coletivos existem os protocolos de segurança, pelo menos nos ônibus que pego as pessoas estão respeitando e usando máscaras, assim como os motoristas e cobradores. Além disso, descemos no local correto'', finaliza.Thaís Maria diz preferir o transporte regular (Foto: Edilson Omena)
Já a comerciante Edleuza Teles, apesar de estar ciente dos riscos, confessa que já utilizou transportes clandestinos. "Já utilizei e vez ou outra utilizo com a falta do ônibus. Às vezes estamos com pressa e o ônibus demora, aí vem o clandestino e a gente acaba pegando. Mas de fato sinto uma certa insegurança com alguns desvios que os condutores destes transportes dão por conta das fiscalizações. Geralmente quem utiliza faz para não chegar atrasado nos compromissos - se bem que às vezes acontece o atraso no ilegal, então é prejuízo também. Acredito que se a frota dos coletivos aumentar e a gente não ficar esperando um ônibus por muito tempo, a tendência é diminuir os clandestinos'', avalia.Mais lidas
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