Saúde

Jejum intermitente ganha popularidade

Método para emagrecer consiste em intercalar períodos programados de ausência de alimentação com outros de ingestão controlada

Por Lucas França com Tribuna Independente 26/06/2020 08h00
Jejum intermitente ganha popularidade
Reprodução - Foto: Assessoria
Perder peso para muita gente não é nada fácil e muitos acabam procurando técnicas, dietas e artifícios que ajudem a eliminar os quilos indesejados. Uma prática antiga e que ganhou muitos adeptos ao longo dos anos é o jejum intermitente, um método de emagrecimento que visa intercalar períodos de jejum com períodos de alimentação. No entanto, a técnica não é indicada para todas as pessoas segundo nutricionistas. Mas, para a empresária Marleide Lima dos Santos, a técnica trouxe resultados satisfatórios. Ela que iniciou o jejum intermitente em janeiro, já perdeu 15 quilos. “Estou muito satisfeita com o resultado. Antes pesava 72kg e agora estou com 57kg. Foi a primeira vez que fiz esse tipo de dieta. Na verdade, a única que me trouxe os melhores resultados”, conta dizendo que ainda segue utilizando a técnica. Segundo a empresária, o jejum foi feito a partir de acompanhamento com nutricionista e biomédica. “Fiz em uma clínica especializada aqui em Maceió. Também tive acompanhamento com remédios”. Marleide diz que sua primeira refeição do dia consiste em dois ovos cozidos, um pedaço de peixe grelhado, verduras cruas, suco de limão com adoçante e de sobremesa gelatina diet. Já a coordenadora financeira Maria Isabel Almeida, conheceu a técnica na página de internet através de influenciadoras. “Fui pesquisando e muito, e só em seguida comecei a fazer. A princípio, comecei com 10 horas, mas não é fácil – dá uma fome, mas tem que ser persistente até o corpo se acostumar com o jejum prolongado. Como já tinha iniciado uma mudança alimentar e queria perder peso, comecei a pesquisar e resolvi fazer e deu super certo. Antes já tinha feito vários tipos de dieta”, disse. Assim como para Marleide, o jejum intermitente foi o que trouxe um resultado mais satisfatório para Isabel. “Vinha com a mudança de hábito sem sofrimento, fiz a famosas trocas inteligentes, por exemplo, deixei de comer pão de massa branca e passei a comer o verdadeiro pão integral. No almoço eu priorizei muito a salada. Então, juntei com as dietas o regime intermitente”, ressalta. EDUCADOR FÍSICO O educador físico Rômulo Theotonio, 38 anos, também resolveu aderir ao jejum intermitente. Ele conheceu a técnica através de uma aluna de sua academia que é nutricionista. “Conversando com ela, tive o primeiro despertar sobre jejum questionando sobre o que chamamos de energia de reserva, famosa banha. Assim, em 2017 me perguntava o que fazer para intensificar o uso dessa massa indesejada. Brincando, aleguei que fazer jejum seria uma alternativa e foi quando ela afirmou que para muitos casos seria uma ferramenta interessante. A curiosidade não se aquietou e fui recorrer a tudo que podia para embasar a discussão.  Selecionando material encontrei que o Prêmio Nobel de Medicina de 2016 foi para um japonês que estudava sobre o conceito de autofagia, que traz a ideia da célula ‘comer’ a si mesma, esse processo se dá quando a célula numa escassez de nutrientes faz uma limpeza de impurezas que encontra no material danificado dentro de si funcionando como uma usina de reciclagem. Então, a evolução desse estudo tem comprovado que no período de jejum é que nosso corpo faz o mais eficiente detox. Fazer jejum com segurança tem que partir do princípio de melhorar sua capacidade de fazer seu corpo entrar em estado de cetose, que é o momento quando você está utilizando prioritariamente gordura como fonte energética, o corpo sempre prioriza utilizar o carboidrato que tem disponível para formar energia direta ou armazenar como glicogênio”, relata. Rômulo explica que na baixa dessa via rápida o corpo se prepara para tentar buscar mais energia e faz uso da fome para não permitir que o nível de glicose abaixe mais que o desejado. “Sabe quando por um acaso você toma seu café da manhã e por um motivo indesejado você perde o almoço? Passa a hora do almoço com fome, mas pode reparar que ela vai embora e muito provavelmente você conseguirá ou almoçar bem mais tarde ou até mesmo não almoçar e esperar pelo jantar. Nesse momento há um envio de mensagem para o fígado começar a intensificar a quebra da gordura em corpos cetônicos que irão circular como fonte para produção de energia e assim como um carro flex você pode e faz continuamente uso de mais de uma substância disponível. O quão bem seu corpo está condicionado a fazer com mais facilidade essa ‘virada de chave’ é que vai lhe dar maior ou menor conforto para se expor ao jejum”, explica. “Iniciei fazendo a parada às 20h e o café também às 8h fechando um ciclo pequeno de 12 horas. Bem fácil e que mesmo sem ter conhecimento já havia feito até mais tempo outras vezes. Mas o foco era marcar o tempo e ir evoluindo.  Então sempre fazia a parada às 20h e no dia seguinte subia uma hora. Isso foi dia a dia saindo de 9h e em 10 dias eu já estava não tomando mais o café da manhã e estava almoçando às 14h”, esclarece. Nutricionista: “dieta deve ter orientação profissional”   O nutricionista Dayvison Souza explica que a estratégia é uma das milhares existentes para a perda de peso, e que não é melhor ou pior que nenhuma outra, basta ter cuidados e orientação profissional. “Vale ressaltar que para algumas pessoas podem funcionar e para outras não. O jejum, por exemplo, para pessoas que não se dão bem pode ter o sistema imunológico afetado, prejudicar o sono, e outras se sentirem bem. Ou seja, como profissional a gente deixa esse tipo de estratégias porque muita gente já está com o organismo acostumado”, explica Souza. O método é indicado entre 10 a 24 horas de jejum e pode ser feito diariamente ou somente em alguns dias da semana. O jejum intermitente funciona assim: os períodos em que a alimentação é permitida são chamados de janelas de alimentação. Fora dessas janelas, a pessoa deve ingerir líquidos que não possuam calorias, como água e chás e café sem açúcar. No entanto, o nutricionista alerta que é preciso fazer o ‘teste’. “Como sabemos que funciona para a pessoa ou não? A gente testa – cabe ao profissional se sentar com o paciente e conversar e saber se a estratégia pode ser aplicável àquela pessoa ou não. Ele vai fazer o relato e a gente discute. Na minha prática clínica muitos pacientes chegam com a ideia para emagrecimento, não deixa de ser uma técnica, mas que muitas das vezes um plano alimentar com um déficit calórico entre 500 a 1.000 calorias a depender do caso em conjunto com o treino e um sono regulado vai ter um efeito melhor que o jejum intermitente”, ressalta. PADRÕES Existem diversos protocolos de jejum intermitente que pedem mais ou menos horas de jejum. Mas entre os padrões está o 16:8, que consiste em jejuar durante 16 horas seguidas no dia e concentrar as refeições em uma janela de oito horas. Neste caso, geralmente, é feito com refeições permitidas somente de meio-dia às 20h. Já o padrão 5:2 consiste em comer apenas 25% das calorias normais durante dois dias não consecutivos (terça e quinta, por exemplo) ao longo de uma semana. Há também o jejum completo de 24h, praticado uma vez por semana ou por mês.