Saúde

Especialistas da Sesau alertam sobre os riscos de treinos exagerados

Excesso pode causar cansaço, perda de massa muscular, lesões, câimbras e queda no sistema imunológico

Por Assessoria 12/12/2018 13h06
Especialistas da Sesau alertam sobre os riscos de treinos exagerados
Reprodução - Foto: Assessoria

É fato que para conseguir melhorar o desempenho em alguns esportes, muitas pessoas precisam treinar pesado, procurando atingir o máximo de suas capacidades durante a prática esportiva. No entanto, é preciso estar atento para não se exceder nessa dedicação, principalmente aqueles muito ansiosos por resultados rápidos. Isso porque, a sobrecarga de exercícios pode gerar o efeito oposto, fazendo com que os praticantes percam seu desempenho, além de tornar frequente a ocorrência de lesões e outros problemas que caracterizam o quadro de overtraining, alertam especialistas da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau).

A causa, segundo Everton Carnaúba, educador físico Sesau, é uma variedade de efeitos negativos sobre o corpo, incluindo tantos distúrbios fisiológicos, quanto psicológicos. “Isso ocorre quando o praticante da atividade física não consegue absorver a carga de treino, seja por sobrecarga de sua capacidade ou porque o descanso, a alimentação incorreta, com poucos minerais, vitaminas e pouca hidratação, não estão adequados à intensidade do estímulo”, explica.

Entre os principais sintomas do overtraining, estão o cansaço, a insônia, alteração no humor, a perda de apetite e de massa muscular, assim como lesões frequentes e queda no sistema imunológico, o que faz com que o praticante fique suscetível a resfriados e doenças mais graves. “Por isso, o praticante deve estar atento a contusões e fadigas musculares, e verificar se há outros sintomas que possam indicar um quadro de overtraining”, adverte Everton Carnaúba.

Conforme o educador físico da Sesau, apesar do tema ser grave, muita gente ainda acha que ele está restrito aos atletas profissionais. Mas não se engane: o overtraining pode, inclusive, acontecer com qualquer pessoa que esteja em um ritmo forte de treinamento, por períodos prolongados, ou que não respeite o intervalo necessário para o corpo se recuperar. Por esta razão, fazer os treinamentos sob a supervisão de um educador físico graduado é fator primordial e deve ser observado antes de começar os exercícios.

De acordo com Everton Carnaúba, depois que o overtraining é diagnosticado, o tratamento, que pode ser realizado por um terapeuta ou psicólogo, a depender do caso, é longo e, por conta disso, uma pausa de algumas semanas ou meses nos exercícios faz-se necessária. “Esteja atento para os sinais do seu corpo, pois o overtraining não aparece do dia para a noite, uma vez que, várias placas de ‘pare’ vão passar pelo caminho”, esclareceu.

Preço alto – E não é raro encontrar pessoas que já tenham passado pelo problema. Lorena Martins, de 32 anos, iniciou a prática de exercícios físicos em 2010, com o intuito de perder peso. À época, ela pesava 75 quilos, distribuídos em 1 metro e 60 centímetros de altura. Certo dia, já no ano de 2014, uma funcionária que trabalhava na recepção da academia em que ela malhava, a chamou de “gorda celulitosa”, o que a deixou furiosa. Foi aí que ela decidiu entrar para o fisiculturismo, na categoria Biquíni Fitness.

A percentagem de gordura do seu corpo era de 23% e ela precisava enxugar em, praticamente, 12 semanas, para mais ou menos 13%, que é o recomendado pelos atletas que competem no fisiculturismo. Para isso, Lorena precisou largar o jiu-jitsu primeiro e, logo em seguida, o muay thai, que, associado à musculação, deixava o seu treino pesado. Como consequência, começaram a aparecer as primeiras lesões, sobretudo nos joelhos.

“Eu chegava a frequentar a academia três vezes ao dia. De manhã, eu fazia o aeróbico em jejum e, assim que terminava, voltava pra casa, com o intuito de descansar – mas isso não acontecia. À tarde, por volta do meio-dia, eu retornava e partia pra musculação. E, pra deixar o treino completo, redondinho, ainda voltava à noite pra fazer mais uma hora de aeróbico”, contou.

Não demorou muito para que os sinais mais graves começassem a aparecer. Embora acompanhada por um nutricionista esportivo e personal trainer, Lorena exagerava muito nos treinos. “Minhas unhas caíram, cheguei a ter febre e, como não ingeria nada industrializado, consequentemente eu não suplementava. Por esse motivo e outros fatores, eu não conseguia atingir a quantidade de nutrientes necessários só com a alimentação e não aumentava o volume de massa muscular, o que passou a comprometer o meu rendimento no esporte”, disse.

O ponto de partida para dar um basta nessa situação, foi quando ela percebeu que sua vida social também estava ficando comprometida. Lorena sempre gostou de ir à praia, ao cinema e jogar conversa fora com os amigos num barzinho. Todavia, chegou um tempo em que ela não tinha mais disposição para se divertir. Não tinha, inclusive, tempo para se dedicar aos estudos.

As experiências antigas lhe trouxeram muitos ensinamentos para o presente e até mesmo para o futuro. Ela aprendeu que tudo em excesso é ruim, o que acaba levando a erros. “Eu, pelo menos, conheci atletas depressivos que, nas redes sociais, exibiam troféus esbanjando sorrisos; alegres. Mas, ao saírem do palco, estavam infelizes, muito mal por dentro”, afirmou.

Alimentação saudável – Para Laís Torres Bastos, nutricionista da Sesau, a alimentação é fundamental, tanto para a normalidade da vida, quanto para o exercício físico. Isso porque, ao entrar numa academia, ou fazer qualquer tipo de prática esportiva, não necessariamente a musculação, é preciso que o indivíduo faça um acompanhamento com um profissional.

“Além dos exames laboratoriais, o nutricionista vai fazer um recordatório do que o indivíduo consome normalmente durante o dia, bem como, se ele tem alguma doença hereditária na família. Isso tudo vai ajudar o profissional a montar um cardápio saudável, com quantidades adequadas de carboidratos, proteínas e gorduras, de forma que ele alcance seus objetivos, sem desenvolver carência nutricional”, explicou.

Os males dos suplementos – Laís Torres Bastos ressaltou que os suplementos alimentares têm por finalidade apenas complementar a alimentação de indivíduos saudáveis. “O alimento é a matéria prima da qual o indivíduo irá extrair energia e nutrientes. Existem situações nas quais só o alimento não consegue garantir essa oferta. Nesses casos, o suplemento alimentar pode ajudar a suprir o déficit. E vale ressaltar que esses produtos não entram no lugar dos alimentos”, afirmou.

Quando os suplementos são mal administrados, podem oferecer sérios riscos à saúde. Segundo a especialista, há o risco de sobrecarga do metabolismo. Os órgãos mais afetados são o rim, que realiza a filtração do sangue e produz a urina, já esses suplementos podem levar a formação de substâncias tóxicas, como ureia e amônia; e o fígado, que é órgão “laboratório” do corpo, local onde todos os compostos químicos passam, e o excesso desse contato pode inflamá-lo.

Ainda de acordo com a nutricionista, a água é o melhor líquido para a hidratação corporal, mas em situações onde ocorre um grande gasto energético e transpiração excessiva, é necessário repor o nível de sais minerais contidos no suor. “Quando o exercício dura até 90 minutos, a hidratação pode ser feita normalmente com água”, recomenda.