Cidades

Amigos do 42: Passageiros de ônibus realizam confraternização de fim de ano 

Comemoração aconteceu no último sábado (21) numa pizzaria na parte alta de Maceió 

Por Texto e fotos: Ana Paula Omena com Tribuna Hoje 24/12/2019 10h41
Amigos do 42: Passageiros de ônibus realizam confraternização de fim de ano 
Reprodução - Foto: Assessoria
Todos os dias cerca de 260 mil passageiros embarcam e desembarcam do transporte coletivo em Maceió para os mais variados destinos, muitos deles fazem o mesmo trajeto há tanto tempo que se tornaram amigos. Como é o caso do grupo que embarca bem cedinho no mesmo ônibus que faz a linha Benedito Bentes - Centro, prefixo 42, para ir trabalhar. [caption id="attachment_346939" align="alignright" width="233"] Amigos do 42 criam comunidade no Whatsapp[/caption] Com histórias de vida diferentes, esses passageiros trocam risadas e experiências de luta diárias dentro do ônibus e se consideram uma grande família. Como prova desse laço que os uniu, eles organizaram uma confraternização de fim de ano, com direito a amigo secreto e tudo. A reportagem do Tribuna Hoje esteve na festa realizada em uma pizzaria no último sábado, dia 21, na parte alta da capital e comprovou o resultado dessa amizade nascida dentro do coletivo municipal para toda a vida. A técnica de laboratório Maria Josefa Hungria, de 60 anos, 19 deles pegando o mesmo transporte coletivo, contou que o elo de amizade do grupo começou com pequenos gestos de gentileza com um sonoro: bom dia, todas as manhãs. Com o tempo, as conversas foram aumentando e a partilha até mesmo de situações confidenciais cresceu. [caption id="attachment_346931" align="alignleft" width="265"] Maria Josefa Hungria[/caption] "Quando estou de férias sinto falta dos amigos do busão. É muito bom, a gente se diverte, são altas resenhas, cada um ganhou até apelido, mas também têm momentos de tristeza, histórias de vidas sofridas, a gente vira uma espécie de psicólogo um do outro, ouve os desabafos, aconselha, oferece o ombro durante o percurso do ônibus", contou a passageira. Para encurtar a distância e manter os papos além do ônibus, os passageiros resolveram criar um grupo de Whatsapp. "Quando alguém deixa de pegar o 42 naquele horário, a gente sente falta um do outro, ficamos preocupados”. “Então para ficarmos ainda mais próximos criamos o grupo do busão. Trocamos mensagens todos os dias, quando um adoece ou está de folga todos ficam sabendo", mencionou Maria Josefa. Ela que está prestes há completar 20 anos que pega o mesmo ônibus todos os dias, relembrou sua trajetória ainda quando seus filhos Jackeline e Jadson eram adolescentes, de 19 e 12 anos, respectivamente. "Hoje meus filhos estão casados, já sou avó, tenho dois netos lindos", salientou. "Tenho saudade da turma do busão, sinto falta deles quando estou de férias, é muito bom, a gente se diverte, são muitas resenhas", disse a passageira. “Cada um ganhou até apelido, mas também há momentos que ficamos mais recuados pelas situações da vida. Tem dias que quero ficar mais quieta, vou para janela do ônibus e ela se torna minha companheira de viagem. Como o percurso é razoavelmente extenso, viajo na imaginação, a janela é danada para fazer a gente pensar”, frisou. [caption id="attachment_346935" align="aligncenter" width="489"] Da janela do 42 para onde a imaginação levar...[/caption] Maria Josefa durante a entrevista agradeceu a Deus pelos quase 20 anos no mesmo trajeto, no mesmo ônibus, no mesmo horário, com motoristas e cobradores diferentes ao longo dessas duas décadas. “Já passou muito rodoviário por essa linha, fizemos muitas amizades, arengamos um bocado também”, relembrou com risos. “Graças a Deus faço 20 anos de trabalho em setembro e nunca vi nenhuma cena de violência dentro do ônibus, assalto, acidente, brigas, só alguns protestos, mas fora do coletivo”, concluiu com tom de satisfação. Reinaldo Souza, que é gráfico, também faz parte do mesmo grupo de Josefa, ele contou que se conheceram na fila de espera do ônibus no Terminal do Benedito Bentes. “A gente já se conhece tão bem que notamos quando um está mais triste, sempre procuramos ajudar da melhor forma possível”, destacou. [caption id="attachment_346933" align="alignright" width="225"] Reinaldo Souza[/caption] Ele observou que o elo de amizade entre o grupo é imenso ao ponto de um esperar pelo outro para poder realizar o trajeto de ida ao trabalho. “A gente se conhece há muitos anos através do ônibus, mas há cerca de três meses esperamos um pelo outro, para irmos juntos no ônibus, a mesma turma”, revelou Reinaldo. O ajudante prático, Wedson da Silva Cavalcante, compõe o grupo, e durante a confraternização demonstrou felicidade em conhecer pessoas dentro do ônibus, e as considera especiais. “A amizade começou pedindo a bolsa para segurar no ônibus; percebi também que o grupo ficava conversando e me aproximei; agora a gente briga até para sentar na cadeira da janela”, brincou dando risadas. Dona Maria Helena Souza, empregada doméstica, revelou que a amizade no ônibus nasceu por conta da sua distração. “Eu várias vezes passava do ponto de descer, desatenta, e com o tempo, o pessoal percebendo me avisava e até puxava a campainha para eu descer”, disse. [caption id="attachment_346930" align="alignleft" width="225"] Maria Helena Souza[/caption] Maria Helena também contou que um fato inusitado aconteceu dentro do ônibus, o reencontro com uma amiga da filha que não se viam há mais de 30 anos. “Saleria não é um nome comum, e comentei com minha filha que tinha conhecido uma moça com esse nome dentro do ônibus, ela logo recordou da amiga de infância”, declarou. Djane Souza, filha de Maria Helena também estava na confraternização e esperava Saleria para fazer uma surpresa. “Foi emocionante... Nunca imaginei reencontrar Saleria através de minha mãe num transporte público, não vamos perder mais o contato uma com a outra”, afirmou. [caption id="attachment_346953" align="aligncenter" width="262"] Saleria e Djane (Foto: Reprodução)[/caption]