Saúde

Nos hospitais, cenário de guerra

Na linha de frente de combate à Covid-19, profissionais de saúde precisam lidar com sobrecarga, exaustão e sequelas

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 19/03/2021 08h18
Nos hospitais, cenário de guerra
Reprodução - Foto: Assessoria
Ansiedade, medo, depressão, crises de choro, sequelas físicas e emocionais da pandemia de Covid-19 têm assolado profissionais de saúde na linha de frente do combate a doença. Além disso, ainda precisam lidar com a exaustão e a sobrecarga de trabalho após mais de um ano do início da circulação do vírus no país. A Tribuna Independente ouviu representantes de algumas categorias de saúde. Segundo as entidades, a sobrecarga é real e tem gerado danos aos profissionais, mas reforçam que o compromisso de cuidar dos pacientes não vai parar. “Para mim a maior sequela é a psicológica. Os profissionais com sequelas físicas, inclusive uma conselheira nossa teve sequelas importantes, ela continua afastada. Mas muitos profissionais viram pacientes indo a óbito, com famílias desesperadas, viram familiares sendo levados pela Covid, muitos profissionais ficaram doentes. Tudo isso vai somatizando e não só os profissionais de enfermagem, mas todos os profissionais de saúde a meu ver estão na exaustão”, avalia o presidente do Conselho Regional de Enfermagem, Renée Costa. Renée fala em situação de “guerra” sendo vivenciada diariamente por profissionais com um agravante:  o cenário e as estatísticas apontam para uma piora no quadro. “É um cenário de guerra e que a gente não vê perspectivas de melhora, perspectiva de mudanças, a gente não consegue mais enxergar uma luz no fim do túnel e sinceramente não sei até quando esses profissionais vão aguentar. Os profissionais estão com uma sensação de menos medo da Covid, até porque a grande maioria foi vacinado, mas eles estão assustados, um pânico que agora não é mais de medo de ser contaminado, de morrer, o medo é agora o que está por vir, o tempo todo. Da sensação de não poder prever o minuto seguinte. Hoje não só os hospitais, são UPAs sendo transformadas em UTI, unidades básicas sendo transformadas em unidades de tratamento intermediário, isso nunca aconteceu, profissionais que lidavam apenas com atenção básica sendo obrigados a vivenciar outra realidade, de cuidados intermediários, intensivos”, destaca o enfermeiro. Ainda segundo Renée Costa desde o início da pandemia diversos aspectos vem sendo somatizados e contribuindo para o abalo nas condições emocionais dos profissionais. “No começo não havia EPI, insumos, quando começaram a chegar os insumos o medo passou a ser de se contaminar, depois de levar a doença para os seus em casa, muitos profissionais se separaram dos familiares e tudo isso vai cansando. Quando a gente tem uma expectativa de melhora, com o surgimento da vacina a coisa vem ainda mais forte e cada vez mais precisando de insumos e de profissionais. Não é uma guerra fácil de se lidar”. Estresse contínuo deixa sequelas   O presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem no Estado de Alagoas (Sateal), Mário Jorge aponta para outra importante questão: os efeitos prolongados da doença também no aspecto físico dos profissionais. “O pessoal realmente está trabalhando em pânico porque está aumentando o número de casos, a sobrecarga muito grande, o adoecimento dos profissionais aumentando devido ao acumulo de trabalho. Chegam relatos diariamente, inclusive pedindo assistência médica. São várias situações. Questão de depressão, ansiedade absurda, profissionais tendo crises de choro no meio do hospital. É muito sério”, avalia Mário Jorge. Para o presidente do Conselho Federal de Medicina de Alagoas (Cremal) Fernando Pedrosa apesar do cenário, os profissionais têm dado o melhor para prestar assistência aos pacientes. O presidente do Sindicato dos Médicos de Alagoas (Sinmed) Marcos Holanda reforça  que existe um reforço mútuo para o combate a doença, mesmo em patamares tão exaustivos. “Está no sufoco. Os médicos vêm se dedicando, trabalhando, todos os que estão na linha de frente vem se esforçando. Os profissionais da linha de frente e os de apoio porque hoje está misturado leito para Covid com leito normal devido ao agravamento. É uma rotina árdua, ano passado tivemos antecipação e muitos médicos jovens se formaram, foi um reforço, mas com certeza há um esforço, eles têm se esforçado bastante. Tenho certeza que chega uma hora que é preciso uma renovação, um suporte”, diz.