Saúde

Depressão severa pode incapacitar

INSS aponta que em todo país mais de 43 mil trabalhadores saíram temporariamente de suas funções por conta da doença

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 26/09/2018 09h09
Depressão severa pode incapacitar
Reprodução - Foto: Assessoria
A depressão é apontada pela Organização Mundial da Saúde como a doença que mais causa afastamentos no trabalho em todo o mundo. De acordo com o psicólogo Carlos Gonçalves, o afastamento ocorre quando o quadro evolui para níveis “paralisantes”, isto é, o paciente perde a perspectiva de vida. Em todo o país, segundo o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) mais de 43 mil pessoas foram afastadas de suas funções no ano passado devido a quadros depressivos. Segundo o psicólogo, nem sempre a doença é desencadeada por fatores ligados ao trabalho, na verdade, é uma soma deles. “Sempre vai existir o gatilho, aquilo que vai desencadear em mim, o fator biológico, a questão comportamental, por exemplo, sou uma pessoa que não lida com pressão, que não consegue se frustrar, pessoa perfeccionista. Têm várias características que não podem ser descartadas. Mas quando se diz que alguém se afastou da função por depressão, na maioria das vezes não foi totalmente pelo trabalho em si. Tem a questão familiar, relacionamentos, baixa autoestima, baixa capacidade de receber não e frustrações, dependência emocional, enfim... Não posso dizer que não tenha o fator ligado ao trabalho, tem, mas nos casos de afastamento do trabalho ocorre pela maneira como eu lido com a vida, vai depender da minha visão de mundo, de como eu me relaciono com as pessoas”. Quando a situação chega a níveis extremos, o tratamento requer tempo e o afastamento pode durar anos. “Existem vários casos de pessoas que chegaram ao limite e precisam se afastar e passam um ano, dois ou até mais em tratamento. Não é algo de uma hora para a outra. A saída destes quadros é bem mais longa”, destaca o psicólogo. Estimativas da OMS apontam que a doença afeta mais de 13 milhões de brasileiros. Em todo o mundo são cerca de 340 milhões de pessoas. “A depressão é o mal do século colado com o Transtorno do Pânico, cada vez mais temos casos. Onde eu atendo, 80% dos casos são de depressão. A gente chama de depressão severa, que é quando ela me impede de tudo, de levantar de uma cama, trocar de roupa, ver alguém, a pessoa quer se isolar. Existe a depressão leve, quando a pessoa está sofrendo, se arrastando, mas vai, algumas pessoas conseguem observar isso e procurar ajuda. No caso da depressão severa não, a pessoa é totalmente paralisada”, afirma Gonçalves. Comportamento precisa ser observado, diz psicólogo Carlos Gonçalves ressalta que as empresas precisam criar redes de suporte aos funcionários para coibir e assistir funcionários vulneráveis. Além disso, o apoio da família é fundamental para o tratamento. “Cada empresa precisa dar o suporte, fazer o acompanhamento com assistente social, psicólogo. É preciso o acompanhamento da empresa com esse funcionário. Mas principalmente a família. Porque muitas vezes dizem: Isso é besteira, levanta e vai tomar um banho. Olha a vida, o sol, vai se divertir... Achando que esta é a forma de se lidar com uma pessoa que está passando por isso, mas não é. Existem sinais que são dados, pistas, mas as famílias não veem. Elas ignoram ou não percebem o que está havendo. É preciso acompanhar, ver que isso não é frescura, que é algo muito sério e que a pessoa perde o sentido na vida, fica tudo preto e branco”, explica. O tratamento e o suporte é indispensável  para o enfrentamento da doença e evitam que seja desencadeado outro grave problema de saúde pública: o suicídio. Em todo o mundo, a OMS estima que 850 mil pessoas cometeram o suicídio decorrente de depressão severa. “A Organização Mundial da Saúde aponta a depressão como a principal motivação para o suicídio. Quem comete suicídio, nas investigações de casos clínicos, é porque estavam com depressão. Tem uma frase que diz que a pessoa não quer se matar, ela quer tirar a dor que existe de dentro dela, é como um câncer que precisa tirar o tumor e ela acha que morrendo vai aliviar o sofrimento”, alerta Carlos Gonçalves. Campanha Setembro Amarelo orienta população A campanha do Setembro Amarelo visa orientar a população em relação à prevenção do suicídio. Dados do Ministério da Saúde revelam que em Alagoas o número de suicídios no ano passado chegou a 112. Outro ponto que chama a atenção é o número de tentativas por intoxicação exógena 935 casos. A psicóloga clínica Aparecida Oliveira ressalta a importância do apoio familiar. Ao mínimo sinal, como uma mudança repentina de comportamento, isolamento, a família pode e deve amparar o paciente. “A questão do suicídio é realmente assustador. Nós que trabalhamos com saúde mental temos visto muito isso. E o que nos chama a atenção é que tem ocorrido cada vez mais entre as pessoas mais jovens, é como se cada vez mais cedo as pessoas estivessem sendo tomada pelas angústias. É preciso ficar em alerta, se tem alguém do seu convívio, que gosta de sair, comunicativo e de repente começa a se isolar, se calar, ter comportamentos que não tinha antes é um alerta”, esclarece. A orientação nestes casos é procurar auxílio profissional. Segundo o Ministério da Saúde, as Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s) e Centros de Apoio Psicossocial (Caps) devem ser acessadas. “Tem muitas pessoas que fazem a demonstração para chamar a atenção de alguém após uma briga ou algo assim, mas uma pessoa com perfil suicida age em silêncio. Ela não grita para o mundo que quer se matar. Essa pessoa vai se isolando, mudando seu comportamento, vai ficando mais recluso. Essas pessoas quando realmente vêm cometer o ato, elas não estão querendo chamar a atenção, elas estão realmente querendo morrer. É quando a dor emocional é maior que a dor física. O que a gente observa é que as pessoas que tentam o suicídio realmente querem aliviar a dor, a dor emocional é tão grande, é tão forte, que ela acha que a única solução é acabar com tudo. A dor emocional é insuportável, mas não é”, diz a psicóloga. Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, o suicídio é a quarta maior causa de morte dos 15 aos 29 anos. “Por isso o alerta para que se algum familiar tem comportamento suicida, que já tem algum parente na família com depressão, que tem a carga genética, é preciso prestar atenção. Seja criança, adulto ou adolescente. A ajuda da família é primordial, o apoio da família, dos amigos tentando melhorar aquela dor emocional, principalmente para levar essa pessoa para fazer um trabalho psicoterapêutico, para a pessoa se entender melhor, fortalecer esse ego fragilizado. Muitas vezes as pessoas estão fragilizadas, com autoestima muito baixa, sem vontade. Então o trabalho psicoterápico neste caso é de suma importância”, acrescenta a psicóloga.