Brasil

Noiva de Marlon Sandro relembra agressão pelo lutador: 'Me apagou no meio-fio'

Tayssa Madeira morava com o atleta de MMA há seis meses; Foi espancada com socos e chutes, teve o pulso quebrado e saiu com vários hematomas após discussão

Por G1 com G1 15/12/2017 08h12
Noiva de Marlon Sandro relembra agressão pelo lutador: 'Me apagou no meio-fio'
Reprodução - Foto: Assessoria

Tayssa Madeira estava noiva de Marlon Sandro, ex-lutador do Bellator, há pouco mais de um mês. Quem acompanha o atleta pelas redes sociais provavelmente já havia visto o casal, justamente por conta do grande número de fotos apaixonadas que ele compartilhava em seus perfis. Os dois moravam juntos há seis meses e, na última quarta-feira, foram ao Maracanã acompanhar o jogo do Flamengo contra o Independiente, pela Copa Sul-Americana. Tudo ia bem, até que Tayssa virou parte da estatística e se tornou uma das 503 mulheres vítimas de violência doméstica a cada hora no Brasil.

Na madrugada desta sexta-feira, a gerente de marketing conversou com o Combate.com e relembrou os momentos de horror sofridos após o jogo. Depois de uma discussão com o noivo, ela foi espancada no meio da rua. Apagada com um mata-leão, recebeu chutes e socos no rosto, puxões de cabelo e se viu na mesma situação que uma em cada três mulheres tem sofrido no Brasil ao longo do último ano.

- Estava com o Marlon no jogo do Flamengo, e aí ele se irritou por algum motivo. A gente tinha bebido, mas também nada demais. Eu não reparei em nenhum transtorno absurdo nele. Ele queria ir embora, e eu falei que não. Devo ter reclamado ou retrucado que eu não queria ir embora, e isso provavelmente virou uma briga, mas eu não sei porque tomou essa proporção. Ele me agarrou no pescoço, me apagou no meio-fio, já na minha rua. Quando eu acordei no chão, perguntei: “O que que houve?”. E aí ele disse que ele tinha me apagado, que eu tinha dormido. Eu perguntei por que ele tinha feito isso e ele não me dizia o motivo. Eu falava: “Mas por quê que você está fazendo isso?”. E ele não falava nada, só me xingava. Então ele me deu a primeira pancada, que foi aqui na orelha, que está sangrando, machucou o meu brinco. E aí eu não entendia. Eu continuava perguntando por quê? Ele ficou transtornado, ele surtou. Não tinha um motivo, não houve uma briga, não houve um desentendimento pra gente chegar nisso. Foi simplesmente uma reação dele. Ele perde a cabeça e eu não sei de onde surgiu isso - relembra.

Madeira conta que, a partir desse momento, as agressões começaram a progredir. Mesmo pedindo por socorro, ela relata que ninguém parou para ajudar.

- Ele começou a me bater, eu tentei fugir, tentei entrar num táxi, o táxi foi embora porque ele me puxou pelo cabelo. Ninguém ajudou, tudo bem que estava muito tarde e não tinha muita gente passando, mas eu gritei por socorro. Eu vi dois porteiros olhando e ninguém ajudou, sabe? Eu não sei se olham pra ele e, vendo o tamanho dele, as pessoas ficaram com medo. Não dá pra julgar também uma pessoa se meter nisso assim sozinha. Mas ele não teve o menor pudor de fazer isso no meio da rua. Me deu um chute e me acertou aqui na coxa, eu caí no chão assim de joelho, bati meu pulso, quebrei o punho, bati no meio fio. Aí ele veio, eu fui pra cima dele ainda, tentei empurrar ele e perguntar por quê isso estava acontecendo, e eu falava: “Para com isso, pelo amor de Deus”. E ele me deu um soco, que foi esse pior, de frente, me deu um soco no olho, me deu outro quando eu estava no chão, me deu um soco atrás da cabeça, na testa também. Me deu chute…eu não entendi porque ele estava fazendo isso.

Tayssa afirma que, em um determinado momento, conseguiu fugir ao pegar a chave do carro de Marlon. Ela seguiu para a 9ª DP, no Catete, onde pediu ajuda da polícia, mas foi informada que não poderia fazer o Boletim de Ocorrência antes do reconhecimento médico.

- Eu consegui fugir na hora que…eu ainda cheguei a roubar o carro dele, peguei a chave quando ele jogou as minhas coisas no chão e eu caí no meio da rua. Ali eu peguei a chave, entrei e consegui trancar, ele ainda tentou ir atrás, aí eu fui na delegacia. Lá no Catete, na 9ª DP, o policial chamado Eduardo riu da minha cara, ficou rindo e eu cheguei aos prantos e falando: “Estou sendo agredida pelo meu noivo, eu não sei o que fazer, estou com medo de voltar e roubei o carro dele pra fugir, porque táxi nenhum parava”. E ele falou: “Infelizmente você tem que ir pro hospital, porque aqui eu não posso fazer nada por você”. E eu falei: “E o boletim de ocorrência? Não é assim? Eu achei que era assim, que você ia pra delegacia e a polícia te ajudava. Se a polícia não pode me ajudar, eu não sei quem pode!”.

A gerente de marketing, então, voltou para rua onde mora para devolver o carro de Marlon e seguir para o hospital.

- O policial falou: “O primeiro passo é que você precisa devolver o carro.” Eu falei: “Você quer que eu devolva o carro e ele acabe de me matar?” Aí ele falou, “Não, deixa o carro, porque não é seu, e você tem que ir pro hospital.” Foi o que eu fiz. Eu voltei, ainda falei com ele, “Belo policial, né, espero que você não precise de ajuda pra ninguém da sua família e não tenha um policial como você pra ajudar.” Eu deixei o carro de volta na minha rua, entrei num táxi - quando eu ia entrar no táxi ele (o Marlon) ainda puxou a minha porta, ficou me perguntando onde tinha deixado o carro dele, mas eu já tinha deixado pra lá. Ele ficou me puxando pelo cabelo e pela roupa, fiquei seminua. Eu pedi um Uber, eu só pedia pro cara do Uber ir embora. Fui pro hospital Rio Laranjeiras, e aí chegando lá, porque era de madrugada, não tinha muito atendimento. Tinha uma plantonista, que me olhou e falou que eu tinha que fazer uma série de exames, por conta de pancada na cabeça. Ela achou que meu punho estava fraturado, só que eu ia ter que esperar muito, porque naquela hora não tinha ortopedista, não dava pra fazer nem raio-X e nem tomografia. Aí falei que não, que só queria algo pra dor e ir embora! Ela me fez assinar um termo pra sair à revelia, me deu uma injeção de algum analgésico, e eu fui pra casa, minha irmã foi me encontrar. O Marlon deixou a chave dele, porque a gente já morava junto; fui pra casa da minha irmã, consegui tomar um remédio pra dormir, e de manha fui para o hospital Souza Aguiar fazer todo o boletim, todos os exames, Foi quando vi que fraturei o punho, tive que imobilizar e engessar. Meu olho tem que fazer alguns exames mais sérios, porque parece que tem alguma coisa, tem um derrame, e minha tomografia deu tudo OK. Fiz todos os exames, está tudo OK, só tenho dor e estou tomando remédios o dia inteiro - completa.

Questionada, Tayssa confessou que não foi a primeira vez que havia sido vítima de agressões por parte do atleta de MMA.

- Não (não foi a primeira vez), mas nesse grau, foi. Nesse nível, foi. As outras foram, assim, leves. Não sei se pode chamar alguma agressão de leve, mas foi uma coisa assim…Por ciúmes ele já me empurrou, já me deu uma cotovelada na barriga, mas nunca neste grau. E sempre falando, “Ah, eu sei, tenho que mudar, eu fico estressado…”. Nunca neste nível de acabar com a minha cara assim.

Ainda bastante abalada, ela diz que não sabe o que vai fazer daqui pra frente.

- Eu sei lá o que eu penso… Eu só quero ficar em paz. A gente tinha uma família linda, eu ia casar com ele, a gente ia casar no ano que vem. A gente ia casar no civil agora. Eu era muito apaixonada… Eu sou, não sei se dá pra dizer agora, ninguém “desama” do dia pra noite. E achei que fosse viver o resto da minha vida com ele, porque é o amor da minha vida. Mas não pode, sei lá… Se fosse o amor da minha vida, não faria isso, né?

Mãe de Tayssa, Ivna Wuensche também conversou com a equipe do Combate.com e lamentou o ocorrido. Ela ainda fez um alerta às mulheres que passam pela mesma situação sofrida pela filha:

- Eles estão juntos há pouco tempo, era uma pessoa calma e tranquila, apesar da diferença de nível de cultura, mas era uma pessoa que a gente recebeu em casa. De um neto, eu passei a ter três, sem nenhum problema. Tinham planos de casar, e essa semana ainda fui pega de surpresa, porque eles passaram o dia aqui e disseram que iam casar no civil. Eu estranhei um pouco que fosse isso, e a única coisa como declaração é que nada, de nenhuma forma, justifica o que foi feito. O que eu acho importante, e tenho orgulho dela estar se pronunciando, é que mostre isso para as outras mulheres. Eu trabalho no Souza Aguiar, a gente vê a violência todo dia, e contra a mulher é um absurdo. O único hospital que tem um serviço avançado, que é uma parceria com o Estado, de violência da criança e do adolescente infelizmente não acolhe mulher, é só a violência da criança e do adolescente. Então, a gente trabalha com esse tipo de violência o tempo inteiro. Quem se beneficia é o agressor, quer dizer, as vítimas fazem um ciclo que é conhecido, independe da idade, da raça, da cultura, do nível social…indecente. O ciclo é sempre o mesmo: elas gostam, são agredidas, eles pedem desculpas, elas continuam, são agredidas de novo e, por conta da vergonha não falam nada e ficam nesse ciclo o tempo inteiro até que, ou elas morrem da violência ou elas têm coragem pra sair desse ciclo - desabafa.

Depois da repercussão do caso, Marlon foi expulso da Nova União, onde era considerado o braço direito de Dedé Pederneiras e um dos principais expoentes do time. Aos 40 anos, o ex-campeão peso-pena dos eventos japoneses Sengoku e Pancrase, teve também passagem destacada pelo evento americano Bellator, onde foi vice-campeão de dois torneios pesos-penas. Companheiro de treino de José Aldo, o atleta esteve no córner do ex-campeão peso-pena do UFC na maioria de suas lutas, inclusive a última, em Detroit, onde Tayssa atuou como tradutora do lutador do Ultimate. Seu cartel profissional no MMA é de 28 vitórias, sete derrotas e dois empates.

Serviço:

Segundo a Lei Maria da Penha, que tornou crime a violência doméstica e familiar contra a mulher em 2006 , mulheres vítimas de agressões podem fazer a denúncia em qualquer delegacia, caso não haja uma Delegacia da Mulher 24 horas na área do ocorrido. Mulheres vítimas desse tipo de situação, em qualquer lugar do país, podem entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, através do telefone 180, que é um serviço de utilidade pública gratuito e confidencial.

[gallery ids="24238,24235" columns="4"]