Saúde

Varíola do macaco pode chegar a Alagoas

Inexistência de bloqueio de fronteiras e transmissão por via respiratória contribuem para proliferação

Por Sirley Veloso - Colaboradora com Tribuna Independente 28/05/2022 10h50 - Atualizado em 28/05/2022 16h52
Varíola do macaco pode chegar a Alagoas
Um dos sintomas da varíola do macaco é o aparecimento de manchas no corpo - Foto: REUTERS

A chegada da varíola do macaco a Alagoas é uma possibilidade. Segundo a médica infectologista Sarah Dominique, a inexistência de bloqueio de fronteiras, portos e aeroportos, e o fato da transmissão da doença ocorrer também por via respiratória contribuem para a proliferação da infecção.

No entanto, ela disse que o vírus da varíola do macaco parece ser menos contagioso que o da varíola humana. “Todas as vezes que tivemos surto fora da África, como nos anos de 2007 e 2013, nós não percebemos o avançar da doença. Foram surtos com aproximadamente cem casos. Agora, se o vírus ganhar mutação pode ficar mais infectante, mais transmissível, podendo fugir do controle”, disse a infectologista.

Outro ponto que pode contribuir para evitar o avanço da doença, segundo Sarah Dominique, é o fato da população acima de 40 anos ter uma boa imunidade, já que foi vacinada.

“Mesmo assim, sempre que a gente tá diante de um vírus de transmissão respiratória gotícula aerossol, é muito difícil haver contenção. A própria virulência do vírus é que vai fazer esse controle, já que a condição comportamental humana é de não respeitar fronteiras. A humanidade está constantemente sob risco de zoonoses, como hospedeiros acidentais, por conta do contato com animais silvestres, sejam aves ou mamíferos”, ressaltou a médica.

Recentemente, casos da varíola do macaco foram registrados no Reino Unido, Portugal, Espanha e outros países da Europa, além da Austrália e América do Norte. Conforme Sarah Dominique, os sintomas da varíola do macaco são semelhantes ao das arboviroses (dengue, zika e chikungunya) ou Covid.

A médica destacou que a doença se manifesta com sintomas como “cefaleia, febre, dor nos olhos, prostração e, após alguns dias, surgem as manchas no corpo que progridem para pápulas, pequenas bolinhas que evoluem para vesículas com conteúdo líquido claro, e depois pústulas com conteúdo purulento que fazem o diagnóstico diferencial da varicela, conhecida como catapora. Ficam assim por dias e progridem com o rompimento, ou não, dessas lesões e formação de crostas que caem e podem deixar cicatrizes, inclusive muito profundas”.

Segundo a infectologista, a transmissão da doença pode ocorrer por meio de gotículas de saliva, quando uma pessoa doente conversa, tosse ou espirra, ou pelo contato com objetos contaminados.

Sarah disse que o uso de máscara facial, o distanciamento social e a higienização das mãos são medidas que podem contribuir para a redução do contágio pelo vírus da varíola do macaco.

VARÍOLA HUMANA

A varíola humana é considerada erradicada do Brasil há 51 anos, após os últimos casos da doença serem registrados no Rio de Janeiro, em 1971.

A campanha para erradicar a varíola no Brasil adotou conceitos e técnicas de saúde pública usados até hoje para conter surtos ou epidemias de novas doenças. Fizeram parte das estratégias, a vacinação de bloqueio e o isolamento de pessoas doentes.

Segundo profissionais de saúde, o fim da vacinação contra a varíola, em 1980 causou a perda da chamada imunidade cruzada para os outros integrantes da família dos poxvírus, que sem a vacina podem chegar às pessoas mais facilmente.

Em 2020, a República Democrática do Congo registrou 4.594 casos suspeitos, com 171 mortes, de monkeypox, vírus similar ao da varíola, que também causa lesões de pele, embora com uma letalidade menor. Os hospedeiros naturais desses vírus são macacos.