Cidades

“Número de casos deve aumentar rápido nos próximos dias”

Secretário da Saúde destaca preocupação com avanço do Covid-19 no estado; estudos da Ufal avaliam situação

Por Evellyn Pimentel 25/04/2020 09h21
“Número de casos deve aumentar rápido nos próximos dias”
Reprodução - Foto: Assessoria
O boletim divulgado na noite da última sexta-feira (24) aponta para um aumento de 89 casos de Covid-19 em Alagoas e mais 5 óbitos confirmados. Já são 413 casos e 27 mortes em todo o estado. Em coletiva, o secretário de estado da Saúde, Alexandre Ayres classificou o momento como muito preocupante e avalia que nos próximos dias a expectativa é de aumento expressivo nos casos. “Temos a expectativa de que esses números cresçam rapidamente nos próximos dias”, disse o secretário. O rápido avanço de casos pode ser explicado, segundo Ayres, pelo descumprimento nas medidas de distanciamento social recomendadas pelo poder público, principalmente durante o feriado de Páscoa onde houve uma intensa circulação de pessoas. O secretário reforçou a necessidade de manter o isolamento social para o controle da doença no estado. “Os dados em Alagoas tem preocupado bastante à medida que as pessoas começam a descumprir o isolamento. O isolamento só vai acabar quando a população cooperar. A população é peça fundamental. Não adianta aumentar os leitos se a população não entender que é ator principal, as pessoas precisam ficar em suas residências”, destacou. Maceió registra o maior número de casos, são 364 segundo o último boletim e 18 óbitos. Durante a semana, um estudo produzido por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) a partir de dados da Sesau apontou a distribuição da incidência do vírus nos bairros da capital e os possíveis motivos para esta relação. ESTUDOS Os bairros do Vergel do Lago e Ponta Verde concentram o maior número de casos na capital alagoana. Outros dois bairros com grande incidência são a Ponta Grossa e Jatiúca. Segundo a Sesau, os bairros da Ponta Verde e Jatiúca têm uma grande população de idosos acima de 60 anos. “Até o último boletim de vigilância interna os bairros do Vergel e Ponta Verde concentram o maior número de casos registrados”, afirmou Ayres. O professor, pesquisador e mestre em Geografia da Ufal Esdras Andrade coordena a pesquisa sobre a disseminação de casos do Covid-19 em Maceió. Ele afirma que o maior número de casos nestes bairros pode ter relação com a densidade demográfica, isto é, a quantidade de habitantes versus a extensão territorial. “O que já podemos perceber entre os quatro bairros que apresentam os maiores números (Vergel, Ponta Grossa, Ponta Verde e Jatiúca), por exemplo, é que a densidade demográfica está se mostrando o grande responsável por esses números. São bairros relativamente pequenos porém, demasiadamente populosos. A densidade demográfica nesses 4 bairros varia de 1.500 a 2.300 pessoas por quilômetro quadrado. Gostaria de ressaltar que a expressão geográfica desta doença não se dá mediante apenas um único fator. Existem outros envolvidos. Por exemplo: Junte-se a este fator, a proporção da população com mais de 60 anos de idade. Nos bairros em questão, essa população de variar de 8,5 a 16%. Por enquanto ainda não podemos dizer se este é realmente o fator determinante. Deve-se levar em consideração que muitas pessoas que se situam nas classes mais baixas da sociedade (nos casos dos bairros Vergel do Lago e Ponta Grossa), estas têm seus empregos ou trabalhos prestados nos outros 2 bairros, considerados nobres. Este é um fato que precisa ser melhor analisado para poder saber se tem relação entre eles”, expõe. O mapa, criado pelo grupo de trabalho do Instituto de Geografia da Ufal, circula nas redes sociais. Nele é possível identificar quais bairros têm casos, o número de casos e onde a doença ainda não foi registrada. Esdras detalha que a ideia surgiu para que a população fosse informada de “quão próximo” a doença está próxima. “Até então, a maioria das pessoas estava alheia às informações que são disponibilizadas em textos e tabelas. O mapa comunica mais facilmente e transmite a ideia de espaço, de proximidade e distância. Em relação às observações: Elas ainda não são conclusivas pois ainda estamos investigando os possíveis fatores determinantes e catalisadores. Estamos realizando uma série de simulações com cerca de 10 variáveis para se chegar às razões pelas quais o vírus se manifesta espacialmente em locais diferentes”, pontua o geógrafo. No entanto, o pesquisador aponta que é preciso um maior número de informações, principalmente em relação às doenças preexistentes nos pacientes infectados com coronavírus. “Outro fator que pode ser levado em consideração são as comorbidades distribuídas por bairros, ou seja, doenças preexistentes na população por bairro. Ainda estamos garimpando essas informações e estamos tendo dificuldades em consegui-las. Deixo aqui o nosso apelo às autoridades a não reter os dados e informações. Isso não colabora com a gestão da crise em que estamos vivenciando. Estamos lidando com uma doença que tem um poder de expansão muito rápido e gastar tempo procurando informações, que muitas vezes estão em estado bruto, e ainda se precisa tratá-los, demanda muito tempo. Para você ter uma ideia, já possuímos 10 variáveis, mas ainda falta 1 (que é o de comorbidades). E esse 1 tem tanta importância quanto os outros 10. A maior dificuldade, por ora, são os dados de saúde e de mobilidade urbana”, defende. “Suspensão precoce do isolamento pode levar ao caos em poucas semanas” Outro estudo produzido por dez pesquisadores alagoanos, a maioria da Ufal, analisa a evolução da epidemia no estado. O estudo envolve iniciativas de simulação computacional, elaboração de software de gerenciamento hospitalar e produção de EPIs com professores voluntários. De acordo com o pós-doutor e professor do Instituto de Física Ufal, Sérgio Lira, que participa do estudo, as análises apontam que é possível que haja um colapso nos sistemas de saúde pública e privada do estado e do serviço funerário caso haja a liberação total do convívio social. “Caso não monitoremos devidamente o andamento da epidemia em Alagoas e saiamos de maneira brusca do isolamento social, poderemos em poucas semanas nos encontrar em uma situação semelhante a do Amazonas. Com o colapso do sistema de saúde e crise no sistema funerário. Recomendamos a manutenção dessas medidas até que tenhamos equipamentos de proteção para toda a equipe de saúde, testes para diagnósticos e softwares de monitoramento de casos. A suspensão precoce das medidas de isolamento poderia colocar a perder todo o avanço que já conseguimos obter com a mitigação da crise feita até agora. Podemos estimar através dos modelos que se a circulação de pessoas fosse liberada irrestritamente no estado, em até 30 dias atingiríamos o colapso dos sistemas de saúde público e privado”, alerta. Ou seja, de acordo com o relatório produzido pelos pesquisadores, num dos piores cenários o de normalidade da rotina, sem as medidas adotadas, haveria cerca de 9 mil mortes de alagoanos. Caso as medidas de isolamento tivessem sido suspensas no início de abril, as projeções indicam que haveria a necessidade de mais de 5 mil leitos hospitalares e 500 de UTIs. Mantendo medidas de isolamento social semelhantes às que já estão implementadas no estado, esta demanda cairia para 151 leitos de hospital e 31 leitos de UTI em 36 dias (...)Nossa conclusão foi que tomamos medidas de mitigação (ou de isolamento social) razoavelmente cedo na evolução da epidemia e isso foi muito importante para ganharmos tempo de organização, e para evitar o colapso do sistema de saúde. Caso mantenhamos as medidas de isolamento social, a demanda de leitos ainda estaria sob controle após 36 dias. Essas projeções são variáveis pois dependem de como se comportará o governo e a população diante da epidemia”, salienta Lira.