Cidades

Desigualdade social: manutenção do Enem recebe contestações

Representantes do Executivo, Legislativo e Sinteal analisam situação em meio à pandemia

Por Tribuna Independente com Carlos Amaral 14/05/2020 07h15
Desigualdade social: manutenção do Enem recebe contestações
Reprodução - Foto: Assessoria
Pandemia de um vírus mortal, sem cura ou vacina, e com os sistemas de saúde dos estados em vias de colapsar – alguns já nesta situação. Por conta disso, os calendários das escolas públicas e privadas de todo o país foram suspensos, assim como os das universidades. Mesmo assim, o Ministério da Educação (MEC) decidiu manter o calendário do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), principal porta de entrada para o ensino superior no Brasil. A medida unificou os setores da área nos poderes Executivo e Legislativo, e o maior sindicato ligado à educação em Alagoas: todos contra. Na avaliação de Luciano Barbosa (MDB), vice-governador e secretário de Estado da Educação, a situação de pandemia ocasiona motivos “de sobra” para o adiamento do Enem, principalmente por causa das desigualdades sociais do país. “Fazer o Enem nessas condições é aprofundar o fosso socioeconômico que historicamente tem separado ricos e pobres em nosso país. Os alunos de famílias mais vulneráveis não encontram dentro de suas casas os mesmos recursos dos alunos de classe média, por exemplo. Falta conectividade, equipamentos e, infelizmente, muitas vezes, estrutura familiar (afetiva ou de escolaridade dos pais) para acompanhar seus filhos em seus estudos. Nessas circunstancias, isso se refletirá na negação ao acesso de uma ainda maior quantidade de jovens pobres ao ensino superior. É perpetuar a desigualdade e comprometer o futuro de uma geração”, afirma o vice-governador e secretário de Estado da Educação. Ele ainda ressalta que adiar o Enem não irá, em sua avaliação, prejudicar ninguém. “O adiamento em nada prejudica o ano letivo do ensino superior pois a universidade está parada e vai ter que adequar sua carga horária e terminar seu ano letivo de 2020 depois”, comenta Luciano Barbosa. Já o deputado Marcelo Beltrão (MDB), presidente da Comissão de Educação de Assembleia Legislativa Estadual (ALE), ressalta o caráter democratizador do Enem e o de avaliador do ensino nas escolas. “Manter o calendário em um momento como este de pandemia e com as escolas com aulas suspensas, é prejudicar os dois objetivos. Fere o objetivo de democratizar o acesso às universidades, já que muitos estudantes não estão tendo aulas e, nas escolas públicas que estejam sendo realizadas aulas virtuais, muitos alunos não conseguem assistir por não terem acesso à internet. Além disso, a avaliação fica comprometida porque o nível de conhecimento também fica prejudicado por conta da pandemia. Uma disputa por vagas extremamente desleal”, afirma o deputado estadual. SINTEAL Manutenção da data do Enem é, para Consuelo Correia, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores da Educação em Alagoas (Sinteal), “é aumentar ainda mais a distância entre os alunos das redes pública e particular. Falta sensibilidade do Ministério”. Segundo ela, Abraham Weintraub, titular do MEC, não leva em consideração a realidade do ensino no país durante a crise gerada pela pandemia de covid-19. “É evidente que não se leva em consideração a situação de pandemia, que afeta a todos, mas com mais força os mais pobres. As escolas estão com seus calendários suspensos, tanto a rede pública quanto a particular e, as condições de acesso à internet – que o ministro coloca como solução – não existe para uma parte significativa da população, sendo, em muito maior número, os alunos da rede pública”, comenta Consuelo Correia. Ao justificar a manutenção do calendário do Enem, Abraham Weintraub afirmou que a prova “não foi feita para corrigir injustiças”, numa reunião com senadores no último dia 5. Ainda em abril, ele também defendeu que o exame é uma competição e classificou a possibilidade de paralisação do calendário como “bobagem”.