Brasil
Imagens mostram regalias em cadeia que ex-governador Sérgio Cabral estava preso
Ex-governador recebia visitas fora de hora, na sala da direção do presídio
Bangu 8, presídio onde estava o ex-governador Sérgio Cabral, não parece uma cadeia convencional. Lá, presos circulam livremente, têm visitas em qualquer horário e ainda podem contar com a comodidade de receber encomendas. Entre os presos beneficiados com o esquema de "facilidades" estava Sérgio Cabral. As regalias foram registradas pelas câmeras de segurança da unidade. Veja imagens nas reportagens exibidas no RJTV e Jornal Nacional.
Uma das cenas mostra um preso recebendo um produto diretamente no portão do presídio. O pagamento foi feito em dinheiro e o entregador conferiu nota por nota. Depois ainda perguntou onde era a saída.
No último mês de março, o juiz Guilherme Schilling, da Vara de Execuções Penais do Rio, determinou a apreensão das imagens do circuito de segurança de Bangu 8. O objetivo do pedido era saber se existiam câmeras desligadas, ou que não filmavam os lugares certos.
O sistema de gravação realmente tinha falhas. Mas as câmeras que estavam ligadas já mostraram muito. Na prática, o presídio fechado funcionava como uma unidade semi-aberta. Os presos circulavam livremente mesmo fora dos horários de visita e de banhos de sol. Entre eles, Sérgio Cabral.
O ex-governador aparece tendo regalias que superam até mesmo os padrões de Bangu 8. Recebia visitas fora de hora, na sala da direção do presídio. De acordo com o livro de registros, a data e a hora em que Sérgio cabral era levado até lá coincidem com a presença em Bangu do filho dele, o deputado Marco Antônio Cabral.
Até as conversas com os advogados fugiam do padrão. O regulamento determina que o contato com o cliente seja feito num local específico: o parlatório. Mas as câmeras mostram que Sérgio Cabral saía dali e caminhava até o hall de entrada do presídio. Os advogados davam a volta por fora e chegavam ao mesmo local, mesmo em dias de chuva.
Ali, num ponto fora do alcance das câmeras, advogado e cliente ficavam em contato direto. Em uma ocasião é possível ver no canto da tela Sérgio Cabral e o advogado frente a frente.
As notícias da vida fora dos muros chegavam depressa ao ex-governador. No dia 17 março, ele foi cercado no corredor e recebeu abraços, cumprimentos e o carinho dos companheiros de cela e de presídio. Sérgio Cabral retribiu emocionado.
O dia e a hora coincidem com a notícia de que a ex-primeira dama, Adriana Ancelmo, iria sair de Bangu para a prisão domiciliar. No fim de maio, os 146 presos de Bangu 8 foram transferidos para a cadeia José Frederico Marques, em Benfica.
EncomendasComo mostrou o Jornal Nacional, durante os 6 meses em que esteve preso ali, Sérgio Cabral também recebia encomendas não permitidas. No dia 10 de março, às 10 e 28 da manhã, três homens se aproximam do portão de Bangu 8. Eles entregam um pacote a esse inspetor de camisa azul. Note que às 10 e 29 o inspetor entra na galeria com o embrulho e vai até um local que não tem câmeras.
Um minuto depois quem surge desse local carregando o embrulho é Sérgio Cabral. O ex-governador segue tranquilamente para a cela, e o inspetor volta já de mãos vazias.
Movimento após fechamento das celasEm 27 de fevereiro, às nove horas e seis minutos da noite, as celas já estão fechadas e não há ninguém no corredor. Mesmo assim, um homem acompanhado de um inspetor vai até a cela onde estão Sérgio Cabral e outros presos da operação Lava Jato.
O homem entra na cela e fica sozinho com os presos. O Jornal Nacional apurou que esse não só é considerado um procedimento irregular, mas também um risco à segurança do presídio, já que os presos tinham sido contados e conferidos para o período noturno.
O telejornal apurou ainda que o visitante era um agente da Sispen. Esse é o serviço de inteligência ligado diretamente ao secretário de administração penitenciária. O serviço não tem a missão de fiscalizar celas e nem de acompanhar a rotina dos presos. As câmeras de Bangu 8 registraram outras visitas de agentes da Sispen, todas destinadas à mesma cela.
Sobre a movimentação dos presos, a Secretaria de Adminstração Penitenciária afirma que os detentos nas imagens têm cursos superior ou estão presos por casos de não pagamento de pensão. Como não são de alta periculosidade, para a secretaria, esses presos não precisam de todo o isolamento do Complexo de Bangu.
A Secretaria de Adminstração Penitenciária do estado do Rio declarou ainda ao Jornal Nacional que os presos estavam soltos porque iriam para o banho de sol. Sobre o lanche recebido por um detento, afirmou que é da cantina da cadeia, que fica do lado de fora do presídio e que o entregador era um funcionário da lanchonete.
O telejornal não conseguiu localizar a defesa de Sérgio Cabral. O deputado Marco Antônio Cabral divulgou uma nota, em que nega as irregularidades e disse que todas as visitas foram feitas dentro das regras previstas.
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