Cidades

Moradores do Pinheiro, Mutange e Bebedouro param a parte alta de Maceió em protesto

Populares reivindicam solução para problema das moradias afetadas por rachaduras

23/08/2019 21h00
Moradores do Pinheiro, Mutange e Bebedouro param a parte alta de Maceió em protesto
Reprodução - Foto: Assessoria

Um grande protesto praticamente parou a parte alta de Maceió no início da noite desta sexta-feira (23). Moradores dos bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro uniram-se em uma manifestação para cobrar à Braskem e aos poderes públicos soluções para a instabilidade do solo desses bairros, o que fez com que os populares abandonassem suas residências. Trios elétricos e centenas de moradores – cerca de duas mil pessoas, segundo a organização – com cartazes pararam a Avenida Fernandes Lima, no bairro do Farol, e houve congestionamento nos dois sentidos da via.

Os moradores que foram às ruas protestar tiveram dois pontos de encontro: na própria Avenida Fernandes Lima, nas imediações da Casa Vieira, e no cruzamento da Avenida Comendador Francisco de Amorim Leão com a Rua Professor José da Silva Camerino, no bairro do Pinheiro.

A aposentada Ilce Mary é moradora do Pinheiro há oito anos e relatou, à reportagem da Tribuna, o drama que vive desde que desocupou sua residência. “A situação ficou péssima. Foi uma mudança total de vida. Hoje, moro no bairro da Serraria. Eu espero que a justiça seja feita, pois nós não temos culpa nessa história”, afirmou.

A moradora relata que muitas pessoas que tiveram que sair das suas casas estão tendo problemas psicológicos, como depressão, por exemplo. “Já teve casos até de suicídio, tamanho era o desespero da pessoa. Enquanto isso, eu tenho vizinhas [do Pinheiro] que moram em um lugar que não se adaptam e também estão ficando depressivas por terem saído das suas residências”, contou a moradora, que também afirmou que estava tomando remédios para controlar um problema de ansiedade que surgiu após a desocupação do Pinheiro.

“Nunca pensei em passar por essa situação. Que Deus toque no coração dessas autoridades”, finalizou a aposentada.

Concentração

Por volta das 17h, manifestantes interditaram o cruzamento da Comendador Francisco de Amorim Leão com a Rua Professor José da Silva Camerino, nas proximidades do hospital Hapvida. Os manifestantes usaram pneus para fechar o cruzamento e até um sofá foi derrubado no meio da pista para impedir a passagem de veículos. Ambulâncias e pessoas que alegaram estar indo para o hospital tiveram a passagem permitida.

Após um número considerável de pessoas se concentrarem nas proximidades do hospital, por volta das 17h40, dois trios elétricos começaram a chegar trazendo mais manifestantes para o local. As palavras de ordem que a multidão gritava era: “Braskem, a culpa é sua. O povo está na rua”. Após os dois grupos de manifestantes se unirem, eles seguiram em direção à Avenida Fernandes Lima.

O gestor financeiro Fabiano Vasconcelos é morador do bairro do Pinheiro há 36 anos. Desde que saiu da sua casa, relata que a adaptação tem sido difícil. “Nossa vida mudou da água para o vinho. Só o fato de sair do seu imóvel próprio e ir morar de aluguel é um absurdo. Nossas famílias tiveram que se reinventar”, disse.

Caixão da Braskem e trânsito parado

O Gerenciamento de Crises da Polícia Militar de Alagoas e agentes da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT) acompanharam o protesto até a Fernandes Lima e ajudaram na fluidez do trânsito nas adjacências. Ao microfone, nos trios elétricos, os moradores desabafavam contra a Braskem. “Não vamos esmorecer. Quantas pessoas estão com problemas, como insônia, por exemplo, por causa dessa mineradora assassina? A ajuda humanitária é um valor irrisório pelos problemas que estamos enfrentando”, falou ao microfone um morador, tocando no assunto do aluguel social que os moradores dos bairros afetados estão recebendo no valor de R$ 1.000.

Com cruzes pretas e cartazes contra a empresa, os moradores pararam o trânsito na Fernandes Lima. De início, a intenção dos manifestantes era parar um lado de cada via da avenida, porém os organizadores viram a chance de um acidente acontecer e a Fernandes Lima acabou totalmente interditada por volta das 18h.

Os populares seguraram um caixão no local representando o “enterro simbólico” da Braskem. “A gente não sai daqui até as 20h. Temos mais de duas mil pessoas aqui”, disse um dos organizadores. Logo depois do fechamento da avenida, os moradores dos bairros também fecharam a entrada para a Avenida Rotary. O trânsito congestionou na região, mas alguns condutores conseguiram sair por dentro das ruas do bairro do Farol.

Reportagem: Rívison Batista / Fotos: Edilson Omena