Escritos

'Se não bastassem as rachaduras, temos que conviver com a cratera no quintal de casa'

Joselma Evaristo se diz amedrontada e com receio da residência ser puxada para a terra

Por Lucas França 12/12/2022 04h32 - Atualizado em 12/12/2022 04h47
'Se não bastassem as rachaduras, temos que conviver com a cratera no quintal de casa'
Joselma Evaristo e o repórter Lucas França - Foto: Reprodução

O projeto Vidas Afundadas foi até o Flexal de Cima, no bairro de Bebedouro, em Maceió. O local é um dos prejudicados pelo afundamento de solo causado pela exploração de sal-gema. A reportagem conversou com Joselma Evaristo, que vive amedrontada com sua família devido a uma cratera que se formou no quintal de sua residência no dia nove de outubro deste ano.

“Se não bastassem às rachaduras na casa, agora temos que conviver com essa cratera. Meu medo é que o buraco acabe ‘engolindo’ a casa com todos nós dentro. Até porque não temos como saber a profundidade da cratera. Já colocamos pedras, areia, tentamos fechar de tudo quanto é jeito, mas continua cedendo", disse Joselma.

Dona Joselma disse que já chamou a Defesa Civil e também acionou os órgãos competentes para tentar solucionar o caso. “Eles constataram que as rachaduras também aumentaram e informaram que eu deveria sair de casa. Agora pergunto: como farei isso? Eles me ofereceram um aluguel social com um valor irrisório, de R$ 250. Existe casa para alugar nesse valor? É uma vergonha. São nove pessoas nesta residência, não temos como ir para um local e ficarmos amontoados. Não tem condições de ficar assim. E também não vou para um abrigo com duas crianças pequenas", reclama a moradora, salientando que são 23 metros quadrados construídos e, destes, 21 estão com rachaduras.

Joselma diz que não tem mais sossego. “Eu não consigo mais dormir, estou vivendo à base de remédios e fazendo tratamento psiquiátricos. Meu medo é dormir e não mais acordar. Sermos puxados para debaixo da terra", ressalta.

De acordo com a moradora, tanto ela quanto seus vizinhos não querem a revitalização dos Flexais – que foi uma das propostas da Prefeitura de Maceió e dos órgãos para a localidade, que vive em isolamento social por conta da realocação de grande parte do bairro de Bebedouro. No local, há dificuldades em todos os setores. Segundo Evaristo, faltam escolas, unidades de saúde, supermercado, segurança, entre outros serviços essenciais.

“Não há condições de ficarmos por aqui, falta tudo. Eles querem revitalizar, mas não concordamos, pois isso vai ser uma medida paliativa. Quem já se viu tirar o corpo e deixar apenas os ‘braços’? Toda a localidade segue comprometida com a instabilidade do solo. Revitalizam e, daqui uns meses ou anos, teremos que sair. Eles falaram que nós pedimos a revitalização e isto é mentira, não queremos isso. Estava na reunião e disse que não aceito, assim como grande parte dos moradores. Não há como um grupo de representantes de bairro falar por todos ou pela maioria dos moradores. Queremos realocação, essa história de revitalização foi uma invenção deles", pontua Joselma.

Joselma disse ainda que espera que a justiça seja feita e que todos possam recomeçar a vida com segurança. “Ninguém queria sair do bairro. Não iríamos pedir isso se aqui fosse seguro. Eu construí minha vida aqui, criei meus filhos aqui. Era um bairro com vida, um local alegre e que tínhamos tudo. Aqui não fiz apenas amigos, mas família. Todos nos conhecemos e em época de festas nos reunimos para confraternizar. Agora nem isso mais, pois não temos o que comemorar. Espero em Deus e na Justiça que tudo se resolva, porque não pode ficar como está", finalizou.