Saúde

Mais de 1.600 fazem hemodiálise em Alagoas

Número não é o registro total de pessoas que possuem doença renal crônica, apenas dos que estão realizado tratamento no estado

Por Lucas França com Tribuna Independente 19/04/2019 10h09
Mais de 1.600 fazem hemodiálise em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria
A Insuficiência Renal Crônica, também chamada de Doença Renal Crônica (DRC), é a perda lenta do funcionamento dos rins, cuja principal função é remover os resíduos e o excesso de água do organismo. Ela ocorre quando uma doença ou outra condição de saúde prejudica a função renal, causando danos ao órgão que tendem a agravar-se ao longo de vários meses e até mesmo anos. Em Alagoas segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), existem 1.624 pacientes em tratamento de hemodiálise. Dados do Sistema de Informação de Mortalidade (Sim) do Ministério da Saúde (MS) apontam que em 2018, o estado registrou 80 óbitos por insuficiência renal crônica. A presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia em Alagoas (SBN/AL), Cláudia Maria Pereira Alves explica que a doença renal crônica tem 5 graus, sendo crescente de 1 a 5. “O estágio cinco é o mais grave, no qual o paciente já perdeu mais de 90% da função dos seus rins e, portanto precisará fazer diálise ou transplante”. A nefrologista ressalta que as doenças que mais levam a perda de função renal no mundo são a diabetes e a hipertensão, “portanto pessoas que sofram destas patologias precisam fazer pelo menos uma vez por ano (ideal duas vezes) exames para avaliar os rins - creatina sérica e pesquisa de proteína na urina”, aconselha. BRASIL De acordo com dados da SBN, estima-se que haja atualmente no mundo 850 milhões de pessoas com doença renal, decorrente de várias causas. Ainda conforme a entidade, a DRC causa pelo menos 2,4 milhões de mortes por ano, com uma taxa crescente de mortalidade. No Brasil, entre 10% e 15% da população sofre com o problema. Ainda de acordo com a especialista, o último censo da SBN estima 120.000 em dialise no país. Com aumento progressivo desses números a cada ano nos últimos cinco anos. Mas, a presidente local da entidade explica que apesar dos dados não existem um número exato. “Não existe um dado fidedigno do número de doentes renais no Estado ou no Brasil. Dados aproximados mostram que mais de 120 mil pessoas fazem diálise no país, mas o número de doentes em estágios menos severos da doença é desconhecido. A mortalidade de pacientes com doenças renais em diálise é em torno de 14% ao ano. E as mortes são principalmente por causas cardiovasculares (AVC, infarto etc). Quem tem doença renal crônica tem mais probabilidade de ter problemas cardíacos”, comenta Cláudia. DATA O Dia Mundial do Rim, celebrado no dia 8 de março, este ano, adiado para dia 14 de março no Brasil, tem por objetivo a conscientização da importância dos rins e das medidas preventivas bem como do diagnóstico precoce da doença renal. “Este ano o tema é: Saúde dos rins para todos - focando nos hábitos de vida saldáveis (hidratação adequada, baixo consumo de sal, alimentação saudável, atividade física, não fazer automedicação, não fumar, manter o peso dentro do ideal) e no esclarecimento dos fatores de risco: diabetes, hipertensão, história de doença renal na família, tabagismo e obesidade”. “A DRC é progressiva e irreversível, não tem cura; porém em estágios a probabilidade de controle da doença é infinitamente maior. Assim, são fundamentais a prevenção e o diagnóstico precoce da doença, que tem tratamento e que pode ser observada com a realização de exames como o exame de urina e a dosagem de creatinina no sangue”, ressalta a presidente da SBN/AL. Falta rim para transplante e há atraso na entrega de medicamento O presidente da Associação dos Renais Crônicos de Alagoas (Arcal) e conselheiro do Conselho Estadual de Saúde (CES), José Wilton da Silva, que também é transplantado diz que a maior dificuldade ainda é a fila de transplante e o atraso em medicamentos nas farmácias do governo. “É muito difícil um paciente conseguir um transplante renal por aqui. A maioria vai a Recife (PE) ou São Paulo. Alagoas oferta muito pouco. A dificuldade é por diversos motivos, estrutural, capacitação, e até política mesmo. Em relação aos medicamentos é péssima. Todo mês falta ou atrasa a entrega. Então, fica difícil. Em relação ao tratamento de hemodiálise a meu ver também não é muito fácil conseguir vaga em um dos hospitais. O fato é que, a maioria não tem serviços regulados, nem município e nem estado não regulam os serviços e acaba quer os pacientes tendo dificuldades ao tratamento e grande maioria acaba indo parar no Pronto Socorro que não é o lugar ideal para o paciente com doença renal aguda ou crônica. Deixa muito a desejar. É preciso que as autoridades tenham mais atenção nesse fato”, pontua Wilton. Já a presidente da SBN/AL afirma que em Alagoas, não existe carência no tratamento. “Felizmente não apresentamos carência de vagas para este tratamento, como já acontece em vários outros estados do país. Porém temos uma grande carência no que se refere ao tratamento conservador: acompanhamento ambulatorial dos pacientes com doença renal crônica, mas que ainda não necessitam de diálise”. A nefrologista ressalta que poucos serviços públicos oferecem este tratamento na capital e principalmente interior do estado. “O diagnóstico tardio da doença torna o problema mais grave, visto que nos estágios mais avançados (estágios quatro e cinco) há pouca coisa que o nefrologista possa fazer para controlar o avanço da doença. Por isso, é extremamente importante que se faça o diagnóstico precoce. E isto, só é possível se ficar claro que pacientes de risco precisam ter exames para avaliação renal feitos regularmente e no momento que apresentem qualquer alteração, por menor que seja, procurem atendimento com o especialista”. PACIENTES Há 12 anos fazendo tratamento, Leonardo Melo, 21 anos, disse que não tem muito que reclamar em relação ao atendimento, mas ressalta que existe atraso em relação aos medicamentos nas farmácias públicas. “Não tenho muito que reclamar em relação ao tratamento no estado. Vale ressaltar que depende muito dos hospitais. Na Santa Casa, por exemplo, o tratamento é muito bom. Mas, já ouvi relatos de outros pacientes, que em outras unidades existem alguma dificuldade. O maior problema mesmo é na distribuição dos remédios, tem mês que a gente consegue pegar na data certa – em outros meses, vamos buscar e não tem. Isso acaba prejudicando o tratamento que deve ser regular”, conta Melo. Érica Pollyana fez tratamento de hemodiálise 15 anos e cinco meses. Ela disse que á 10 meses fez o transplante, mas na época não teve problemas com falta de medicamentos. Porém, tratamento em um dos hospitais que passou era ruim. “O tratamento no Ortopédico (10 anos por lá) era péssimo, atendimento muito ruim, acompanhamento alimentar ruim. Mas, quando passei a fazer no Sanatório (cinco anos), a estrutura era bem melhor – os médicos fazem um atendimento humanitário, tinha mais atenção e alimentação também era bem melhor”, disse a paciente. Ainda de acordo Pollyana, a hemodiálise depende muito dos hospitais. “Alguns locais são melhores que outros pela estrutura. O que falta mesmo em Alagoas é mais incentivo na doação de órgãos. Eu passei quase 15 anos na fila e não consegui. Vim conseguir a quase 11 meses atrás em São Paulo. Em relação aos medicamentos, há atraso, mas por pouco tempo.”