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3 em cada 10 paulistas já presenciaram alguma situação de violência policial

Por Assessoria 28/02/2025 13h57
3 em cada 10 paulistas já presenciaram alguma situação de violência policial
Para entrevistados a falta de treinamento, abuso de autoridade e baixos salários estão entre os motivos da violência policial - Foto: Imagem ilustrativa

A Badra Comunicação acaba de lançar os resultados de uma pesquisa inédita sobre as percepções da população do Estado de São Paulo em relação à atuação da polícia e à violência policial. A pesquisa, realizada entre os dias 10 e 15 de fevereiro de 2025, envolveu 1.501 moradores paulistas, divididos em duas macrorregiões - Região Metropolitana da Grande São Paulo e Litoral/Interior.

Sobre a Pesquisa

A pesquisa foi realizada pela Badra Comunicação e teve como objetivo investigar as percepções da população paulista em relação à atuação da polícia e à violência policial no Estado de São Paulo. Os dados foram coletados por meio de entrevistas presenciais, com aplicação de questionário composto por 28 questões, sendo 25 estruturadas e 3 abertas. Foram entrevistados 1.501 moradores paulistas, divididos em duas macrorregiões - Região Metropolitana da Grande São Paulo e Litoral/Interior. A margem de erro da pesquisa é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%.

Principais Resultados

Percepção sobre a atuação da polícia no Estado de São Paulo

A atuação da polícia no Estado de São Paulo foi avaliada de forma majoritária como “regular” (52%), mas cerca de um terço dos entrevistados a consideram “muito eficiente / eficiente” (31%), refletindo a percepção positiva de parte significativa da população. Apenas 16% a classificam como “ineficiente / muito ineficiente”.

Como você avalia a atuação da polícia no Estado de São Paulo?

Base = 1501

Muito eficiente 5,9%
Eficiente 24,9%
Regular 52,2%
Ineficiente 11,8%
Muito ineficiente 4,6%
Sem resposta 0,5%
Total 100,0%

A atuação da polícia é mais bem avaliada (31% “muito eficiente / eficiente” no Estado de São Paulo) por:

pessoas com renda familiar acima de R$ 5.000 (43%)
pessoas com 60 anos ou mais (38%)
pessoas com ensino fundamental (38%)
homens (36%)
pessoas de cor branca (36%)
moradores do litoral / interior (33%)

A atuação da polícia é mais mal avaliada (16% “ineficiente / muito ineficiente” no Estado de São Paulo) por:

pessoas de cor preta/parda (21%)
pessoas com ensino fundamental (20%)
pessoas com idade entre 45 e 59 anos (18%)

Relação entre a polícia e a comunidade

No que diz respeito à relação entre a polícia e a comunidade local, mais de um terço dos entrevistados (35%) avaliam a interação como “muito boa / boa”, enquanto 44% consideram-na “regular” e 21% a classificam como “ruim / muito ruim”.

Como você avalia a relação entre a polícia e a comunidade em sua região?

Base = 1501
Muito boa 6,3%
Boa 28,5%
Regular 44,2%
Ruim 13,8%
Muito ruim 6,7%
Sem resposta 0,5%
Total 100,00%

A relação entre a polícia e a comunidade é mais bem avaliada (35% “muito boa / boa” no Estado de São Paulo) entre:

pessoas com renda familiar acima de R$ 5.000,00 (53%)
pessoas com ensino superior (44%)
pessoas com 60 anos ou mais (43%)
pessoas de cor branca (42%)
homens (40%)
moradores do litoral / interior (38%)

Por outro lado, a relação entre a polícia e a comunidade é mais mal avaliada (21% “muito ruim / ruim” no Estado de São Paulo) por pessoas de cor preta/parda (27%), pessoas mais jovens de 16 a 24 anos (23%) e pessoas com renda de até R$ 3.000 (23%).

Confiança no trabalho da polícia para garantir a segurança da população

No Estado de São Paulo, 76% dos entrevistados expressam confiança no trabalho da polícia para garantir a segurança da população, sendo que 35% afirmam “confiar muito” e 41% “confiar pouco”. Apenas 23% indicam “não confiar” nessa instituição para garantir a segurança da população.

Você confia no trabalho da polícia do Estado de São Paulo para garantir sua segurança?

Base = 1501
Confio muito 35,0%
Confio pouco 41,1%
Não confio 23,3%
Sem resposta 0,5%
Total 100,0%

Há um nível de confiança maior no trabalho da polícia para garantir a segurança da população (35% “confiam muito” no Estado de São Paulo) entre:

pessoas com renda familiar acima de R$ 5.000 (47%)
pessoas com 60 anos ou mais (42%)
pessoas de cor branca (40%)
pessoas com ensino superior (39%)
homens (39%)
moradores do litoral / interior (37%)

Sentimentos diante de eventual abordagem da polícia

Quando questionados sobre como se sentiriam em caso de abordagem policial, 63% afirmam sentir-se seguros, dos quais 37% se consideram “completamente seguros” e 26% “relativamente seguros, mas com algumas preocupações”. Por outro lado, 36% dos entrevistados indicam sentir-se “inseguros e desconfortáveis” (28%) ou “muito inseguros e com medo” (9%).

Se você fosse abordado(a) pela polícia, como se sentiria?

Base = 1501
Completamente seguro(a) 37,0%
Relativamente seguro(a), mas com algumas preocupações 25,6%
Inseguro(a) e desconfortável 27,6%
Muito inseguro(a) e com medo 8,7%
Sem resposta 0,9%
Total 100,0%

As pessoas que se sentiriam mais seguras (63% “completamente seguras” ou “relativamente seguras, mas com algumas preocupações” no Estado de São Paulo) são:

pessoas com renda familiar acima de R$ 5.000 (77%)
pessoas com 60 anos ou mais (67%)
pessoas com ensino fundamental (66%)
moradores do litoral / interior (65%)
pessoas de cor branca (65%)

Dentre as pessoas com renda familiar entre R$ 3.000 a R$ 5.000, metade (50%) se sentiriam “inseguros e desconfortáveis” (37%) e “muito inseguros” (13%) se fossem abordados pela polícia; já entre as pessoas de cor preta/parda, o percentual de insegurança fica em 39%, sendo “inseguro e desconfortável” (30%) e “muito inseguro” (9%).

Esse sentimento de segurança é corroborado pelo fato de que 87% dos entrevistados afirmam não ter evitado de passar por determinadas áreas devido ao medo de ser abordado pela polícia.

Você já evitou alguma vez passar por determinadas áreas devido ao medo de ser abordado(a) pela polícia?]

Base = 1501
Sim 13,3%
Não 86,7%
Total 100,0%

Dentre os que já evitaram passar em algum lugar por medo de ser abordado (13% “sim” no Estado de São Paulo), sobressaem-se:

homens (20%)
pessoas com 16 a 24 anos (19%)
pessoas com 25 a 44 anos (17%)
pessoas com renda familiar acima de 5.000 (16%)

Uso de força excessiva em abordagens policiais

Quando questionados sobre o uso de força excessiva pela polícia em suas abordagens, 12% dos entrevistados afirmam que isso ocorre “sempre” e 63% acreditam que acontece “às vezes”. Por outro lado, 13% consideram que a força excessiva ocorre “quase nunca” e 10% afirmam que “nunca” ocorre.

Você acha que a polícia utiliza força excessiva em suas abordagens?

Base = 1501
Sempre 12,5%
Às vezes 63,2%
Quase nunca 13,0%
Nunca 9,9%
Sem resposta 1,4%
Total 100,0%

As pessoas que mais consideram que a polícia utiliza força excessiva (76% “sempre / às vezes” no Estado de São Paulo) são:

pessoas com idade entre 16 e 24 anos (86%)
pessoas com ensino fundamental (81%)
pessoas de cor preta/parda (81%)
moradores da Região Metropolitana de São Paulo (80%)
pessoas com renda familiar até R$ 3.000 (80%)
mulheres (79%)

Pessoas mais afetadas pela violência policial

Metade da população (50%) acredita que a violência policial impacta mais alguns grupos do que outros.

Você acredita que a violência policial afeta mais algumas pessoas do que outras?

Base = 1501
Sim 50,2%
Não 47,3%
Sem resposta 2,5%
Total 100,0%

Essa opinião aparece com mais força (50% “sim” no Estado de São Paulo) entre:

moradores do litoral / interior (54%)
pessoas de cor preta/parda (54%)
pessoas mais jovens - a concordância com essa visão é maior entre as pessoas mais jovens e decresce conforme aumenta a idade: 16 a 24 anos (59%); 25 a 44 anos (53%); 45 a 59 anos (47%); e 60 anos ou mais (45%).

Os entrevistados que acham que a violência policial afeta mais algumas pessoas do que outras, consideram que as maiores vítimas são:

pessoas de baixa renda e vulneráveis (41%): baixa renda, pobres, carentes, pouca escolaridade, marginalizados, moradores de rua;
negros (36%); nesse caso o percentual sobe para 44% entre pessoas com ensino superior; para 40% entre pessoas de cor preta/parda; para 39% entre mulheres;
pessoas que vivem em áreas periféricas (12%): pessoas que moram em comunidades ou na periferia
pessoas jovens (4%)

Opiniões sobre as possíveis causas da violência policial

Ao serem perguntados sobre as principais causas da violência policial, os entrevistados indicaram:

deficiências dentro da própria polícia, como falta de treinamento, abuso de autoridade e baixos salários (39%);
questões sociais, como preconceito, discriminação racial, desigualdade social, impunidade, corrupção, leis fracas contra o crime, valores da sociedade e o próprio sistema (26%);
criminalidade (11%);
desvalorização e falta de apoio à categoria, como falta de apoio aos policiais, estresse, desvalorização dos policiais (10%);
atitude das pessoas abordadas, considerando desacato ao policial, autodefesa do policial (6%);
e há uma parcela não acredita na existência de violência policial (3%).

Experiências com abordagem policial

Além das percepções da população do Estado de São Paulo em relação à atuação da polícia, a pesquisa investigou também as experiências concretas dos entrevistados, a partir de abordagens já vividas ou presenciadas.

A pesquisa revelou que 47% da população do Estado de São Paulo já foi abordada pela polícia ou presenciou a abordagem de outra pessoa; 53% não passaram por essa circunstância.

Você já foi abordado/a ou presenciou a abordagem de outra pessoa pela polícia?

Base = 1501

Sim 47,1%
Não 52,6%
Sem resposta 0,3%
Total 100,0%

Há uma diferença entre os sexos, sendo que 65% dos homens já passaram por essa experiência, enquanto apenas 31% das mulheres presenciaram ou foram abordadas. Essa experiência também foi menos vivenciada por pessoas de 60 anos ou mais (36%) – fato curioso, uma vez que, pelo tempo maior de vida, poderiam ter mais chance de haver passado por essa experiência.

Por outro lado, essa experiência aumenta conforme a escolaridade, correspondendo a 41% entre pessoas com ensino fundamental, passando a 46% entre aqueles que possuem o ensino médio, culminando entre as pessoas com ensino superior (55%). Esse aumento também ocorre quando se leva em conta a renda familiar, correspondendo a 45% entre aqueles com renda até R$ 3.000, seguido por pessoas com renda de R$ 3.001 a R$ 5.000 (47%), para chegar a 68% entre os que têm renda acima de R$ 5.000. Ou seja, a experiência com abordagem policial é maior entre os que têm ensino superior e renda familiar maior.

Dentre os entrevistados que já foram abordados ou presenciaram a abordagem de outra pessoa pela polícia, 59% consideram que a abordagem foi respeitosa.

Se sim: você considera que essa abordagem foi respeitosa?

Base = 707
Sim 58,8%
Não 40,2%
Sem resposta 1,0%
Total 100,0%

Esse percentual sobe ligeiramente entre os homens (63%) e entre pessoas de cor branca (63%). Interessante notar que quanto maior a idade, maior é o percentual dos que consideram que a abordagem foi respeitosa: 16 a 24 anos (53%); 25 a 44 anos (56%); 45 a 59 anos (60%); 60 anos ou mais (68%). Por fim, renda e escolaridade também influenciam nessa visão: 76% das pessoas com renda familiar acima de R$ 5.000 consideraram que a abordagem da polícia foi respeitosa, assim como as pessoas com ensino superior (63%).

Situação de violência policial

Entre a população do Estado de São Paulo, 29% dos entrevistados afirmam ter presenciado algum episódio de violência policial, enquanto 71% nunca vivenciaram essa situação.

Você já presenciou alguma situação de violência policial?

Base = 1501
Sim 28,5%
Não 71,4%
Sem resposta 0,1%
Total 100,0%

Esse testemunho é maior entre pessoas com renda familiar acima de R$ 5.000 (37%), entre os mais jovens na faixa de 16 a 24 anos (36%), entre as pessoas de cor preta/parda (35%).

Quando indagados sobre se já foram vítimas de violência policial, 8% dos entrevistados responderam afirmativamente.

Você já foi pessoalmente vítima de violência policial?

Base = 1501
Sim 8,4%
Não 91,4%
Sem resposta 0,2%
Total 100,0%

Essa experiência foi mais citada por homens (11%), pessoas na faixa de 25 a 44 anos (11%), moradores da Região Metropolitana de São Paulo (10%) e pessoas de cor preta/parda (10%).

Percepção sobre os impactos da violência policial e o papel das instituições governamentais

Para 85% dos entrevistados do Estado de São Paulo, a violência policial “afeta negativamente” a imagem da polícia; 12% acham que “não afeta” e 3% consideram que “afeta positivamente”.

Você acredita que a violência policial afeta a imagem da polícia perante a população?

Base = 1501
Afeta positivamente 3,4%
Afeta negativamente 84,5%
Não afeta 11,6%
Sem resposta 0,5%
Total 100,0%

A opinião de que a violência policial “afeta negativamente” (85% no Estado de São Paulo) a imagem da polícia se sobressai entre jovens de 16 a 24 anos (92%), moradores da Região Metropolitana (87%), mulheres (87%) e pessoas de cor preta/parda (87%). Entre os que acreditam que a violência policial “não afeta” a imagem da polícia perante a população (12% no Estado de São Paulo), sobressaem-se aqueles com renda familiar superior a R$ 5.000 (19%) e entre pessoas com 60 anos ou mais (17%).

Para 74% dos entrevistados, a violência policial “afeta negativamente” a confiança nas autoridades do Estado. Por outro lado, 24% afirmam que “não afeta” essa confiança, enquanto 2% acreditam que ela “afeta positivamente”.

A violência policial afeta sua confiança nas autoridades do Estado?

Base = 1501
Afeta positivamente 1,8%
Afeta negativamente 73,7%
Não afeta 23,5%
Sem resposta 1,0%
Total 100,0%

A pesquisa revelou também que 71% das pessoas acham que o Governo do Estado de São Paulo não tem feito o suficiente para combater a violência policial; esse percentual sobe entre os mais jovens, na faixa de 16 a 24 anos (84%), pessoas de cor preta/parda (77%), mulheres (75%), moradores da Região Metropolitana (74%) e pessoas com renda familiar entre R$ 3.001 e R$ 5.000 (74%).

Você acha que o governo do Estado de São Paulo tem feito o suficiente para combater a violência policial?

Base = 1501
Sim 25,7%
Não 71,2%
Sem resposta 3,1%
Total 100,0%

Para 77% das pessoas, a polícia deveria ser mais fiscalizada em suas ações. Essa opinião ocorre mais intensamente entre as pessoas mais jovens (86% na faixa de 16 a 24 anos; 79% na faixa de 25 a 44 anos) e entre pessoas de cor preta/parda (82%).

Você acredita que a polícia deveria ser mais fiscalizada em suas ações?
Base = 1501
Sim 76,9%
Não 21,6%
Sem resposta 1,5%
Total 100,0%

Diante de notícias sobre violência policial, os entrevistados opinam que a população reage com “indignação” (64%), indiferença (23%) ou apoia a polícia, acreditando que ela está certa (9%).

Quando há notícias sobre violência policial, como você acha que a população reage?

Base = 1501
Com indignação 63,6%
Com indiferença 23,4%
Apoia a polícia, acreditando que ela está certa 9,4%
Sem resposta 3,6%
Total 100,0%

A reação “com indignação” é mais apontada por pessoas de cor preta/parda (70% contra 58% entre pessoas de cor branca), moradores da Região Metropolitana (68% contra 60% no litoral / interior) e mulheres (66% contra 61% entre os homens).

A opinião de que a reação da população diante de notícias sobre violência policial seria de “apoio à polícia, acreditando que ela está certa” é compartilhada por 9% dos entrevistados. Esse percentual é mais elevado entre pessoas com renda familiar superior a R$ 5.000 (17%), com 60 anos ou mais (16%), com ensino superior (12%), de cor branca (12%), residentes no litoral / interior (12%) e entre os homens (11%).

Comentários finais sobre o tema da violência policial no Estado de São Paulo

Dentre os entrevistados, 27% fizeram comentários finais sobre o tema da violência policial no Estado de São Paulo, apontando:

A necessidade de aprimoramentos e mudanças na polícia (21%)
A necessidade de valorização da categoria (3%)
A necessidade de mudanças na sociedade (1%)