Saúde

Implante coclear restaura audição de quem tem deficiência

Em Alagoas, 105 pessoas utilizam o dispositivo; especialista que realizou 53 do total das cirurgias explica procedimento

Por Lucas França com Tribuna Independente 20/09/2019 09h05
Implante coclear restaura audição de quem tem deficiência
Reprodução - Foto: Assessoria
Para quem ouve imaginar como seria um mundo sem sons pode parecer difícil. Para muitas pessoas surdas, esta é a realidade, pois quem tem deficiência auditiva severa à profunda não consegue ouvir nada ou, se ouvem, são apenas alguns ruídos. Nesses casos, os aparelhos auditivos não funcionam. Mas a esperança para muitos é o implante coclear que consiste em uma prótese colocada dentro da cóclea (parte interna do ouvido) através de uma cirurgia, e outra presa ao redor da orelha, composta pela antena e o processador de fala. Em Alagoas, 105 pessoas entre adultos e crianças usam o “dispositivo’’. O aparelho capta os sons e transfere diretamente este som para o nervo auditivo, possibilitando que o paciente gradativamente comece a ouvir. O médico especialista em otorrinolaringologia, João Paulo Tenório, que realizou 53 das 105 cirurgias para o Implante Coclear (IC), explica como funciona e os resultados conquistados pelos pacientes. “O implante coclear, na verdade, é a primeira prótese auditiva que substitui um órgão sensitivo, ou seja, um paciente com perda auditiva severa ou profunda que não se adapta bem ao aparelho auditivo convencional tem a possibilidade de restaurar a audição através desse implante. É um sistema tecnológico que consegue restaurar a audição. É indicado tanto para crianças que nascem com surdez total como para adultos que perdem a audição com qualquer idade. Fazemos a restauração auditiva através dessa cirurgia’’, explica Tenório. O especialista comenta que a cirurgia é apenas um processo. “A cirurgia é apenas uma etapa de todo o processo de reabilitação auditiva. Entre 30 e 40 dias após a operação, o paciente retorna e faz a ativação, momento em que o aparelho é ligado e quando se ouve os primeiros sons. Após a ativação, o paciente ainda fica, em média, três anos em acompanhamento. Isso porque as habilidades auditivas são essenciais para desenvolver a fala, e alguns pacientes, que nunca ouviram antes, precisam aprender o novo tipo de linguagem’’. EQUIPE Além disso, o médico ressalta a importância de uma equipe multidisciplinar durante todo o processo de reabilitação.  “É como se fosse um bebê, vai aprendendo a falar, desenvolvendo a linguagem. Mas é muito importante a fonoaudiologia e uma família engajada. A equipe multidisciplinar é muito importante nesse processo’’, diz Tenório. Segundo o especialista a cirurgia é feita via planos de saúde “particular, ou até pelo Sistema único de Saúde (SUS). Porém a má notícia é que em Alagoas ainda não é disponibilizado via SUS. “No estado não está sendo feito pelo SUS. Só através de empenho ou através da Justiça. No entanto, no caso de planos de saúde,  cobre todos os custos. Vale lembrar que os órgãos de saúde têm um projeto que libera via público, mais ainda não conseguimos implantar a portaria no estado’’, comenta Tenório. Cirurgia melhora qualidade de vida de garoto de cinco anos O pequeno Samuel Pereira Silva Leandro, de 5 anos, foi um dos pacientes do otorrino João Paulo. Ele fez o implante com um ano e quatro meses de vida, e hoje está alfabetizado igual a uma criança de sua idade. [caption id="attachment_328222" align="aligncenter" width="640"] Samuel Pedro recebeu implante com 1 ano (Foto: Edilson Omena)[/caption] Segundo a mãe do menino, Aleanne Franscielle Silva Leandro, a interação de Samuel é visível em todo o processo de aprendizado. “Ele fez o implante com um ano e quatro meses, e ativação um mês depois, em seguida já começou o processo com a fonoaudióloga. E começou a frequentar a escola. A interação com os colegas e professores é notável. O aprendizado, a alfabetização é igual aos demais alunos da sua turma”, conta. Franscielle lembra que a reabilitação contou com uma equipe multidisciplinar que o acompanha até hoje. “Foi uma sequência multidisciplinar que nos acompanha desde diagnóstico. E isso é muito importante. O acompanhamento na fototerapia e o engajamento familiar após o IC principalmente é que garante um resultado excelente’’. Samuel só tira o aparelho para tomar banho e dormir. “Além disso, existem os cuidados na hora da limpeza”, conta a mãe acrescentando que ainda tem acompanhamento com o especialista de uma a duas vezes no ano, para a manutenção do implante. O médico de Samuel, João Paulo ressalta que quando mais cedo for o diagnóstico melhor é o resultado. “Quanto mais cedo implantar mais cedo é o sucesso. O Samuel foi assim, cirurgia feita precocemente, com diagnóstico precoce e o sucesso após. Ele está no desenvolvimento adequado para a idade dele, está alfabetizado. Tudo isso com a ajuda multidisciplinar e uma família engajada’’, pontua o médico.