Cidades

“Jornalista que está na redação, compactua com patrão que quer reduzir salário”

Jornalista há 30 anos, Fátima Almeida lamenta pelos colegas que não aderiram à greve e pelos que aceitaram substituir quem está na luta contra a redução do piso salarial

Por Thayanne Magalhães 01/07/2019 11h55
“Jornalista que está na redação, compactua com patrão que quer reduzir salário”
Reprodução - Foto: Assessoria
A greve dos jornalistas alagoanos chegou ao sétimo dia nesta segunda-feira (1º) e a hashtag #JornalismoDeSegunda ficou entre os assuntos mais comentados do dia, como tem acontecido durante toda a semana. No início da manhã de mais um dia de luta contra a redução salarial da categoria, os jornalistas se reuniram em frente a um supermercado na Avenida Fernandes Lima, no bairro Farol, em Maceió, para chamar a atenção a sociedade para a mobilização. Depois de algumas horas, os jornalistas foram para a frente as Organizações Arnon de Melo, na TV Gazeta, onde permanecem durante todo o dia em protesto. Um grupo foi para o Centro da cidade para mais mobilizações. A tarde será de apresentações culturais com vários artistas alagoanos se apresentando de forma espontânea e gratuita em apoio aos trabalhadores e trabalhadoras que não aceitam ter o salário reduzido em 40%, como propôs a TV Gazeta (afilada da Rede Globo), TV Pajuçara (afiliada da Record) e TV Ponta Verde (afiliada do SBT). “Todos os anos lutamos pelo reajuste do nosso piso salarial, mas nunca houve uma greve tão árdua quanto essa. Os patrões estão irredutíveis, apresentando conteúdo defasado e colocando pessoas despreparadas para apresentar os telejornais e fazer entrevistas. Há cerca de 15 anos a mesma TV Gazeta quis reduzir nosso salário, mas houve assembleia do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas [Sindjornal] e foi tudo resolvido. Não precisamos entrar em greve naquela época”, relatou a jornalista Fátima Almeida, que tem 30 anos de profissão. [caption id="attachment_310474" align="aligncenter" width="600"] Fátima Almeida lamenta pelos colegas que não aderiram à greve (Foto: Edilson Omena)[/caption] Para Fátima, a maior decepção da greve dos jornalistas alagoanos, que tem repercutido em todo o país, são os profissionais que não aderiram à greve e os que aceitaram a proposta que trabalhar substituindo os grevistas. “Esses jornalistas que não aderiram à greve serão responsabilizados se os patrões conseguirem a redução do nosso piso salarial. Estão apoiando os donos das TVs e prejudicando toda a categoria, que está lutando contra esse retrocesso. Eu sinceramente não sei como essas pessoas irão olhar depois para os seus colegas de trabalho. Eu não queria estar no ligar deles, mesmo se me chegasse a proposta de ganhar o dobro do piso. Eu prefiro estar na luta e ter dignidade”, afirmou. “Todos nós temos problemas. Temos família para sustentar. Precisamos do emprego. Não existe um argumento que justifique os ‘fura greve’. Estão do lado dos patrões e a favor da redução do próprio salário. Uma grande decepção”, continuou a jornalista. A secretária de Organização e Mobilização do Sindjornal, Emanuelle Vandelei, afirmou que não há previsão para o fim da greve. “Vamos continuar com as mobilizações e piquetes nas portas das três emissoras que estão unidas e decididas a reduzir o salários dos jornalistas de Alagoas. Não vamos aceitar esse retrocesso. Lutaremos até o fim e aguardamos que os donos dos veículos de comunicação apresentem uma proposta que possa ser discutida para que a greve seja encerrada. Nenhuma redução será aceita”, afirmou. [caption id="attachment_310473" align="aligncenter" width="600"] Emanuelle Vanderlei afirma que a greve dos jornalistas só será encerrada quando emissoras desistirem da redução salarial (Foto: Edilson Omena)[/caption] A Gazeta e as demais empresas de comunicação que pertencem ao senador Collor de Mello foram as autoras da proposta, aderida pelo Pajuçara Sistema de Comunicação (TV Pajuçara e TNH1) do industrial Emerson Tenório, Guilherme Palmeira e José Thomaz Nonô, e na TV Ponta Verde e Portal OP9, do grupo HapVida. O Sindicato dos Jornalistas estima que mais de 90% dos trabalhadores aderiram ao movimento. Jornalistas que atuam, estudantes e aposentados participam das manifestações diariamente. O piso do jornalista em Alagoas atualmente é de R$ 3.565,27. De acordo com a proposta apresentada pelas empresas, este valor seria reduzido em 40%, o que daria pouco mais de R$ 2.100. Outra proposta apresentada pelos patrões na segunda-feira (24) não teve valor divulgado, apenas a sugestão da criação de dois pisos e o piso atual como teto da categoria.