Saúde

Alagoas tem casos suspeitos de reinfecção de Covid-19

Confirmação em relação ao coronavírus somente poderá ser feita por testes laboratoriais de pesquisa, diz infectologista

Por Ana Paula Omena com Tribuna Independente 10/12/2020 08h13
Alagoas tem casos suspeitos de reinfecção de Covid-19
Reprodução - Foto: Assessoria
Vigilância na higienização é a palavra de ordem quando se trata do coronavírus. Em Alagoas já existem casos suspeitos de reinfecção pela Covid-19, embora sem comprovação laboratorial de pesquisa, assim como nos demais estados brasileiros. De acordo com o Ministério da Saúde, apesar de relatos de reinfecção não há confirmação de nenhum e que os casos sob investigação estão sendo acompanhados pelo órgão, com o apoio de especialistas dos Laboratórios de Referência Nacional (Fiocruz, Instituto Adolfo Lutz e Instituto Evandro Chagas). O infectologista Fernando Maia informou que já há casos suspeitos de reinfecção em Alagoas, e que a pandemia ainda está longe de acabar. “Só veremos luz no fim do túnel quando houver vacina disponível. E a reinfecção pode influenciar uma segunda onda de Covid-19 no estado, aliás, em qualquer momento da pandemia”, mencionou. Embora se tenham suspeitas da possibilidade no momento, o infectologista disse que somente será possível afirmar se há de fato a reinfecção com testes que não estão disponíveis na rotina laboratorial, só em laboratórios de pesquisa. “O teste rápido não diz se é reinfecção”, alertou. Maia ressaltou que a imunidade contra o vírus dura cerca de noventa dias e que a pessoa poderá ser infectada pela segunda vez totalmente diferente da primeira. “Teoricamente, a gravidade da doença está ligada à carga viral que as pessoas recebem e o uso de máscara auxilia na proteção contra a transmissão do vírus”, observou o médico. A presidente da Sociedade Alagoana de Infectologia, Vânia Pires, enfatizou que estudos recentes indicam que a pessoa pode sim ser reinfectada pela Covid-19, porém com pequenas mutações. “A pessoa pode ficar novamente suscetível a reinfecção dentro de seis meses, se surgir a possibilidade de contato com o novo Sars-CoV-2 mesmo que com uma pequena modificação e ter assim uma nova doença”, observou. A especialista explicou que ainda é difícil precisar um diagnóstico tendo em vista que é necessário ser analisado em biologia molecular. “No estado de Alagoas existem relatos de infecção, mas não existe comprovação laboratorial, clinicamente sim. Então é possível se reinfectar, quem já teve deve continuar seguindo os mesmos cuidados de antes de ter, usando máscara e evitando aglomerações, vem aí as confraternizações de empresas, festas Natal e réveillon, o que deve ser evitado o máximo possível. Ninguém fica imune se não vier uma vacina”, orientou a médica Vânia Pires. A epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin, Denise Garrett, explicou que só é possível considerar a reinfecção quando a pessoa tem o sequenciamento das amostras dos dois vírus da infecção. “A reinfecção acontece quando a pessoa se recupera da Covid-19 e tempos depois ela adoece novamente. Para confirmar a recontaminação, é preciso provar que o código genético do primeiro vírus é diferente do segundo. O código genético é como se fosse uma impressão digital do vírus”. Maceió lidera avanço na transmissão em Alagoas   Enquanto muitos estão nas ruas, os pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) apontam para o descontrole na transmissão do novo coronavírus em território alagoano. A 48ª Semana Epidemiológica (SE) avaliada pelo Observatório Alagoano de Políticas Públicas para o Enfrentamento da Covid-19 ratificou a tendência de alta sinalizada nas últimas semanas. Segundo o documento, há um “forte avanço dos casos registrados” com aumento de 43% em relação ao período anterior. O coordenador do Observatório, professor Gabriel Bádue (Fanut/Ufal), apresenta um relatório semanal com dados importantes para o monitoramento do poder público. O documento mostra que Maceió continua liderando a expansão do vírus, registrando aumento de 54% das notificações, com 477 novos casos de Covid-19 em Alagoas ao longo da última semana epidemiológica. E apesar dos óbitos se manterem numa tendência de queda, os pesquisadores avaliam que o avanço da doença pode mudar os números de mortes, já que a média móvel de novos casos também precisa ser decrescente. Sesau não confirma haver reincidência de infectados   “Considerando que as evidências de controle são verificadas a partir de um período mínimo de quatorze dias de queda nos números de casos e óbitos, entendemos que, ao final da 48ª SE, Alagoas apresenta sinais de descontrole da transmissão do novo coronavírus, que poderá causar expansão de novos casos e óbitos por todo o Estado caso não haja uma reversão desse cenário”, explica o relatório. Mesmo com as crescentes notificações e atendimentos nos hospitais, a ocupação dos leitos com respiradores, incluindo UTI, não variou muito ao longo da última semana, seguindo uma média de 36%. A redução na oferta dos leitos ainda não afetou o atendimento, aponta o Observatório. Mas, a preocupação é com a evolução do Número Reprodutivo Efetivo, que desde o início da pandemia atingiu seu mínimo em 16 de outubro, quando o Rt foi de 0,60,e no dia 29 de novembro chegou a 1,22. Quando o número é maior que 1 já indica aumento na transmissão. A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) de Alagoas comunicou por meio de sua assessoria de comunicação que oficialmente não há casos de reinfecção confirmados no estado. A reportagem da Tribuna Independente procurou os principais hospitais particulares na capital para saber como está a situação em cada um deles. Em Alagoas, o secretário de Estado da Saúde, Alexandre Ayres, foi enfático ao afirmar que: “Não há segunda onda da Covid-19”. Ele frisou que se trata do prolongamento do coronavírus. “O que estamos vivenciando é a continuidade da primeira onda da doença. A Secretaria de Estado da Saúde tem sempre reforçado isso. Enquanto não tivermos uma vacina com eficácia comprovada contra a Covid-19, estaremos vivendo esses momentos de oscilação da doença, a exemplo do que está acontecendo atualmente. O Estado continua no enfrentamento à pandemia e seguimos com muita serenidade ouvindo a ciência”, destacou. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) em Maceió salientou que, segundo os parâmetros do Ministério da Saúde, para ser considerada uma reinfecção é necessário o intervalo de três meses entre a realização de dois testes RT-PCR para Covid-19. “Até o momento ainda não possuímos registros de nenhum caso que se enquadre nestes parâmetros. Os casos notificados como possíveis reinfecções não se enquadram nos parâmetros estabelecidos pelo Ministério da Saúde”, garantiu a nota. O Hospital Arthur Ramos informou que a hipótese de já ter casos suspeitos existe, no entanto, o setor responsável pelo monitoramento dos casos de Covid teria que fazer uma busca de quem estaria voltando novamente por causa da doença. “Nesse momento, o setor está com uma demanda altíssima, dado o volume de pacientes e não temos como pedir para os responsáveis”, diz a assessoria de imprensa da unidade de saúde. O Hospital Veredas disse que emite seus relatórios alusivos a Covid-19 diretamente para a Secretaria de Saúde do Estado de Alagoas, conforme protocolo junto ao Ministério da Saúde. “Cumpre a Secretaria aludida receber, consolidar e distribuir as informações oriundas de todas as instituições hospitalares à mídia em geral, nos mesmos termos que estavam em vigor até outubro passado”. O Hospital Unimed e a Santa Casa de Misericórdia de Maceió não retornaram com a resposta até o fechamento desta edição.  A reportagem também tentou ouvir o Ministério da Saúde, porém sem êxito.