Cidades
Clubes sociais se reinventam para reverter inadimplência e falta de interesse
Muito frequentados no passado, ida a esses locais diminuiu bastante nos tempos mais recentes
Os clubes sociais de Alagoas, sobretudo os de Maceió, já tiveram seus tempos áureos. Era chique na época ser sócio de um clube e frequentá-lo com a família. Eram idas aos finais de semana para aproveitar um dia sol à beira da piscina, bailes de Carnaval, festa de debutante, confraternizações, entre outros. Com o tempo, isso tudo ficou démodé e os clubes entraram em decadência. Alguns não resistiram e não existem mais como o Alagoinhas, Portuguesa, além dos balneários Vale das Cascatas, Passaredo, Lagoa Azul. Esses mais recentes. Outros se reinventaram e se mantêm vivos até os dias atuais.
É o caso do Motonáutica Lagoa Clube localizado no Pontal da Barra criado há 50 anos, que buscou novas formas para atrair sócios, bem como o público externo. O gerente social, Ronaldo Cerqueira, explicou que o fluxo reduziu bastante em decorrência da crise econômica, o que também resulta numa inadimplência maior, que acaba influenciando na economia atual do clube. Porém, ressaltou que os custos estão dando para serem mantidos.
Composto de aproximadamente 300 associados, o motonáutica possui o clube náutico, social e o balneário Broma, que é a extensão do lazer. “A parte social estava parada há muitos anos, agora que estamos tentando reativar o segmento. A expectativa é de criar novas opções de recreação porque o espaço já apresenta boa estrutura. Mas há necessidade de ser mais divulgado”, frisou.
Ele disse que como atrativo, a direção social pretende inserir nos finais de semana, almoço musicados, como forma de entretenimento do público presente. Ronaldo Cerqueira salientou que o Broma é o braço do Motonáutica, e que lá, está aberto também para o público externo, que deve pagar uma taxa de acesso.
O local oferece restaurante, piscina, campo society, quadras de tênis e futebol, garagem para embarcações, brinquedoteca,
Outra medida adotada para que o clube sirva de atração é o aluguel do espaço para festas e eventos. “Estamos ainda com o projeto de buscar junto às agências de turismo pacotes que incluam o motonáutica na rota de passeios. O espaço oferece uma vista privilegiada para a Lagoa Mundaú. Alagoas não se resume apenas as praias”, mencionou.
Atualmente o clube passa por um processo de restauração das áreas do parque esportivo.
Administradores buscam novos entretenimentos para atrair público
A inadimplência e a falta de interesse dos sócios em frequentar os clubes sociais estão entre os principais problemas listados por seus administradores em Alagoas. E, para contornar a situação, eles buscam investir em diferentes formas para atrair o público. No caso do Lindoya – Hotel Fazenda de Satuba, que se reinventa para continuar de pé, o gerente Vinicius Conti, diz que os eventos como festas, shows, apresentações, e mudanças na infraestrutura do clube, como piscinas, tobogã, entre outros, fazem com que a ‘casa’ esteja sempre cheia nos finais de semana.
Porém, Vinicius Conti enfatizou que os desafios são diários. Sendo o principal, manter o sócio entretido quando vai ao clube, bem como manter os eventos regulares. “Se o sócio gosta de ir todo mês ao clube, ele não verá o pagamento da manutenção como uma obrigação, mas como forma de manter e desenvolver o que lhes dá prazer. Com relação às despesas, há muitas diante da dimensão que tem o nosso clube, por isso a quantidade de sócios deve ser suficiente para cobrir todos os gastos com a manutenção diária”, destacou.
Ele pontuou que a administração ‘bate forte’ na realização de eventos para manter o sócio interessado. Segundo o gerente, o clube oferece música ao vivo todos os domingos, com estilos variados, para tentar agradar os diferentes tipos de sócios, além das piscinas, quadras de vôlei e futebol, bicas, passeios de cavalo, atividades recreativas, aulas de dança e churrascaria.
Outro diferencial que sempre teve no clube foi o livre acesso do sócio com a sua alimentação. “O sócio pode levar comida e bebida (proibido recipientes de vidro), vemos que em cada mesa, acontece um churrasco diferente”, disse.
Livre acesso do sócio com alimentos é um dos atrativos do clube social Lindoya, que ainda se mantém (Foto: Divulgação)
Vinicius Conti frisou que o nome fantasia do clube foi modificado em virtude das pessoas associarem o espaço como sendo um hotel. “Resolvemos modificar de Lindoya Hotel para Lindoya Parque. Recebíamos diversos e-mails perguntando o valor da diária no hotel e não trabalhamos com hospedagem, com exceção do Carnaval. Por isso, não poderíamos manter o nome de hotel, pois não fazia sentido”, declarou.
De acordo com o gerente, houve uma ‘baixa’ de sócios devido à crise financeira do País. No entanto, ele afirmou, sem a mesma intensidade do comércio. Para Vinicius Conti, em tempos de crise, as pessoas cortam gastos, mas elas sempre vão fazer um esforço para manter o lazer. “Vimos que frequentar o clube estava mais barato do que levar a família para outros passeios, pois lá, muitos levam sua comida e bebida, fazendo com que seja um divertimento de custo baixo”, analisou.
Conti concluiu que as perspectivas de futuro são as melhores, como medida de atrair ainda mais o público. “Estamos inaugurando um salão de jogos, e pretendemos dar mais opções de lazer para as crianças. Porque só as piscinas não são suficientes, estamos investindo em recreação e brincadeiras. Também estamos com planos para pesque e pague, em nosso lago, e pedalinhos”.
“As pessoas perderam o costume de frequentar clubes, mas fazer parte de um é muitas vezes mais barato do que realizar outras atividades de lazer. Acabamos juntando mais as famílias, porque os pais fazem o churrasco e relaxam, enquanto as crianças brincam nas piscinas. Proporcionamos momentos de diversão e felicidade, e isso é o que realmente importa”.
Ápice ocorreu no final do século XIX, diz produtor cultural
O pesquisador, jornalista e produtor cultural Edberto Ticianelli diz que os clubes eram constituídos refletindo uma cultura associativista que teve seu ápice no final do século XIX e se estendeu até meados do século XX. No início, segundo ele, como organizações profissionais ou desportivas, e depois como espaço privilegiado para a realização de festas de alguns segmentos sociais.
O autodidata na área cultural alagoana explica que foi a partir dos anos 60, com a juventude se envolvendo em movimentos libertários, que veio a crise das famílias tradicionais, que tinham nos clubes um instrumento de perpetuação. Os filhos fugiram do controle férreo dos pais. Criaram novos círculos sociais além dos familiares.
(Foto: Adailson Calheiros / Arquivo)
Ticianelli: “De organizações esportivas, clubes passaram a ser espaços privilegiados de alguns segmentos sociais”
“A crise dos clubes foi mundial naquele período. Como reflexo dessa saída dos clubes, surgiram os bares da moda e classe média descobriu as ruas também como espaço para a festa. Os principais eventos de rua a partir dos anos 70 tinha a presença da classe média”, salientou.
Conforme Ticianelli, não há um levantamento de quantos clubes existiam nos tempos áureos e quantos restaram, mas assegura que pelas pesquisas realizadas do século XIX e do início do XX, dezenas deles não existe mais. O mais antigo em atividade é o Clube Fênix Alagoano.
Os mais recentes considerados balneários não resistiram a ação do tempo e não sobreviveram, como, por exemplo: Vale das Cascatas em Ipioca, Passaredo e Lagoa Azul no Benedito Bentes.
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