Saúde

Fila por transplante de órgãos em Alagoas tem mais de 375 candidatos em espera

Do total de pessoas que esperam por órgão, mais da metade é para córneas

Por Lucas França com Tribuna Independente 26/11/2019 08h59
Fila por transplante de órgãos em Alagoas tem mais de 375 candidatos em espera
Reprodução - Foto: Assessoria
“Desde nova sempre tive uma alergia muito grande e coçava muito os olhos. Mas ninguém sabia o que era, pois a visão ainda não estava afetada. Aos 15 anos descobri o primeiro problema de visão, 0,5 de astigmatismo. E em pouquíssimo tempo depois foi para oito graus de miopia em um olho e sete no outro. Mas não sabia ainda que era ceratocone. Fui para alguns médicos e nada’’, relata a relações públicas Bárbara Kacurin, 27 anos, que ficou nove meses na fila para conseguir o transplante de córneas. Bárbara ressalta que no início conseguia adaptar lente nos dois olhos, mas com um tempo o ceratocone foi avançando muito rápido e o olho direito começou a rejeitar todas as lentes. “Fiz minha primeira cirurgia, o cross link, nos dois olhos, com o intuito de estagnar o problema, mas como o meu já estava muito avançado, não deu certo. Então já começaram a pensar no transplante. O oftalmologista Homero Costa, quem diagnosticou como ceratocone e começamos a tratar. Ele me indicou pra oftalmologista Andréa Santos que é especialista em córnea e em ceratocone. Ela é minha médica até hoje. Entrei na lista no ano de 2016 e passei nove meses esperando a córnea. No dia 6 de junho de 2017 fiz o transplante de córnea’’. Em Alagoas, até outubro de 2019, 376 pessoas aguardam na fila para um transplante de órgãos. Deste total mais da metade é para córneas sendo cadastradas 231 pessoas. Rins estão na espera 144 pacientes e um para transplante de coração segundo os dados da Central de Transplantes de Alagoas, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). O Ministério da Saúde (MS) explica que para os outros órgãos não há fila de espera no estado de Alagoas. Cabe esclarecer que os pacientes de Alagoas com indicação de transplantes para modalidades de transplantes não realizadas no estado poderão ingressar na lista de espera de outra unidade da federação. A pasta informa que a lista de espera por um transplante é gerida pelas Centrais Estaduais de Transplantes através de um sistema informatizado do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do MS. RECUPERAÇÃO Bárbara Kacurin conta que até hoje tem pontos nos olhos, mas a mudança de vida foi perceptível. “Hoje ainda tenho pontos no olho do transplante e a recuperação foi ótima. Tive um início de rejeição, mas conseguimos controlar e está tudo bem. Hoje consigo enxergar sem usar lente. A alergia (coceira no olho) diminuiu muito. Mesmo ainda tendo grau no olho, mas é mínimo comparado ao de antes que não enxergava nada, a visão totalmente embaçada’’, relata. Mas a luta da relações públicas ainda não parou. Ela conta que entrará na lista de espera novamente para realizar o transplante do olho esquerdo. “Vou precisar fazer no esquerdo também, mas sem data ainda, e não entrei na lista de transplante também. Porém, estou muito feliz com o resultado da cirurgia no olho direito. Antes a minha vida era mais complicada, pois eu não enxergava direito, somente com a lente do olho esquerdo e, quando esse ficava irritado, eu não podia colocar. Então ficava bem complicado, pois eu não conseguia usar computador, sair sozinha e nem nada do tipo. Ficava dependendo bastante da minha família. Mas hoje depois do transplante consigo ser mais independente. E voltei a enxergar tudo do jeito que eu conheci, as cores, as pessoas”, conta Kacurin. A transplantada deixa um mensagem para quem ainda não é doador. “A mensagem que eu deixo é que mesmo em um momento de dor, que é a perda de um ente querido, podemos tirar coisas boas e ajudar a salvar outras vidas. E tem um pedacinho do seu ente ajudando o próximo. Sou muito grata à família que doou os órgãos e me ajudou”, finaliza. Foram realizadas 56 cirurgias este ano   Ainda de acordo com dados da Central de Transplante de Alagoas, até outubro deste ano já foram realizados, cinco transplantes de coração, 44 de córneas e sete de rins. Já em 2018 foram: 79 transplantes de córneas, quatro de coração e 21 de rins. No estado, as cirurgias são realizadas nos seguintes hospitais: Santa Casa, Arthur Ramos, Vida e Chama em Arapiraca. De acordo com o Dr. Isaac Ramos - presidente da Sociedade Alagoana de Oftalmologia, a instituição vem trabalhando para a melhora da saúde da população. ‘‘A Sociedade Alagoana de Oftalmologia tem trabalhado na educação médica continuada em todas as áreas da oftalmologia, inclusive na de córnea. Também tem sido parceira, com a Sociedade Norte Nordeste de Oftalmologia, em buscar caminhos para a melhoria da saúde visual da população’’, explica Ramos. PAÍS No Brasil, até outubro de 2019, 45.714 pacientes aguardam por um transplante de órgão segundo o MS. A maioria aguarda por transplante de rim (29 mil) e fígado (1,8 mil). Há, ainda, demanda por pulmão, pâncreas, coração e intestino, e para tecidos como as córneas. O Brasil é o segundo país que mais realiza transplantes no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. O país manteve o número de transplantes realizados no primeiro semestre de 2019 em comparação com o mesmo período de 2018. Foram 13.263 transplantes neste ano, contra 13.291 do ano passado. O balanço do período apontou crescimento de transplantes considerados mais complexos. Os de medula óssea aumentaram 26,8%, passando de 1.404 para 1.780. Já os de coração cresceram 6,3%, passando de 191 para 203. No país, os pacientes recebem assistência integral pelo Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo os exames preparatórios, a cirurgia, o acompanhamento e os medicamentos pós-transplante. Cabe lembrar que, para doar, não é necessário registro em qualquer documento ou em cartório. Basta informar o desejo aos familiares. Já as doações entre pessoas vivas são autorizadas somente para cônjuge ou parentes até 4º grau – pais, irmãos, netos, avós, tios, sobrinhos e primos.