Escritos

Alexandre Sampaio: uma história de luta entre os empreendedores no Pinheiro

Sampaio foi fundador e é presidente da Associação dos Empreendedores do Bairro do Pinheiro e Região Afetada

Por Rívison Batista 09/08/2022 02h01
Alexandre Sampaio: uma história de luta entre os empreendedores no Pinheiro
Alexandre Sampaio sendo entrevistado pelo repórter Rívison Batista - Foto: Jonathan Canuto

O empreendedor Alexandre Sampaio foi do céu ao inferno do dia para noite, literalmente, com o problema de afundamento de solo no bairro do Pinheiro. Alexandre era proprietário de três empresas no bairro, sendo uma imobiliária, uma empresa de marketing e uma clínica de psicologia e nutrição, onde consultórios eram locados para profissionais de saúde dessas áreas. Duas empresas foram à falência e uma teve seu tamanho bastante reduzido. “Conheço o bairro do Pinheiro desde que o meu avô fundou a Igreja Batista do Pinheiro, na Rua Miguel Palmeira, junto com a minha avó. O meu avô era uma pessoa que lutava por direitos sociais e inclusive foi caçado na época da ditadura militar. Boa parte dos valores que tenho hoje vem do meu avô, dessa época”, afirma Alexandre. Os avós dele moravam na Rua Tereza de Azevedo, que é a mesma rua da conhecida loja Casa Vieira.

A primeira empresa de Alexandre, que é de marketing, foi construída na Travessa Manoel Menezes. “No Pinheiro, estou desde que me formei, em 1990. A gente tem uma trajetória, nesse bairro, que é de uma vida. Você faz planos e não imagina que o subsolo do bairro onde você construiu uma vida inteira estava sendo minado pela imperícia”, disse. As amizades no bairro eram muitas. Eram na igreja, eram na imobiliária (que foi à falência) através dos clientes que compravam imóveis, muitos deles, inclusive, no Pinheiro, eram com amigos comerciantes nas redondezas, como o Dirceu Buarque, por exemplo, da Padaria Belo Horizonte, enfim, eram amizades por toda a vizinhança desde a sua chegada em 1990. “Tudo isso se desfez por causa do afundamento”, comentou.

A aposta no bairro e o terremoto

Vendo que o bairro do Pinheiro estava em constante crescimento, Alexandre Sampaio apostou tudo no local. “Pegamos todas as reservas que tínhamos da imobiliária em 2015 e 2016 e terminamos a reforma da clínica de psicologia e nutrição. A gente tinha uma sinergia entre as empresas. Quando as salas da clínica já estavam mobiliadas e estávamos faturando, a gente teve que fechar pelo problema do afundamento”, conta Alexandre, que diz que sua esposa, que é psicóloga e era a proprietária da clínica, foi a pessoa mais atingida por essa situação.

Em 3 de março de 2018, um dia de sábado, Alexandre conta que estava em um evento no litoral sul alagoano e um corretor da sua imobiliária estava apresentando um apartamento no Residencial Tibério Rocha, que fica no coração do Pinheiro. Na hora da apresentação a possíveis compradores, o local foi sacudido de uma parede para outra. “O corretor até bateu a cabeça na parede. Na hora foi uma gritaria. Todo mundo desceu do prédio”, relembra Sampaio.

Desde desse dia, que ficou marcado pelo grande tremor em Maceió provocado pela mineração da Braskem, os negócios de Alexandre começaram a ruir.

O bairro do Pinheiro estava decolando

“O impacto para a imobiliária começou neste dia, em 3 de março de 2018. Depois do tremor, começou a decair o movimento. As pessoas se perguntavam: ‘Vale a pena vender um imóvel em um bairro que teve um terremoto?’. O bairro do Pinheiro era o bairro que mais crescia em arrecadação de tributos em Maceió. A imobiliária tinha muitos imóveis para vender no bairro. O Pinheiro ainda estava sendo descoberto pelo mercado imobiliário. Tinha mais de 20 projetos em diversas fases. O bairro era perto de tudo e estava virando um complexo hospitalar. Tinham 2 hospitais e dezenas de clínicas”, disse Alexandre.

A partir do momento que houve o tremor de solo, os corretores começaram a sair da sua imobiliária. Em dezembro de 2018, teve início o movimento SOS Pinheiro. Em janeiro de 2019, o assunto do afundamento eclodiu na população alagoana. “A Prefeitura tinha decretado, em dezembro [de 2018], estado de emergência. Havia gente que dizia que o bairro ia afundar durante a quadra chuvosa. A minha esposa tinha 3 meses de fila de espera no consultório de psicologia, e começou a ter tardes inteiras sem nenhum paciente. As pessoas tinham medo de ir ao bairro. Havia o aviso, inclusive, da Defesa Civil, de não circular pelo bairro em períodos de chuva. A população começou a ver o Pinheiro como um risco de morte. Não tem um negócio que resista dessa forma”, relembra.

Surge a Associação dos Empreendedores

Em fevereiro de 2019, Alexandre conta que foi procurar Dirceu Buarque, da Padaria Belo Horizonte, Falone Tenório, do Colégio Santa Amélia, e outros empresários que foram atingidos pelo afundamento. “A gente precisava se unir e entender o que estava acontecendo. Foi aí que surgiu a Associação dos Empreendedores do Bairro do Pinheiro e Região Afetada. De início, era só Pinheiro, porque ninguém sabia que teriam outros bairros também com o mesmo problema. Depois, agregou todos os envolvidos”, recorda o empreendedor.

“A imprensa só falava em moradores. Mas era um problema geral, que também incluía empresas. O movimento SOS Pinheiro era só de moradores. Então, eu afirmei para os empreendedores que estávamos sem lugar de fala e éramos profundamente atingidos pelo problema. Formamos, no dia 12 de fevereiro de 2019, a Associação dos Empreendedores. O estatuto da associação tem, em primeiro lugar, a premissa de salvar vidas e preservar as pessoas. Depois, buscar indenização dos prejuízos que os negócios estavam sofrendo”, completa.

A influência da Braskem

O empreendedor relatou que, durante o início da pandemia de Covid-19, no começo de 2020, transformou o sofrimento em luta e começou a fazer lives sobre o problema do afundamento. Alexandre também comentou sobre a possível influência da mineradora Braskem sobre órgãos e poderes.

“Na hora do embate real, todo mundo abria. A Braskem foi cooptando liderança por liderança, movimento por movimento, órgão por órgão, poder por poder, até que se criou uma dominação completa. Muitos, hoje, representam na prática, no submundo, a Braskem. Eu achava que, nesse crime que a Braskem cometeu em Maceió, poderíamos contar com o Ministério Público. Nos causou muita estranheza quando notas técnicas que falavam de evacuação em áreas de alto perigo foram escondidas por todos os órgãos: Defensorias, Defesa Civil e Ministérios Públicos. Denunciei uma nota técnica em uma das lives que fiz. Foi a nossa associação que denunciou isso publicamente e deu um rebuliço nos Ministérios Públicos. O segundo mapa de risco que saiu foi fruto dessa denúncia. A gente começou a ver que as autoridades, ao invés de estarem ao lado do povo, começavam a migrar para fazer o jogo da Braskem. Isso em um problema que era de profundo interesse público”, concluiu Alexandre.

Renascimento

Hoje, Alexandre conseguiu estruturar um empreendimento no litoral sul de Alagoas, na cidade de Coruripe. “Está a uma hora e vinte de Maceió. Quem busca uma casa de praia, nosso empreendimento fica em Miaí de Cima. Uma bela praia e um lugar belíssimo”, disse.

Escute a entrevista no podcast Vidas Afundadas: