Saúde

Pandemia de Covid-19 trouxe à tona problemas mentais

Campanha Janeiro Branco reforça necessidade de cuidados e de se buscar ajuda profissional para melhorar saúde mental

Por Texto: Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 08/01/2021 15h19
Pandemia de Covid-19 trouxe à tona problemas mentais
Reprodução - Foto: Assessoria
A pandemia de Covid-19 escancarou uma série de dificuldades relacionadas à saúde mental das pessoas. Especificamente em relação aos trabalhadores de serviços essenciais, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) atestou por meio de uma pesquisa realizada ano passado que 50% desses trabalhadores relataram dificuldades relacionadas à saúde mental. “De acordo com os resultados preliminares [do estudo], os sintomas de depressão e ansiedade são maiores entre os trabalhadores de serviços essenciais do Brasil, atingindo 55% do total, em relação aos mesmos trabalhadores na Espanha (23%). Na época da pesquisa, a Espanha passava por seu pior momento da epidemia”, disse a Fiocruz. O mês de janeiro é dedicado à conscientização sobre os cuidados com a saúde mental. Em Alagoas, a campanha começou a ser difundida em 2017. Este ano, o tema da campanha é “Todo Cuidado Importa”. Segundo a presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP-15) Zaíra Mendonça a pandemia trouxe à tona uma série de dificuldades que as pessoas minimizavam ou nem sabiam que possuíam, o que reforça a necessidade de conscientização sobre a importância de pedir ajuda. “O ano de 2020 com a pandemia, eu não sei bem se ampliou o número de ansiosos, de depressivos, mas ele trouxe à tona... Fez também com que a gente olhasse um pouco mais para as nossas fragilidades. Porque muita gente já tinha um sofrimento mental, psíquico, todos nós temos algo de uma maneira ou de outras e a pandemia fez com que isso fosse descortinado. A gente observa que ela descortinou as nossas feridas e fragilidades. Mas também me deparei com pessoas que já tinham um quadro ansioso e depressivo e na pandemia conseguiram demonstrar uma fortaleza psíquica, talvez porque já estivessem em tratamento, porque conseguiram lidar melhor. Teve quadro de pessoas que também surpreenderam”. Num momento de tantas incertezas, a especialista pontua que as dificuldades “mais comuns estão relacionadas a ansiedade. “Em termos clínicos percebemos os eventos ansiosos de modo geral, os transtornos compulsivos, as fobias sociais, síndrome do pânico, todos dentro do espectro de transtorno de humor, de ansiedade”, enfatiza. E como identificar possíveis sinais de sofrimento emocional? Segundo a psicóloga é possível o próprio individuo observar se há mudanças de comportamento e humor por exemplo e buscar ajuda. “A gente diz que o autoconhecimento é a lei do bem viver. E como a gente pode se perceber? Mudanças bruscas no humor, a pessoa é mais calma e de repente está extremamente irritada, toda pessoa tem seu modus operandi, tem gente que é mais ansioso, outras mais calmas, então se há uma mudança brusca na minha maneira de me relacionar com o mundo e isso perdura é um sinal. Outro sinal é a insônia, não de uma noite apenas por uma preocupação, mas de forma constante, diária. E a gente sabe que quem não dorme bem tem o rendimento comprometido, não só rendimento de produção, laboral, mas de mal estar, produtividade em termos de bem estar. Esses dois pontos são bem característicos, mexeu num deles já é sinal de procurar ajuda, deve”, destaca. Valorização profissional e tratamento continuado De acordo com Zaíra Mendonça, durante o mês de janeiro cresce a procura por tratamento especializado em saúde mental, no entanto, ela afirma que é importante que haja a conscientização também em relação à valorização profissional e importância de um tratamento continuado. “A gente ainda tem uma sociedade muito preconceituosa, mas no mês de janeiro a gente consegue perceber esse aumento. O Janeiro branco fala isso, sobre ter autocuidado, que todo cuidado conta, esse é o lema deste ano. Quando a gente diz que todo cuidado conta, desde fazer um chá até fazer terapia, são níveis de cuidado. Acho que a gente tem conseguido, esse ano com a pandemia a coisa ficou menos organizada de forma proativa, enquanto conselho, mas a gente vê que há um aumento, porque os psicólogos acabam fazendo plantões gratuitos. Mas muitas vezes as pessoas querem o tratamento profissional, mas acabam relegando o investimento. Eu recebi muitas demandas para voluntariado, o que acontece é que o psicólogo se dispõe de atender de forma voluntária, mas a sociedade não entende a importância desse profissional. O grande desafio dessa campanha é entender que o cuidado com saúde mental exige investimento de médio a longo prazo”, reforça.