Saúde
Familiares de pacientes acusam Hospital Maceió de negligência
Denúncias contra unidade do Hapvida são também de erros médicos e de descaso com saúde dos usuários

Familiares de pacientes internados no Hospital Maceió, localizado na Avenida Getúlio Vargas, no bairro da Serraria, procuraram a reportagem do jornal Tribuna Independente para denunciar o que, segundo eles, são sucessivos episódios de erros médicos, descaso e negligência com a saúde dos usuários do plano de saúde. A unidade hospitalar pertence ao Sistema HapVida.
A família da paciente Laura Yasmin Brasil da Silva, 25 anos, alegou que a jovem foi internada, no último dia 31 de março e que, pelo menos até o último dia 15 de abril continuava na unidade de saúde, vivendo um verdadeiro “calvário”. Na segunda-feira (21) pelo estado de saúde ter piorado, segundo a família, a jovem deu entrada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Bastante debilitada, Laura Yasmin, por diversas vezes, pedia a ajuda da mãe para relatar o que tem lhe acontecido durante a longa internação. “Minha filha deu entrada no hospital com uma dor, posteriormente diagnosticada, de forma clínica, como apendicite. Medicada, foi submetida a exames que não identificaram, com precisão, se realmente era apendicite ou um cisto. Mesmo assim, a equipe médica optou por fazer a cirurgia. O procedimento foi marcado para o dia seguinte, uma vez que as dores cessaram diante da intervenção medicamentosa e diante da alegação que havia outros casos realmente urgentes na fila do centro cirúrgico. “Mesmo sem ter a comprovação do problema, via exame. Acreditamos e autorizamos a cirurgia. Afinal, não sou médica e queria minha filha bem e curada”, relatou, com riqueza de detalhes, a mãe da jovem, a autônoma Ana Paula Brasil, de 49 anos.
Conforme os parentes, a cirurgia prevista, inicialmente para durar uma hora e meia, durou o dobro de tempo e foi realizada no dia 1° deste mês, sem cortes, através de um procedimento chamado videolaparoscopia [técnica cirúrgica minimamente invasiva que permite realizar procedimentos diagnósticos e cirúrgicos na região abdominal e pélvica].
Ana Paula Brasil contou que não foi informada antes que a filha seria submetida a anestesia geral e que a informação só fora passada posteriormente.
“A alta hospitalar estava prevista para o mesmo dia, horas depois do procedimento. O que não foi possível acontecer devido às sequelas impostas à saúde da minha filha que, em plena idade produtiva e trabalhando, está em um leito de hospital, muito provavelmente, devido a algum erro no procedimento. Eu acredito que foi durante o procedimento porque minha filha retornou ao quarto sem movimento completo nas pernas. A mobilidade está comprometida”, salientou a mãe da paciente.
Jovem conta drama vivido durante dias de internação
Laura Yasmin relatou que, desde que acordou após a cirurgia, sente dores nas costas, planta do pé dormente e os movimentos em ambas as pernas está comprometido, especialmente na perna esquerda.
“Perdi minha autonomia. Não ando mais sozinha. Sequer fico em pé sozinha. Dependo da minha mãe para tudo. Para ir ao banheiro, para tomar banho. E quando relato minhas queixas físicas, os médicos insinuam que meu problema é psicológico. Como problema psicológico? Quem fica em um hospital por mais de 15 dias por vontade própria? Minha vida está lá fora, meu trabalho. Família, tudo. Quem, em sã consciência, iria inventar, mentir que não consegue andar, questionou a paciente ao pontuar ainda que, desde que a família passou a acompanhar ainda mais de perto seu caso, serviços essenciais como administração de remédios, higiene do banheiro e até mesmo a troca de lençóis começou a não mais seguir horários.
Ana Paula Brasil frisou que alguns médicos, ao fazerem a visita médica, não entram no quarto quando percebem que a paciente não está sozinha. “Estão fazendo pressão psicológica com a minha filha. Ela é de maior, mas é minha filha. Não vou deixá-la sozinha em um momento como esse. Os médicos quando entram no leito, fazem pressão para que ela peça alta. Como ela vai pedir alta hospitalar? Minha filha entrou aqui andando e tem que sair andando. Não pode sair de um hospital, pior do que entrou. Esse hospital virou nossa vida pelo avesso. Tenho um filho pequeno de oito anos que praticamente está os dois horários na escola para eu poder ficar aqui quase que, em tempo integral”, desabafou.
Conforme Laura Yasmin, um dos médicos da equipe disse que seu problema é um “parafuso solto na cabeça e que ela ficou inconsciente durante a cirurgia; e nessa perda de consciência problemas que ela tinha no passado e estavam esquecidos pela consciência voltaram à tona. O que poderia explicar a perda da mobilidade nas pernas. É revoltante, a pessoa acamada ouvir isso, minha dor é física, estou sem andar”, relatou, lembrando ainda que sofre de hipertensão arterial e que esse problema crônico é negligenciado pelo hospital que não lhe entrega as medicações no horário regrado. “Meus remédios chegam com uma hora e meia de atraso”.
Médicos contratados apontam erros de conduta na unidade
A família admitiu ter contratado de forma extra e particular médicos de fora do hospital que foram diagnosticar a paciente. “Os médicos viram a situação da minha filha. Vieram com a ciência do hospital e apontaram diversos erros na conduta. Segundo os médicos, minha filha está com uma compressão na coluna. Mas as adequações só podem ser feitas mediante prescrição dos médicos do próprio hospital. Enquanto isso, minha filha padece no leito. Nós precisamos de uma reposta. Minha filha precisa voltar a andar”, alegou a mãe, que informou ter tentado de todas as formas comunicação com o hospital.
“Não somos ouvidos. O máximo que fazem é prescrever medicações para ansiedade e insônia. Estão dopando a minha filha. Ela dormindo, claro, não vai andar. Querem mascarar a queixa clínica. E minha filha, como fica? Essas sequelas são passageiras ou permanentes? Minha filha chegou andando ao hospital e está com problemas de mobilidade”, concluiu.
Outro caso
Aos 38 anos a empresária Érica Tamires dos Santos assiste, quase sem forças mais, a total degradação da saúde da sua mãe Maria Lúcia Silva dos Santos, 58 anos. A família alegou que a paciente deu entrada, no último dia 12 de março, com uma dor no tórax e depois de sucessivos erros diagnósticos está em estado vegetativo.
“Minha mãe entrou aqui andando e falando. Queixava-se de dor no tórax. Inicialmente diagnosticada com água no pulmão, logo mudaram dizendo que era problema no coração. Ela foi submetida a duas cirurgias cardíacas e colocou quatro stents [um dispositivo médico em forma de tubo que é inserido em artérias ou veias para restaurar o fluxo sanguíneo] em menos de 24 horas. Hoje espera a hora prostrada em um leitor hospitalar. Logo depois da primeira cirurgia, os médicos disseram que precisam operar de novo, devido a um problema. Que problema? Minha mãe não bebia, não fumava e era bastante ativa nos compromissos da Igreja”.
Ainda conforme o depoimento de Érica Tamires, depois dos procedimentos a mãe precisava ir para a UTI, o que não aconteceu. Por ter sido colocada em um leito sem o suporte adequado, começou a “desfalecer”. Apenas uma médica teve o cuidado de ir até sua mãe e ao ver seu estado, conseguiu interná-la na UTI. De onde foi retirada dias depois sem a devida melhora. No quarto novamente, os problemas pioravam a olhos vistos.
“Gravei vídeos e coloquei nas redes”
“Somente depois que gravei vídeos e fiz relatos nas minhas redes sociais sobre a situação de minha mãe colocaram ela novamente na UTI. E mesmo assim, o diretor médico disse que assim que minha mãe melhorasse eu ia me retratar pelas postagens. Melhorar como?”, afirma a empresária Érica Tamires dos Santos.
“Com a saúde comprometida e sem a assistência necessária, minha mãe infartou e teve Acidente Vascular Cerebral. A pressão arterial dela chegou em uma ocasião a 5x9. Tinha um médico perto. Ele não fez nada. Perguntei se ele ia assistir minha mãe morrer na frente dele. Ele disse que o que podia fazer por ela já tinha feito e saiu. Durante esse intervalo de tempo, em uma ocasião, em menos de 24 horas minha mãe recebeu três cargas de contraste venoso. Resultado? Insuficiência renal. Sem se alimentar, recebeu uma sonda. Eu via minha mãe piorar a cada dia. Questionava. Passaram a dopar com remédios. Até que eu mesma, em um ato de desespero para salvar a vida dela, arranquei a bomba da medicação. Pararam a sedação, minha mãe ficou 10 dias dormindo, sem acordar. Indagava aos médicos. Ouvia como resposta que era o tempo da sedação sair do organismo dela. Sei que agora, ela foi submetida a traqueostomia. Está em estado vegetativo e eu agora esperando home care. Para o caso da minha mãe, infelizmente, não vejo mais solução. Mas não posso me calar. Outras vidas não podem ser destruídas dentro de um hospital como a da minha mãe foi. Hospital é lugar de cura, mas aqui acabaram com a vida dela”, desabafou, aos prantos.
Ela acrescentou que o AVC foi diagnosticado por médico particular que ela pagou e levou para ver sua mãe. “Por isso ela não acordava, teve um AVC e não teve o tratamento adequado”.
Mais um caso
Paciente Sirleide Sabino dos Santos tem Síndrome de Down e, segundo a família, fez uma traqueostomia que acabou entupindo e, pela falta de conduta assertiva por parte da equipe, novamente segundo a família, a paciente teve um infarto. E agora não reconhece ninguém mais da família.
Os relatos foram feitos pelos familiares e, no caso da Laura Yasmin, pela própria paciente à equipe de reportagem que entrou no hospital a convite dos familiares. Na entrada da unidade de saúde, não houve nenhum pedido de identificação. O que, por si só, mostra uma falha no procedimento de acesso ao ambiente hospitalar. Em respeito aos pacientes da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a equipe de jornalistas não entrou, mas pôde observar que não são cobrados documentos.
Paciente com Síndrome de Down não tem a atenção que precisava
Segundo o irmão de Sirleide, Cícero Sabino dos Santos, 59 anos, ela deu entrada no dia 23 de fevereiro na UTI para tratar de uma pneumonia. E desde então, por ter Síndrome de Down precisava de cuidados ainda mais específicos. Passou uns dias na UTI, de onde recebeu alta e foi transferida para uma enfermaria. Segundo a família, a alta da UTI foi precipitada.
“A situação da minha irmã foi se agravando. Ficou sem se alimentar. Não conseguiram colocar a sonda. Fizeram traqueostomia. Não limpara. Entupiu. Minha irmã teve parada cardíaca. Reanimaram. Voltou para UTI, onde está há pelo menos 20 dias. E agora não reconhece mais ninguém da família. Quando a gente questiona aos médicos, ouve que o quadro de saúde dela é estável. Estável como se tem febre? Nunca vi um hospital como esse. Cheio de problemas. Todo mundo reclama pelos corredores”, frisou.
A publicação das fotos dos pacientes citados nesta reportagem foi autorizada pelos seus familiares ou pelos próprios pacientes, nos casos em que os mesmos estavam internados nos leitos.
O Hospital Maceió, na Serraria, foi inaugurado no dia 2 de abril de 2021. À época da inauguração foi anunciado como um dos maiores investimentos em saúde privada e particular do estado de Alagoas.
A unidade de saúde conta com uma estrutura de 11 mil metros quadrados de área construída e teve investimento de mais de R$ 27 milhões. Além disso, conta com “modernas salas cirúrgicas e unidades de terapia intensiva (UTIs) geral, neonatal e pediátrica”.
A sua direção afirma que a unidade está pronta para atender devidamente seus usuários.
Hospital diz que avalia todos os casos
A direção do Hospital Maceió esclareceu, em nota, que todos os casos mencionados nas d4enúncias, desde a entrada na unidade, passaram por avaliação clínica e “seguem sendo monitorados com toda seriedade e segurança, conforme os protocolos médicos”.
Acrescenta que “a unidade garante que cada paciente está recebendo a devida assistência, prestada por um time de profissionais de saúde multidisciplinar”.
De acordo com a nota, “a operadora ressalta que todas as famílias foram acolhidas pela equipe do hospital, que segue ativamente dedicada ao acompanhamento de cada caso. O compromisso do hospital permanece sendo com a transparência, o respeito às famílias e a qualidade da assistência prestada aos pacientes”, completa.
O novo Hospital Maceió foi construído no bairro da Serraria. Anteriormente, funcionava no bairro do Pinheiro, atingido pelos efeitos da mineração de sal-gema na região.
“Atualmente, o hospital disponibiliza poltronas de medicação, leitos de internação e recuperação pós-anestésica, salas de gesso e ecocardiograma, centro de diagnóstico por imagem, tomógrafo, análise laboratorial, hemodinâmica, coleta e análise laboratorial. O empreendimento conta com 18 consultórios das mais diversas especialidades”.
Já a história da Hapvida começa em 1979, com a fundação do Hospital Antônio Prudente em Fortaleza, pelo oncologista Cândido Pinheiro de Lima, ainda seu principal diretor.
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