Saúde

Cirurgião fala do combate à Covid-19 e da importância do projeto dos Hotéis Ritz

'Pela alta taxa de transmissão do vírus, o isolamento social é fundamental para o achatamento da transmissão', diz médico

Por Claudio Bulgarelli - Sucursal Região Norte 09/06/2020 20h56
Cirurgião fala do combate à Covid-19 e da importância do projeto dos Hotéis Ritz
Reprodução - Foto: Assessoria
O médico Gláucio Mauren, graduado em medicina pela Universidade Federal de Alagoas, em 2008, cirurgião cardiovascular pela Equipe Professor Dr. Noedir Stolf, do Hospital Real e Benemérita Associação Portuguesa de Beneficência, de São Paulo, é um dos muitos profissionais de saúde que aderiu ao projeto dos Hotéis Ritz, que colocou a disposição desde o início do mês de abril 20 por cento de suas instalações para abrigar médicos e outros agentes de saúde que atuam diretamente no combate ao novo coronavírus em Maceió. O projeto, que nasceu da iniciativa do empresário Márcio Coelho, diretor do Grupo de Hotéis Ritz, que possui 4 unidades na capital, ainda abriga muitos profissionais em seus hotéis. Nessa entrevista exclusiva, Gláucio Mauren, pós-graduado Latu Sensu em Cirurgia Cardiovascular, com experiência em administração na área da Saúde, fala sobre o desafio do combate diário ao Covid-19, das aflições dos profissionais de saúde e da iniciativa inédita dos Hotéis Ritz. Tribuna Hoje - Como e a vida de um médico que atua na linha de frente no combate ao Covid-19? Gláucio Mauren - Estar na linha de frente, neste momento, é optar pelo pleno exercício da medicina. Significa honrar nosso juramento, (colocando o cuidado aos pacientes e a missão de salvar vidas em primeiro plano, acarretando, inclusive, no distanciamento familiar, no distanciamento dos filhos e dos pais, numa mudança total da rotina diária e do estilo de vida). A partir do momento que se entra na linha de frente já não dá para voltar. E aí se percebe que muitas renúncias serão necessárias. Foram semanas sem ver minha esposa ou filha quando retornava do hospital. Tribuna Hoje - O medo faz parte do dia a dia? Gláucio Mauren - O desconhecido sempre nos causa medo. Esta pandemia nos tomou a todos de assalto. A mortalidade desta doença, sem dúvida, nos assusta. Muitas são as preocupações neste momento. Quando você está de plantão num covidário ou numa UTI você fica completamente imerso nesta realidade, num esforço sobre humano para oferecer aos pacientes o que há de melhor, nessa luta incessante pela vida. Ao sair do plantão, mesmo esgotado, o pensamento se mantem; nos pacientes, nos que não estão conseguindo vagas, nos que perdemos ao longo do caminho, nos colegas, profissionais de saúde que estão em quadros graves, nos familiares e amigos próximos que, a qualquer momento podem iniciar os sintomas. Mas, o medo jamais tirará a fé. Tribuna Hoje - Sua estadia no hotel Ritz o ajudou de alguma forma? Gláucio Mauren - Sem dúvida. Pela alta taxa de transmissão do vírus, o isolamento social é fundamental para o achatamento da transmissão. Muitos de nós estamos em contato direto, em nossas casas, com pessoas que são grupo de risco. A cada plantão, o medo de retornar e trazer para casa este vírus. Assim, poder ficar isolado no Ritz possibilitou diminuir estes riscos. Nos deu, em grande parte, esta tranquilidade de saber que poderíamos trabalhar, dando o nosso melhor, mas que também poderíamos voltar, sem expor os nossos mais queridos. No Ritz, encontramos também, pouco a pouco, profissionais que se fizeram uma nova família, com sua atenção, sua cortesia, seus cuidados. Fora todas as medidas de prevenção também tomadas por eles. Tribuna Hoje - Quais os benefícios dessa ação da Rede Ritz para esses profissionais? Gláucio Mauren - Uma ação como esta nos mostra que estamos todos juntos nesta luta. Que cada segmento pode e deve fazer a sua parte; contribuir, de alguma forma. Esta ação nos possibilita manter o isolamento e diminuir a transmissão do vírus, visto que, na linha de frente, estamos o tempo todo expostos e vulneráveis. Tempo atrás falei em um grupo de amigos: se o ser humano deixar de cuidar da vida, o que terá se tornado?