Segundo o Censo Demográfico do IBGE de 2022, divulgados em 2025, o número de brasileiros que se declararam adeptos de religiões de matriz africana, como Candomblé e Umbanda, triplicou em uma década, alcançando cerca de um milhão de pessoas. Apesar do crescimento, o país também registrou aumento de 66,8% nos casos de intolerância religiosa em 2024, segundo dados do Disque 100. Esses números evidenciam o contraste entre o fortalecimento da fé e a persistência de preconceitos que ainda cercam essas tradições, por quem não as conhece.

Entre os equívocos mais comuns está a ideia de que o pai de santo é apenas alguém que “faz trabalhos” ou “lida com feitiços”. Na realidade, ele é um sacerdote, conselheiro e líder espiritual, responsável por zelar pela energia da comunidade e pela conexão com o sagrado. “O pai de santo é o guardião do axé, aquele que conduz, ensina e acolhe. Ele não é dono de poder, mas servidor da tradição e do equilíbrio espiritual”, explica Pai Olavo, terapeuta, psicanalista, empresário e sacerdote de Ifá, reconhecido oficialmente em 2023 como o primeiro Líṣà Ògbóni no Brasil por autoridades da tradição yorùbá.

O pai de santo da Umbanda é diferente do Candomblé ou do Culto Yorùbá?

No Candomblé, o pai de santo é chamado de Babalorixá (ou Iyalorixá, se mulher). Ele é o sacerdote dos orixás, responsável por conduzir rituais de iniciação, preparar oferendas e preservar os fundamentos ancestrais que vieram da África. Sua função é manter o axé, a força vital, e orientar seus filhos espirituais dentro da liturgia. É uma liderança que envolve tanto a prática ritual quanto o cuidado humano.

Já na Umbanda, religião brasileira que mistura elementos africanos, indígenas, kardecistas e católicos, o pai de santo exerce papel mais mediúnico. Ele coordena as giras espirituais, nas quais médiuns incorporam entidades como pretos-velhos, caboclos e exus catiços ( que são ancestrais genuinamente Brasileiros).

“Na Umbanda, o líder atua como um zelador do templo e um educador espiritual. Ele ajuda a comunidade a compreender as mensagens das entidades e aplicar esses ensinamentos na vida prática”

No culto tradicional Yorùbá (Isésé Làgbá), que abriga o culto dos Orixás e o Culto de Ifá, a função sacerdotal é exercida por figuras sacerdotais, como o Babaláwo, o “pai dos segredos”, Ìyánífá "mãe consagrada a Ifá". Eles são os intérpretes do oráculo de Ifá e responsáveis por orientar as pessoas de acordo com o odù, que representa seu destino espiritual.
“No culto yorùbá, a função sacerdotal é também filosófica. O sacerdote é guardião da ética, da ancestralidade e da sabedoria de Ifá, que ensina como viver em harmonia com a natureza e com o próprio destino”, explica Pai Olavo.