Saúde

Cientistas eliminam população de mosquito vetor da malária com edição genética

Pesquisadores do Imperial College London realizaram estudo com espécie Anopheles gambiae, publicado na revista 'Nature Biotechnology'

Por AFP 24/09/2018 23h45
Cientistas eliminam população de mosquito vetor da malária com edição genética
Reprodução - Foto: Assessoria
Cientistas disseram nesta segunda-feira (24) que conseguiram pela primeira vez eliminar uma população inteira de mosquitos portadores de malária no laboratório usando uma ferramenta de edição genética para programar sua extinção. A chamada tecnologia de genética dirigida funciona garantindo que uma característica projetada seja passada para uma proporção maior de descendentes – através de muitas gerações – do que teria ocorrido naturalmente. Em experimentos com a espécie Anopheles gambiae, cientistas do Imperial College London ajustaram um gene conhecido como doublesex (que ajuda a determinar o sexo de vários insetos) para que mais fêmeas em cada geração não pudessem mais picar ou se reproduzir. Depois de apenas oito gerações, não houve mais fêmeas e a população entrou em colapso devido à falta de descendentes. "Esse avanço mostra que a genética dirigida pode funcionar, proporcionando esperança na luta contra uma doença que atormenta a humanidade há séculos", disse a principal autora do estudo, Andrea Crisanti, professora do Departamento de Ciências da Vida do Imperial. A malária adoeceu mais de 200 milhões de pessoas e matou quase 450 mil em todo o mundo em 2016. Continua sendo uma das mais mortais doenças infecciosas. Tentativas anteriores dessa mesma equipe e de outras para induzir a extinção de mosquitos geneticamente programada no laboratório encontraram "resistência" na forma de mutações. O próximo passo será testar a tecnologia em um ambiente de laboratório confinado que imita um ambiente tropical, disse Crisanti. "Passarão pelo menos de cinco a dez anos antes de considerarmos testar mosquitos com genética dirigida na natureza", disse em um comunicado. Alguns cientistas e grupos de monitoramento de tecnologia pediram uma moratória nas pesquisas de genética dirigida. "Há riscos ecológicos de manipular e remover populações naturais, como destruir redes alimentares e mudar o comportamento de doenças, bem como os riscos sociais de perturbar a agricultura e permitir novas armas", disse Jim Thomson, do ETC Group, uma ONG que monitora novas tecnologias. A nova pesquisa, publicada na revista "Nature Biotechnology", foi financiada pela Fundação Bill & Melinda Gates, que investiu cerca de US$ 100 milhões no desenvolvimento da tecnologia de genética dirigida com o objetivo de erradicar a malária.