Cidades

 MPF vai apurar circulação do VLT em bairros que afundam

Órgão vai instaurar procedimento para saber os riscos do transporte nas regiões; não há definição sobre o futuro do serviço no trajeto

Por Tribuna Independente com Evellyn Pimentel 29/02/2020 12h39
 MPF vai apurar circulação do VLT em bairros que afundam
Reprodução - Foto: Assessoria
O Ministério Público Federal (MPF-AL) vai apurar a situação da circulação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) nos bairros afetados por afundamento em Maceió. A informação foi obtida com exclusividade pela Tribuna Independente. “O MPF/AL irá instaurar procedimento acerca da atividade do VLT nos bairros afetados pela mineração. O caso está sendo analisado pela Força-Tarefa em razão de questões delicadas envolvendo a população que depende desse meio de transporte”, afirmou o MPF. A problemática envolvendo o afundamento e rachaduras nos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange e Bom Parto vem sendo acompanhado por uma força-tarefa do órgão, composta pelas procuradoras da República Niedja Kaspary, Raquel Teixeira, Roberta Bomfim e Cinara Bueno. No início do mês de fevereiro, a procuradora do Trabalho Rosemeire Lobo afirmou em entrevista coletiva que o Ministério Público do Trabalho (MPT/AL) também vem acompanhando a possibilidade de paralisação do serviço. Ela afirmou à reportagem que não havia informações detalhadas da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) sobre o futuro do serviço no trajeto entre Bebedouro e Mutange, tendo em vista o risco. “Eles se fecharam, não há posicionamento sobre o que será feito”, disse Lobo. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias de Alagoas (Sinfeal), Luciano Gama de Lira afirma que há um clima de incerteza quanto ao futuro do trajeto do VLT em Maceió. “São 60 anos ou mais de ferrovia, o terreno está bem compactado, se houve baixa é muito lenta no período de dez anos, não está baixando de uma vez, está aos poucos. Até hoje, por enquanto, é possível passar e estão passando. Como está baixando gradativamente as pessoas continuam trabalhando. A CBTU está propondo uma mudança de percurso. A possibilidade de mudar o trajeto é uma questão da empresa junto com a União. Eles também têm essa possibilidade se for necessário parar. Eles vem discutindo várias opções.  O futuro é incerto. Não sabemos como será daqui para frente. É um grande dilema”, diz. Luciano explica que a informação passada aos trabalhadores pela CBTU é que tem havido monitoramento da rede ferroviária e em caso de anomalias o serviço seria suspenso. “A CBTU tem uma comissão que acompanha essa possibilidade [de saída]. O que a gente sabe é que eles colocaram sensores e caso aconteça alguma coisa para paralisarem o trem, caso chova muito, aí vão parar. Mas por enquanto não aconteceu isso. A questão da segurança é a CBTU que trata. Não sabemos se vai parar ou não. Caso chova muito eles vão mandar parar, mas choveu dois dias antes do Carnaval e eles não mandaram parar. Eles estão monitorando o local, eu sei que a CBTU tem pessoal monitorando”, conta. A permanência do transporte nas áreas de instabilidade vem sendo questionada por diversos atores envolvidos no assunto. Segundo o pesquisador Abel Galindo, há risco para a região que compreende a linha férrea nos bairros afetados por afundamento. Ele diz que apenas com a instalação de equipamentos de monitoramento será possível identificar um colapso com antecedência. “A recomendação dos alemães [Instituto de Geomecânica de Leipzig] de que seriam instalados ao longo das minas desde a Casa Miguel Couto até o IMA, instalados nas principais minas que estão com problemas, microssismógrafos para que esses equipamentos, na profundidade 100m a 150m e em cada poço a 900m de profundidade. Esses microssismógrafos são capazes de identificar com certa antecedência a possibilidade de haver um colapso, um sinkhole, isso ficou acertado. Instalando isso, haveria segurança de parar com pelo menos 24h, mas até onde eu sei não há nenhuma notícia de que foram instalados esses equipamentos. Se não instalaram o risco continua. Tem risco. O risco existe”, destaca Galindo. “Não há recomendação e suspensão do uso”, diz Defesa Civil de Maceió Procurada, a CBTU informou que vem realizando o monitoramento diário no trecho de ferrovia nos bairros do Bebedouro e Mutange, no entanto, a definição se é necessário ou não parar o serviço depende de avaliação da Defesa Civil de Maceió. “No momento as operações estão absolutamente normais sem nenhuma intercorrência. A CBTU tem realizado diariamente inspeção em todo trecho e não tem encontrado anormalidades. Cumprimos todas as recomendações da Defesa Civil Municipal e só ela pode definir quaisquer procedimentos”, afirmou a Companhia. Já a Defesa Civil de Maceió informou que não há, até o momento, indicativo de que o serviço deva ser paralisado. “A Coordenadoria Especial Municipal de Proteção e Defesa Civil (Compdec) informa que, até o momento, não há recomendação de suspensão do uso da linha férrea na área afetada pela instabilidade de solo provocada pela atividade de mineração – de acordo com relatório da CPRM. Estudos da CPRM e do Instituto de Geomecânica de Leipzig (IFG) recomendam o monitoramento da área por rede sismográfica, equipamentos que estão sendo adquiridos através do Termo de Cooperação Técnica 2, firmado em dezembro do ano passado entre a Prefeitura e a empresa Braskem. O projeto da rede sismográfica está sendo construído pelas Universidades Federais de Pernambuco e do Rio Grande do Norte”, disse o órgão. Ainda de acordo com a Defesa Civil, um Plano de Contigência vem sendo desenvolvido junto à CBTU para identificar possíveis movimentações na superfície. “A Defesa Civil de Maceió informa que, até a instalação da rede sismográfica, trabalha junto com a CBTU na construção do Plano de Contingência para a área afetada e que realizam o monitoramento da linha férrea por meio de equipamentos de DGPS, que captam informações em tempo real de movimentação de superfície”, explicou. Em nota, a Braskem afirma que tem participado dos trabalhos de monitoramento “A Braskem está colaborando com o monitoramento conjunto e avaliações técnicas na área. Todos os resultados vêm sendo analisados conjuntamente, em reuniões periódicas”, afirmou. SINDICATO A incerteza envolvendo a continuidade do serviço motivou o Sindicato dos Ferroviários a articular uma ação contra a Braskem S/A. Segundo o líder sindical Luciano Gama de Lira, caso o serviço seja paralisado os trabalhadores ingressarão com ação judicial contra a petroquímica. “Nosso papel é articular uma ação contra a Braskem caso aconteça alguma coisa. Para preservar nossos empregos caso acabe a CBTU aqui. Porque se não puder passar mais vai paralisar o sistema. Estamos vendo uma ação com nosso advogado contra a Braskem. A ação visa reparação caso aconteça alguma coisa, estamos formatando a ação. Caso o serviço seja paralisado e ficarmos sem emprego iremos então com ação contra a Braskem”, defende.