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Cavalo-marinho da Ponta Verde ganha pintura especial que conta histórias de Maceió

Escultura que resgata memória do antigo Alagoas Iate Clube, o Alagoinha, ganhou cores e toques de arte contemporânea

Por Deborah Freire / Secom Maceió 17/02/2023 19h13 - Atualizado em 17/02/2023 20h26
Cavalo-marinho da Ponta Verde ganha pintura especial que conta histórias de Maceió
Cavalo-marinho ganhou cores e símbolos que fazem referência a Maceió - Foto: Jonathan Lins / Secom Maceió

Com sprays de diversas cores, a artista visual Yara Pão foi estampando com agilidade a base branca da escultura de cavalo-marinho reinstalada na praia de Ponta Verde, ao lado do antigo Alagoas Iate Clube, o Alagoinha. Aos poucos, ela foi dando vida ao concreto, e o peixe que era uma tímida imagem cinza no mar de esmeralda se transformou em um obra de arte deslumbrante.

A presença do cavalo-marinho, que já existiu no local e era uma referência ao antigo Alagoinha antes de ser derrubado pela maré, volta a ser um convite à visita à praia e a uma viagem pelo tempo, quando o clube dentro do mar reunia as famílias em bailes de Carnaval, festas de Réveillon, encontros, desfiles e outros eventos, desde a década de 1970 até os anos 2000.

“O momento em que a Prefeitura de Maceió entrega a escultura pronta à população é muito apropriado, não apenas por ser uma memória do antigo Iate Clube, mas porque a gente lembra do que ele representava para a sociedade e para os frequentadores, que eram as prévias e os bailes carnavalescos. É uma justa homenagem a uma peça que ficou esquecida no tempo e agora recebe esse toque de arte contemporânea, para a gente reativar as recordações e para que as pessoas possam voltar a frequentar o espaço e conhecer um pouco mais da história do cavalo-marinho”, destaca o gerente da Zeladoria Municipal, Fábio Palmeira.

A iniciativa da Zeladoria tem como objetivo além da revitalização, estimular o sentimento de pertencimento, a memória afetiva e despertar o desejo de cuidado dos moradores e visitantes com as obras e os bens públicos.

Para a professora aposentada e ex-diretora social do Alagoinha, Madalena Santana, o objetivo foi cumprido. Ela que vivenciou importantes momentos no iate clube, como o Réveillon em Mares de Prata, na década de 1980, e conhece bem a história do local, ficou feliz com a recuperação da escultura.

“Eu como professora entendo que a história possibilita a conexão de passado, presente e futuro. É uma linha, e quando você perde isso, perde-se uma parte da história. Dou parabéns à Prefeitura pela iniciativa. Um dia pode até ser que a construção desapareça, mas alguma coisa tem que ficar como história”, ressalta.

Dona Madalena conta que o cavalo-marinho era símbolo dos iates clubes com conexão com o mar. Assim soube pela narrativa do então comodoro Luiz Costa, depois que ela voltou de uma visita ao iate do Rio de Janeiro, onde viu também uma escultura do animal.

“Quando cheguei ao iate do Rio de Janeiro vi a escultura de um cavalo-marinho e isso me chamou atenção. O de lá não estava na água, estava dentro da área do próprio clube, e era menor. Quando voltei para Maceió, comentei com o comodoro, e ele me contou que o cavalo-marinho representava a proposta dos clubes de iate, que é ser dentro do mar, foi essa informação que eu tive do seu Luiz”, conta.

O cavalo e suas novas histórias

O processo criativo para a pintura do cavalo-marinho pela artista Yara Pão passou também pela história antiga, mas conta novas narrativas, que quem chegar bem perto da escultura poderá enxergar.

Ela afirma que se inspirou no tempo em que frequentou o iate clube, mesmo depois de abandonado, quando realizou pinturas nas ruínas, e também ouviu relatos da mãe e da avó, que foram frequentadoras do Alagoinha ainda em funcionamento.

“O que me chamou atenção além do fato de o cavalo-marinho estar presente em vários iates desse tipo, é a própria figura dele, porque ele faz parte de um gênero chamado hippocampus; hipo significa cavalo e campus significa monstro. Ao mesmo tempo, hipocampo é uma parte do nosso cérebro que é responsável pela memória, então o resgate do cavalo vem para isso também, para resgatar as memórias, a nossa identidade”, diz.

Na pintura, ela conta que transformou o cavalo em uma coletânea de signos que fazem referências à cidade. “Cada um vai interpretar de uma forma, mas implicitamente, se olhar mais de perto, existem algumas interpretações das vivências de Maceió. Se você olha com um olhar mais cuidadoso, tem a silhueta do Gogó da Ema, tem o Farol que fica ali pertinho, tem as folhagens, elementos aquáticos. É uma história contando a própria história”, pontua.

Quem acompanhou uma parte do processo e se encantou foi um dos mais novos moradores de Maceió, o corretor de imóveis Luiz Rickman. Ele é do Rio de Janeiro, esteve na cidade para um evento profissional na capital alagoana em novembro e se encantou. Na terça-feira veio de “mala e cuia”, como brinca.

“Me apaixonei pela cidade e pensei: ‘é aqui que vou morar’. O que me encantou foi o clima, o mar cor de esmeralda, o povo, a arquitetura, as belezas naturais, é bom demais. Sempre que posso, venho aqui nessa parte da orla e achei muito legal a iniciativa da Prefeitura, gostei muito de presenciar esse momento histórico”, celebra.