Saúde

Uso de radiação para unhas em gel e secagem de esmalte pode causar câncer

Procedimento requer cuidados e atenção aos primeiros sinais de mancha escura

Por Ana Paula Omena 29/06/2019 10h34
Uso de radiação para unhas em gel e secagem de esmalte pode causar câncer
Reprodução - Foto: Assessoria
As unhas em gel têm sido cada vez mais procuradas, graças a sua durabilidade, firmeza incomum e resistência.  Essas vantagens se dão porque nos salões de beleza elas são aplicadas com lâmpada UV - ultravioleta, que atuam como pequenas câmaras de bronzeamento para secagem do silicone. E é aí que ‘mora’ o problema. Essa radiação possui uma associação com o câncer de pele, gerando cuidados no procedimento e atenção redobrada aos primeiros sinais na região.   Para chamar a atenção sobre o caso, um estudo publicado no periódico científico “Archives of Dermatology” dá um golpe na vaidade das mulheres. De acordo com a pesquisa, a exposição das mãos dentro da máquina, que ajuda a secar as unhas (e emite radiação UVA) foi responsável pelo desenvolvimento de câncer de pele (carcinoma espinocelular) no dorso das mãos de duas mulheres de meia idade. Elas eram saudáveis e sem histórico familiar de câncer, tinham em comum o fato de usar, durante 15 anos, as unhas de acrigel, que são um preparado de gel e pó acrílico colocado sobre a unha que endurece em contato com a radiação. Portanto, a conclusão do estudo é que as máquinas que secam as unhas artificiais são similares às câmaras de bronzeamento, proibidas no Brasil desde 2009. A administradora Eudália Cavalcanti, adepta das unhas de fibra de vidro, diz que esse foi o jeito encontrado para deixar de roer as unhas, porém precisou procurar uma dermatologista quando apareceu uma irritação entre a pele e a unha. “Achei estranho. Na verdade, sei que as unhas precisam respirar, inclusive apareceu um probleminha nelas e fui à dermatologista. Infelizmente tudo tem os dois lados da moeda. Eu poderia deixar de usar a fibra de vidro porque as unhas já estão grandes, uso a fibra porque já li que essa é menos agressiva por não usar pó”, contou. Eudália diz que respeita o tempo e voltou ao salão antes do tempo por conta da unha ter quebrado. “Fiquei preocupada quando vi que pode dar câncer, mandei a reportagem pra Carol [design de unha], mas o que é hoje em dia que não dá câncer?”, indagou. “Todos estão suscetíveis ao risco, perdi minha mãe vítima de câncer no fígado, e nunca bebeu. É o que está escrito. Acredito que alimentos, por exemplo, podem provocar a morte e as pessoas não deixam de comer. Por que somente quando causa a doença é que aparecem estudos? Por que a Agência Nacional de Saúde (ANS) não está atenta quanto aos riscos?”, destacou nos questionamentos. Protetor solar deve ser aplicado nos dedos A designer de unhas Isabele Caroline Santos explica que o procedimento pode durar até 2 horas. Ela observou que todos os produtos aplicados nas unhas só secam na cabine de radiação. Ela frisou que para evitar danos, o uso do protetor solar com fator superior a 30 deve ser aplicado nos dedos antes de colocá-los sob a lâmpada, bem como antifúngico, entre outros produtos que servem de capa base que funcionam como uma espécie de selante, para que não haja infiltrações nas unhas. De acordo com ela, 80% das clientes do salão de beleza fazem o procedimento das unhas em gel, fibra de vidro ou blindagem de diamante, esta última, os homens também procuram. Cristina Liz disse que tirou semana passada e resolveu aplicar as unhas em gel porque as dela não crescem. Ela confessou já ter passado um ano com as unhas postiças fazendo apenas manutenção. “Sempre fiz tudo, lavo passo, cozinho, só não abro lata e nem aperto privada com o dedo”, brincou Cristina. GEL Trata-se de uma camada de gel que é aplicada diretamente na unha. A secagem acontece em cabines de luz ultravioleta e não existe manutenção: a cada 20 dias, é necessário lixar e reaplicar. Depois de três aplicações, o gel é retirado e recolocado, processo que deve acontecer no salão. O preço? Cerca de R$ 100 para começar o ciclo. A manutenção tem média de R$ 60. FIBRA DE VIDRO O mais trabalhoso, tem como base a fibra de vidro, que é moldada unha a unha. Depois, há uma fixação com gel e exposição à luz ultravioleta. O valor inicial é de R$ 150 e a manutenção, que deve ser feita a cada 20 dias custa cerca de R$ 70. Exposição cumulativa pode modificar DNA A dermatologista Régia Ribeiro explicou que as unhas em gel utilizam câmaras de radiação UVA - ultravioleta para secagem do silicone e que na matriz da unha existem células chamadas de melanócitos que, quando agredidas pela exposição cumulativa dessa radiação, podem ter seu DNA modificado e serem transformadas em células malignas. “Consequentemente, há o aparecimento do melanoma ungueal, que não é um câncer tão comum”. Aos primeiros sinais de manchas escuras podem indicar a presença de uma lesão maligna no aparelho ungueal. “Como também podem indicar outras situações, como uso de medicamentos, surgimento de um sinal, infecções por fungos ou bactérias e hematomas, por exemplo,”, frisou. Ela ponderou que hematoma não indica câncer de pele ou unha porque surgem abaixo das unhas e acontecem geralmente após traumas e são lesões que tendem a ser reabsorvidas na medida em que a unha vai crescendo. A especialista ressaltou que grávidas e diabéticas são pessoas naturalmente com a imunidade reprimida. Portanto, são mais suscetíveis ao aparecimento de infecções locais e devem evitar unhas em gel. “Todas as pessoas que são alérgicas a algum componente envolvido na confecção das unhas em gel devem evitar realizar esse tipo de procedimento, em virtude do aparecimento de dermatites nos tecidos ao redor das unhas e distrofias (alteração na forma) na própria unha”, avisou. A dermatologista reforçou que a falta de cuidados na manutenção das unhas pode favorecer ao aparecimento de infecções por fungos ou bactérias e até mesmo quadros alérgicos, porque facilita a entrada de água e resíduos químicos com os quais se tem contato durante todo dia. “A retirada desse material pode sim causar danos nas camadas das unhas ao ponto de gerar anormalidades no relevo delas, que é a distrofia. Infelizmente não há como quantificar a radiação mínima suficiente para estimular a formação dessas células malignas”, mencionou Régia Ribeiro. Alterações podem indicar doenças das unhas A dermatologista lembrou que o aparecimento de manchas nas unhas ou na pele ao redor das unhas, alteração do relevo das unhas, alteração na coloração das unhas, descolamento das unhas, quebra com facilidade, são exemplos de alterações que podem indicar diversas doenças das unhas. “Ao surgimento de qualquer alteração, é importante a procura de um dermatologista, para que ele possa fazer uma avaliação adequada e orientar os tratamentos cabíveis”. LUZ UVA [caption id="attachment_310182" align="aligncenter" width="600"] Exposição das mãos dentro da máquina que ajuda a secar as unhas foi responsável pelo desenvolvimento de câncer (Foto: Adailson Calheiros)[/caption] O componente de luz solar que causa o câncer de pele é a luz UVA. Essa radiação poderosa é capaz de causar melanomas, além do envelhecimento precoce da pele após exposição prolongada. A potência da luz usada no salão de beleza difere de um lugar para outro. Se a potência da lâmpada é elevada, então o nível de radiação UVA também é alta. Quanto menor o nível de radiação, menos risco você corre. Contudo, mesmo com lâmpadas de alta potência de radiação, uma única visita ainda é completamente segura, já que o risco de câncer ocorre apenas após a exposição cumulativa.