Saúde

Serviço de Neurocirurgia retira lesão cerebral com paciente acordado

Realizada pela primeira vez em Alagoas, técnica permite o monitoramento de funções como a fala

Por Assessoria 26/11/2019 09h59
Serviço de Neurocirurgia retira lesão cerebral com paciente acordado
Reprodução - Foto: Assessoria
Faz muito tempo que as cirurgias cerebrais deixaram de ser coisa de cinema. Cada dia mais evoluídos, os procedimentos de alta complexidade vêm salvando ou devolvendo qualidade de vida aos pacientes. Recentemente, o Serviço de Neurologia e Neurocirurgia da Santa Casa de Misericórdia de Maceió realizou a primeira cirurgia, em Alagoas, com um paciente acordado, aumentando seu rol de técnicas.

Atualmente, existem duas maneiras de acesso ao cérebro para realizar uma neurocirurgia eletiva: a primeira, e mais simples, é a trepanação, que consiste na abertura de um orifício no crânio. A segunda é a craniotomia, em que se retira parte da calota craniana e a repõe no fim da cirurgia, procedimento realizado no último dia 12 de novembro, pelo neurocirurgião João Gustavo Rocha Peixoto dos Santos.

Planejar uma cirurgia desse porte exige a interação entre diferentes profissionais: neurocirurgião, eletrofisiologista, neuropsicólogo, e, principalmente, o anestesiologista, que vai usar as medicações para inibir a dor, mas manter o paciente acordado, sem comprometer o nível de consciência. “A cirurgia se inicia com o paciente levemente sedado para adormecer e após a abertura da dura mater, parte mais externa das três meninges que envolvem o cérebro, o paciente é acordado. “Esse procedimento já existe no Brasil, sendo realizado em diversos centros. Mas é a primeira vez que acontece em Alagoas. A Santa Casa de Maceió, mais uma vez, sai como pioneira ao trazer uma nova técnica para o estado em benefícios dos seus pacientes”, destacou o médico, que está no corpo clínico da Santa Casa de Maceió há um ano e meio, egresso do Hospital das Clínicas da USP, onde fez sua residência médica. [caption id="attachment_78408" align="alignnone" width="768"] Equipe dos serviços de Neurocirurgia e Anestesiologia escalada para o procedimento[/caption]

A técnica anestésica utilizada foi a da sedação profunda com o uso de medicações com início de ação e eliminação rápidas. Assim, durante as etapas possivelmente dolorosas, o paciente encontrava-se dormindo, sendo então acordado e avaliado por completo durante a ressecção (retirada) do tumor. O paciente foi colocado novamente para dormir após total ressecção e avaliação da neuropsicóloga, que verificou as funções cerebrais possivelmente afetadas durante a cirurgia.

De acordo com o anestesiologista Giuliano Peixoto Gonçalves, uma avaliação minuciosa da saúde do paciente foi realizada para o planejamento da conduta anestésica com a equipe da neurocirurgia. “Juntos, listamos as etapas críticas do intraoperatório e suas prováveis intercorrências, então alinhamos as condutas a serem tomadas, caso necessário. Essa etapa foi fundamental para garantirmos a segurança do paciente durante o procedimento, que durou aproximadamente cinco horas. Após o planejamento, todas as etapas foram expostas ao paciente e esclarecidas as dúvidas”, contou o especialista, que, ao lado do anestesiologista Joaquim Costa, participou da craniotomia. Dinamismo e avanço tecnológico são marcas da instituição alagoana Fala, visão e funções motoras foram observadas. Não é uma técnica cirúrgica indicada para todo tipo de paciente. Primeiramente, a lesão cerebral necessita estar próximo ou em áreas eloquentes (motoras, sensitivas, linguagem e áreas que estão envolvidas com a função cognitivas, cálculos e artísticas). [caption id="attachment_78407" align="aligncenter" width="768"] Aldo Calaça, coordenador do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia[/caption]

“Para entender as áreas eloquentes, devemos pensar no desenvolvimento de uma criança. Primeiro ela fica sentada para segurar o tronco. Depois começa a andar. Em seguida aprende a fazer movimentos mais refinados com as mãos, e vem a fala. Se o indivíduo perder uma função eloquente é mais difícil recuperá-la, do que uma função mais primitiva. Então, ela deve ser preservada o máximo possível. Durante a cirurgia, o melhor monitor é o próprio paciente. Verificamos se ele está respondendo aos estímulos”, explicou Aldo Calaça, o coordenador do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia da Santa Casa de Misericórdia de Maceió.

O Serviço de Neurologia e Neurocirurgia da Santa Casa de Maceió segue como uma referência no estado tanto no âmbito do SUS como entre os pacientes de convênios e particulares. A instituição tem um atendimento muito diversificado de patologias neurocirúrgicas e se destaca por sua atuação em Oncologia, com os tumores cerebrais. A medicina é dinâmica e o avanço tecnológico é contínuo, então estamos cientes da necessidade, primeiro, da manutenção do aparato tecnológico, bem como, à medida que a neurocirurgia avança no mundo todo, de fazer adequações de acordo com a nossa realidade. Atendemos todas as demandas de doenças do sistema nervoso, tanto do crânio, como da coluna vertebral, nervos periféricos e outros tipos de patologias, como traumas, doenças degenerativas, tumorais e vasculares. Para isso, temos uma estrutura muito boa: contamos com um microscópio de última geração e toda a parte de exames complementares (tomografia, ressonância, angiografia e estudo da estrutura vascular cerebral) ou não teríamos condições de realizar procedimentos de alta complexidade no sistema nervoso”, ressaltou Aldo Calaça.