Saúde

Doações de órgãos em Alagoas tiveram queda de 87% na pandemia

Número de transplantes também caiu drasticamente; 377 alagoanos aguardam por um órgão e cenário preocupa

Por Texto: Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 19/09/2020 12h29
Doações de órgãos em Alagoas tiveram queda de 87% na pandemia
Reprodução - Foto: Assessoria
As doações de órgãos caíram 87% este ano por conta da pandemia do novo coronavírus. Desde o início do ano nenhum transplante de múltiplos órgãos foi realizado, apenas transplantes de córneas e só até março deste ano. O cenário preocupa e ainda não há prazo para retomada do serviço. Como explica Daniela Ramos, coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas, as restrições impostas pela pandemia e os novos protocolos adotados fizeram cair drasticamente as doações. Até o contato com as famílias de possíveis doadores foi restrita a ligações, limitando ainda mais as chances de conseguir um órgão em tempo hábil para a cirurgia. “O impacto foi muito grande, foi diretamente na doação e nos transplantes, aqui em Alagoas, a doação caiu 87% no primeiro semestre, em relação ao ano anterior. Transplantes também caíram bastante, para se ter uma ideia, no mesmo período do ano passado foram realizadas quatro transplantes de coração, quatro de rim e 14 transplantes de córnea. Este ano não foi realizado nenhum transplante de múltiplos órgãos, somente de córnea com um acréscimo,  26 ao todo, mas porque foram realizados antes da pandemia”, explica a coordenadora. Atualmente, 377 pacientes alagoanos aguardam em fila de espera por um órgão. Sendo 234 pacientes aguardando córnea, 141 à espera de um rim compatível e duas pessoas aguardando por um coração. “Até o momento no Brasil uma das regiões mais afetadas é o Nordeste, que registra uma queda de 44% no número de transplantes, atrás apenas da região Norte”, destaca Daniela Ramos. Não há registro de mortes no estado por conta dessa espera, mas Daniela salienta que há estados que a situação ficou ainda mais crítica. “Até março, tinham morrido 12 pessoas no Ceará a espera de um órgão. Muitas pessoas no Brasil perderam a vida esperando por um transplante que não foi realizado por conta do Covid. Além da pandemia ter matado tanta gente, muitas também morreram esperando o transplante”, salienta. O mês de setembro é dedicado à conscientização sobre a importância da doação de órgãos e transplantes. Até o ano passado, a Central de Transplantes do estado vinha registrando um cenário crescente no número de doações. Tanto que logo no início do ano, uma equipe médica foi credenciada pelo Ministério da Saúde para a realização de transplantes de fígado. No entanto, a expansão do novo coronavírus prejudicou significativamente o avanço do  programa de transplantes do estado. “Foi um retrocesso por conta da pandemia. A doação tem a recusa por conta da família. Independente da pandemia precisa da autorização da família para a doação, e com a pandemia os critérios se tornaram mais rígidos. Então, para ter uma noção, os transplantes de córneas foram suspensos desde março, tanto a abordagem das famílias, como o próprio transplante para proteção do receptor, da equipe médica. Os outros transplantes onde há necessidade de morte encefálica, os critérios ficaram muito apertados também, porque todos os pacientes doadores precisavam fazer o PCR, porque é contraindicação absoluta Covid-19 positivo. E nesse período todo, tivemos duas doações autorizadas. Nós não paramos de trabalhar, mas não conseguimos captar os órgãos por conta do Covid. A logística foi toda afetada, questão de voos”, pontua Daniela Ramos. Agora, o serviço aguarda novos protocolos e debate a retomada das captações e transplantes. “Para que os pacientes não corram riscos e os profissionais de saúde da mesma forma nós precisamos elaborar estratégias de enfrentamento seguras. Estamos num momento de conversa, reorganização para retomarmos. Ainda não retomamos. O Ministério ainda não liberou transplantes de córneas. Estamos aguardando, mas já estamos nos organizando, elaborando essas estratégias para aos poucos retomar. Sabemos que é um processo delicado que envolve muitos fatores e por isso precisamos ter muita cautela”, enfatiza Ramos.